1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana
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<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua preguiça, eles tinham que ir a campo carnear rezes ou trazê-las ao pé das<br />
toldarias; esta carne, geralmente <strong>de</strong> cervos (vea<strong>do</strong>), era mal assada para consumir. A bebida, o<br />
mate enquanto não lhes faltasse erva, como também mascar tabaco <strong>de</strong> fumo, cuja masca a<br />
conservavam entre o lábio superior e os <strong>de</strong>ntes, ou tiran<strong>do</strong> da boca e pon<strong>do</strong>-o atrás da orelha<br />
numa pausa até tornar a mastigá-lo. Poucos eram os que fumavam ou baforavam no cachimbo,<br />
porém quase to<strong>do</strong>s eram achega<strong>do</strong>s à aguar<strong>de</strong>nte e a bebiam entre amigos, até se<br />
embriagarem.<br />
Os Minuanos viviam livres <strong>de</strong> uma forma<br />
própria entre portugueses e espanhóis.<br />
Usavam as bolea<strong>de</strong>iras para caça, tradição<br />
que foi incorporada pelo gaúcho, nas li<strong>de</strong>s<br />
campeiras. Do idioma <strong>de</strong>les, observa<strong>do</strong>res<br />
diziam ser agradável e veloz na linguagem,<br />
muito diferente da <strong>do</strong>s Tapes e bem<br />
semelhante e talvez idêntica a <strong>do</strong>s índios da<br />
América Setentrional, cuja semelhança se<br />
pareciam nas feições. Os minuanos foram um grupo indígena que vivia mais nos campos <strong>do</strong> Rio<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Emprestaram o nome ao vento forte que vem <strong>do</strong> su<strong>do</strong>este, frio e cortante que<br />
sopra em nosso esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois das chuvas <strong>do</strong> inverno. Eram índios <strong>de</strong> origem da patagônia,<br />
assim como os Charruas e os Guenoas, com os quais nunca se sobrepunham no mesmo<br />
território. Em 1730, aliaram-se aos Charruas, originan<strong>do</strong> um mesmo grupo com a mesma<br />
alcunha e na guerra lutaram com os portugueses contra os espanhóis. Hoje ainda existem<br />
tol<strong>do</strong>s minuanos na região <strong>de</strong> Arroio Gran<strong>de</strong>.<br />
A outra tribo, os Charruas, viviam na margem setentrional <strong>do</strong> Prata, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sembocadura <strong>do</strong><br />
rio S. Salva<strong>do</strong>r até o Atlântico, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>- se até umas 30 léguas (198km) em direção ao<br />
interior. Estes índios <strong>de</strong> estatura regular, tronco robusto, membros musculosos e <strong>de</strong> cor quase<br />
negra, tinham a cabeça gran<strong>de</strong>, nariz achata<strong>do</strong>, olhos pequenos e <strong>de</strong> um olhar muito<br />
penetrante, que além <strong>de</strong> abeis cavaleiros, adquirida com a chegada <strong>do</strong>s cavalos; possuíam um<br />
amor instintivo a sua liberda<strong>de</strong> selvagem, a qual, jamais quiseram trocá-la pelo benefício da<br />
civilização apresentada pelos coloniza<strong>do</strong>res.<br />
As tribos não obe<strong>de</strong>ciam a governo <strong>de</strong> espécie alguma e os Charruas se diferençavam <strong>do</strong>s<br />
Minuanos por andarem nus. Tinham os mesmos hábitos alimentares da carne mais crua <strong>do</strong> que<br />
assada. Não professavam religião <strong>de</strong>terminada e eram supersticiosos. Usavam como arma,<br />
massas (espécie <strong>de</strong> porrete), flechas com ponta <strong>de</strong> ossos e bolea<strong>de</strong>iras, as quais as manejavam<br />
com extrema <strong>de</strong>streza. Nas extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversos rios <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> nosso município se<br />
tem encontra<strong>do</strong> muitas armas e outros objetos fabrica<strong>do</strong>s por estes índios, prova irrefutável da<br />
presença <strong>de</strong>les em solo santanense.<br />
<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 7 -