1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana
1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana
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A origem nativa<br />
Inicialmente as terras em que se encontra o município <strong>de</strong><br />
Sant’Ana <strong>do</strong> <strong>Livramento</strong> eram terras <strong>de</strong> ninguém, <strong>de</strong> difícil<br />
acesso e pouco povoadas. Vagavam por elas índios minuanos e<br />
charruas pertencentes ao gran<strong>de</strong> grupo Guaicurú <strong>do</strong> Sul. Eram<br />
semisse<strong>de</strong>ntários e antes da introdução <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> viviam às<br />
margens, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Lagoa Mirim e vertente <strong>do</strong> Rio Negro até o<br />
interior <strong>do</strong> Uruguai. Quan<strong>do</strong> da entrada <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Magalhães, os<br />
índios minuanos aproximaram-se <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> e foram<br />
acomodan<strong>do</strong>-se nas imediações da serra <strong>do</strong> Caverá, <strong>do</strong>minan<strong>do</strong><br />
os campos <strong>de</strong> Jaráu e Quaraí. Conta-se <strong>de</strong>les, pelo Dr. Saldanha:<br />
que quase não tinham narinas e as maçãs <strong>do</strong> rosto eram tão intumescidas como geralmente os<br />
índios o são. Eles eram na sua maior parte corpulentos e bem estrutura<strong>do</strong>s fisicamente, porém,<br />
nas mulheres pre<strong>do</strong>minava a meia estatura com as feições congruentes as <strong>do</strong>s índios<br />
americanos.<br />
Quanto aos costumes, usavam os cabelos soltos e eriça<strong>do</strong>s, os<br />
quais não cresciam muito. As costas eram cobertas com caípis até<br />
o tornozelo, isto é, mantas <strong>de</strong> couro <strong>de</strong>scarna<strong>do</strong>, sova<strong>do</strong> e usadas<br />
com os pêlos para <strong>de</strong>ntro, eram presas com uma tira <strong>de</strong> couro<br />
por cima <strong>do</strong>s ombros e diante <strong>do</strong> pescoço. Originan<strong>do</strong>-se aí o<br />
poncho. Envolviam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cintura até o joelho com volta e<br />
meia <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> algodão, originan<strong>do</strong>-se assim o xiripá. Enfim,<br />
estas eram suas vestes que eles faziam <strong>de</strong> peles <strong>de</strong> vea<strong>do</strong>s ou <strong>de</strong><br />
vitelas sovadas, <strong>de</strong>scarnadas e costuradas umas<br />
as outras. Pintavam-nas pela parte <strong>do</strong> carnal<br />
listas cumpridas e diagonais avermelhadas e<br />
cinzentas, cores estas tiradas <strong>de</strong> terra ocra <strong>de</strong> ferro encontrada nos córregos<br />
<strong>do</strong> rio Cacequí.<br />
Suas casas eram armadas, raras vezes junto a matas e temporariamente sobre<br />
colinas <strong>de</strong>scobertas e confeccionadas com uma palha semelhante a tábuas.<br />
Cobriam-na com alguns couros <strong>de</strong> rezes para tapar apenas três la<strong>do</strong>s e a<br />
cobertura, on<strong>de</strong> apropriadamente usavam as esteiras tecidas para <strong>de</strong>ixar e<br />
escorrer a água das chuvas. A entrada era to<strong>do</strong> um la<strong>do</strong> e suas alcatifas ou<br />
tapetes <strong>de</strong> pedaços <strong>de</strong> couro se estendiam pelo chão. Dentro <strong>de</strong>las não se<br />
acomodavam mais <strong>do</strong> que cin<strong>do</strong> índios, ali se alimentavam e cozinhavam e as<br />
tinham mais limpas que o próprio corpo, que nunca via água, senão quan<strong>do</strong><br />
lhes chovia por cima <strong>do</strong> corpo. Com uma alimentação escassa <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 6 -