1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana
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Da última casa da vila a cumeada, a, portanto a fronteira, a distância é apenas <strong>de</strong> cem<br />
passos. Imediatamente <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> fica uma casa sobre a qual se vê flutuar a ban<strong>de</strong>ira oriental.<br />
Entretemos o nosso ócio com com a coleção da Tribuna <strong>de</strong> Buenos Aires. Está cheia,<br />
principalmente, <strong>de</strong> correspondência <strong>de</strong> Uruguaiana a cerca da chega<strong>do</strong> <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, da<br />
rendição, etc. Digam o que disseram <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, essas correspondências são extremamente<br />
cortezes. Uma das cousas que mais parecem ter impressiona<strong>do</strong> os nossos alia<strong>do</strong>s é a simplicida<strong>de</strong><br />
das maneiras e <strong>do</strong> trajo <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r: esperavam provavelmente ver manto <strong>de</strong> púrpura e <strong>de</strong><br />
arminhos!<br />
Decididamente, a coluna paraguaia da margem direita <strong>do</strong> Paraná era uma invenção,<br />
porque o general Mitre (Dom Emilio) enten<strong>de</strong>u o po<strong>de</strong>r sair <strong>do</strong> Rosário no dia 21 com as tropas <strong>de</strong><br />
seu coman<strong>do</strong> e marchar para Concordia. Continuamos a ignorar o efetivo <strong>de</strong>stas tropas.<br />
Dia 12 <strong>de</strong> outubro – Dia <strong>de</strong> repouso... pelo menos parcial. Visitas às escolas; <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> passeio ao<br />
alto, on<strong>de</strong> está o marco da fronteira. Este marco, como a maior parte <strong>do</strong>s outros foi assente numa<br />
das raras coincidências da fronteira com um pouco culminante <strong>do</strong> terreno. Por quase todas as<br />
mais partes, as colinas, sempre cilíndricas e <strong>de</strong> largos cimos planos, elevam-se irregularmente, ora<br />
<strong>de</strong> um la<strong>do</strong>. Ora <strong>de</strong> outro da linha <strong>de</strong> divisão das águas. No conjunto da paisagem é <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
oriental muito menos aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong> e arboriza<strong>do</strong> que <strong>do</strong> la<strong>do</strong> brasileiro.<br />
No sopé, mesmo <strong>do</strong> cabeço coroa<strong>do</strong> pelo marco há um posto <strong>de</strong> solda<strong>do</strong>s orientais, que<br />
está, portanto, a cem passos da vila e mais alto que ela.<br />
Este traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> fronteira, <strong>de</strong> que resulta <strong>do</strong>minar o território estrangeiro completamente<br />
a vila <strong>de</strong> Sant’Ana é evi<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>svantajoso. Para remediar este inconveniente, pensou-se a<br />
nos em transportar esta parte da fronteira para o curso <strong>do</strong> Cuñapiru no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> vale adjacente.<br />
Em troca <strong>de</strong>sta faixa <strong>de</strong> terreno que nos ce<strong>de</strong>riam os orientais, receberiam eles outra mais<br />
extensa, porém, sem importância estratégica, entre as nascentes <strong>do</strong> Quaraim. Chegou-se a<br />
projetar um trata<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong>: porém sobreveio uma mudança <strong>de</strong> governo em Montevidéu, e<br />
o novo governo recusou-se a concluir o trata<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong>r-se-ia talvez aproveitar a atual aliança<br />
intima para novamente se tratar <strong>de</strong>ste assunto, que po<strong>de</strong>ria combinar-se com a questão da<br />
abertura da Lagoa Mirim a navegação com ban<strong>de</strong>ira oriental, concessão esta que o governo<br />
oriental instantaneamente solicite.<br />
Convém notar aliás, que quase to<strong>do</strong>s os estrangeiros <strong>de</strong>sta zona <strong>do</strong> norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
Oriental, são brasileiros. É este um gran<strong>de</strong> mal, em primeiro lugar porque são braços que o Brasil<br />
per<strong>de</strong>, para irem trabalhar em terra estrangeira; mas sobre tu<strong>do</strong> porque esses brasileiros se<br />
filiam com paixão nos parti<strong>do</strong>s em que anda dividida a Republica Oriental (atualmente no parti<strong>do</strong><br />
Colora<strong>do</strong>) e consegue com seus clamores arrastar o governo brasileiro a intervir nestas<br />
dissensões, como infelizmente se viu o ano passa<strong>do</strong>. Se perguntar<strong>de</strong>s a esses filhos <strong>do</strong> Brasil por<br />
que motivo <strong>de</strong>ixam a paz <strong>de</strong> sua terra natal para virem meter-se num Esta<strong>do</strong> entregue a<br />
contínuas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, respon<strong>de</strong>rão que no Esta<strong>do</strong> Oriental o terreno é mais favorável à criação <strong>de</strong><br />
ga<strong>do</strong>. Nisto não creio: com exceção <strong>de</strong> vales arboriza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> la<strong>do</strong> brasileiro, que não passam <strong>de</strong><br />
fato isola<strong>do</strong>, é idêntico o aspecto <strong>do</strong> solo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s da fronteira. O que atrai esses imigrantes é<br />
o ser tu<strong>do</strong> mais barato <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> lá, por ser o regime aduaneiro <strong>do</strong>s nossos vizinhos menos<br />
<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 106 -