1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana
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fronteira Brasil-Uruguai. Destacou também o contraste entre os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> suas memórias.<br />
Aparício, <strong>de</strong> menor capacida<strong>de</strong> militar, ficou converti<strong>do</strong> em herói <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Blanco. “Para os<br />
uruguaios” – escreveu aquele autor –, “os heróis a cavalo continuaram sen<strong>do</strong> emblemas <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva, parte da paisagem imaginária da política, inclusive muito tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>saparecerem para sempre”. Gumercin<strong>do</strong>, ao contrário, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto e <strong>de</strong> ter o cadáver<br />
vilipendia<strong>do</strong> pelos que o <strong>de</strong>rrotaram, estigmatiza<strong>do</strong> como “bandi<strong>do</strong>”, nunca subiu aos altares<br />
da glória patriótica. O Parti<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ralista, que po<strong>de</strong>ria ter celebra<strong>do</strong> sua memória, concentrouse<br />
no culto a Silveira Martins, em seus ditos e frases <strong>de</strong> efeito.<br />
Em 1893, seguin<strong>do</strong> seu venera<strong>do</strong><br />
irmão Gumercin<strong>do</strong>, marchou para<br />
a Revolução Fe<strong>de</strong>ralista no Rio<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> sul, on<strong>de</strong> ambos se<br />
transformariam nos comandantes<br />
e caudilhos por <strong>de</strong>finição, por<br />
bravura e por inteligência. A<br />
li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>sempenhada por<br />
Aparício no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
guerra foi <strong>de</strong> tal magnitu<strong>de</strong>, que<br />
morto Gumercin<strong>do</strong>, o comitê revolucionário fe<strong>de</strong>ralista <strong>de</strong>cidiu nomeá-lo General: “ aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
os serviços presta<strong>do</strong>s [...] a causa da liberda<strong>de</strong> da pátria brasileira, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a sua<br />
incomparável bravura <strong>de</strong> que <strong>de</strong>u provas em to<strong>do</strong>s os combates li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, [...] aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as<br />
muitas circunstâncias que transcorrem a sua pessoa ao exercer o Coman<strong>do</strong> e aos sentimentos<br />
<strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> que lhe <strong>de</strong>ram brilhante realce a seu valor, [...] a direção da revolução o nomeia<br />
Comandante Chefe <strong>do</strong> Exército Liberta<strong>do</strong>r”. Pouquíssimos homens receberam tal merecimento,<br />
Aparício é o único uruguaio que ganhou o reconhecimento <strong>de</strong> ambas as pátrias com o máximo<br />
coman<strong>do</strong> das milícias cidadãs ganha nos campos <strong>de</strong> batalha.<br />
O macabro fim <strong>de</strong> Gumercin<strong>do</strong><br />
Foi uma cena tenebrosa o que as tropas <strong>do</strong> chefe republicano Firmino <strong>de</strong> Paula cometeram.<br />
Descoberta a sepultura <strong>do</strong> caudilho fe<strong>de</strong>ralista Gumercin<strong>do</strong> Saraiva, no cemitério <strong>do</strong>s<br />
capuchinhos <strong>de</strong> Santo Antônio, <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua morte, ocorrida no Caroví em 10 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 1894 (RGS), or<strong>de</strong>naram sua profanação. Os seus restos mortais, dizem que<br />
amarra<strong>do</strong>s numa estaca ou numa cruz improvisada, foram então expostos no portal <strong>do</strong><br />
cemitério enquanto que os cavalarianos tiveram or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfilar em frente aos <strong>de</strong>spojos já<br />
carcomi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inimigo. Ali estava "o bandi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Gumercin<strong>do</strong>", a quem as forças governistas<br />
perseguiam sem <strong>de</strong>scanso há <strong>de</strong>zessete meses. “A Quem matam chamam bandi<strong>do</strong> A Quem morre<br />
chamam herói" - A. Silva Rillo<br />
<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 129 -