15.07.2013 Views

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Joaquim Xavier Cura<strong>do</strong> nasceu em Meia Ponte, hoje Pirenópolis, numa família<br />

tradicional, órfão <strong>de</strong> pai, partiu ainda a<strong>do</strong>lescente para o Rio <strong>de</strong> Janeiro e assentou praça<br />

no exército como solda<strong>do</strong> nobre em 1764. Com um exemplar histórico militar, em 13 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1808 foi gradua<strong>do</strong> no posto <strong>de</strong> marechal-<strong>de</strong>-campo e <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>pois partiu<br />

para o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, à disposição <strong>de</strong> D. Diogo <strong>de</strong> Sousa, Con<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio Par<strong>do</strong>,<br />

governa<strong>do</strong>r local, que recebera a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> invadir o Uruguay. Formaram-se então duas<br />

colunas invasoras, ambas vitoriosas, e o sucesso lhe ren<strong>de</strong>u promoção ao posto<br />

<strong>de</strong> tenente-general, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1813. Entre os anos <strong>de</strong> 1815 a 1820 participou<br />

da Guerra contra Artigas. Na batalha <strong>de</strong> Catalán, em 1817, foi agracia<strong>do</strong> com a comenda<br />

da Torre e Espada, pelos atos <strong>de</strong> bravura no posto <strong>de</strong> 2º comandante <strong>do</strong> Exército.<br />

O massacre Artiguista no Povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Apareci<strong>do</strong>s<br />

Em 1814 foram inicia<strong>do</strong>s os trabalhos <strong>de</strong> erguimento <strong>de</strong> uma Capela, sob a invocação Nossa<br />

Senhora da Conceição Aparecida. A povoação ia progredin<strong>do</strong>, já contan<strong>do</strong> com cerca <strong>de</strong> 40<br />

casas, quan<strong>do</strong> certo dia uma tragédia se revelou no Povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Apareci<strong>do</strong>s , como era<br />

conheci<strong>do</strong> na época. Era um povoa<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> em terras perigosas, pois os castelhanos sempre<br />

passariam por ali a caminho das Missões. No meio da ventania <strong>do</strong> minuano, no sibilar cortante<br />

daquele vento sulino, abrigavam-se, na sotaina (batina <strong>de</strong> padre), o corpo enregela<strong>do</strong> das<br />

crianças índias. O ga<strong>do</strong>, as mulas, os cavalos eram amigos e sofriam também como eles, pois era<br />

uma nova raça surgin<strong>do</strong> no entremeio <strong>de</strong> uma guerra <strong>de</strong> fronteiras. Por isso, a fé funcionava.<br />

Deus era bem maior e até po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>fendê-los da castelhanada artiguista.<br />

Mas, um dia, eles viram pelos la<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Quaraí, surgir por trás <strong>de</strong> uma coxilha, centenas <strong>de</strong><br />

cavalos, fechava o grupo, o Coronel Verdun, índios e alguns cães horríveis, <strong>de</strong> orelhas caídas e<br />

várias matizes. Chegaram com gran<strong>de</strong> alari<strong>do</strong>, assustan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>rruban<strong>do</strong> e matan<strong>do</strong>. O povo<br />

espavori<strong>do</strong> saiu a va<strong>de</strong>ar pelas terras e arroios, fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s e índios li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelo<br />

Andresito, filho <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> Artigas que, em fúria, vinham arrasan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que fosse obra <strong>de</strong><br />

portugueses.<br />

Conforme o padre José Paim Coelho <strong>de</strong> Souza, então Cura <strong>de</strong> São Borja, naqueles dias <strong>de</strong><br />

guerras e <strong>de</strong> invasões, a única coisa que os guiava era a fé. Fé em Deus, fé no trabalho, fé nos<br />

solda<strong>do</strong>s e, principalmente, fé em Jesus e Nossa Senhora. Nada os faria mudar a direção da vida,<br />

pois as escolhas ficavam apenas entre o Reino <strong>de</strong> Portugal ou o Reino da Espanha. Poucos<br />

sabiam ler e escrever. Apenas era Deus que funcionava. A fé era o sustentáculo da esperança.<br />

Disse o Padre: Era o dia 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1816. Olhava aquilo tu<strong>do</strong> com amargura, para o<br />

pequeno povoa<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s fugiam em <strong>de</strong>sesperada corrida, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> para trás tu<strong>do</strong> o que<br />

haviam construí<strong>do</strong>. “Deus não nos <strong>de</strong>samparou, apenas se ocupava com a acomodação <strong>do</strong><br />

futuro". Ali ficou, naquele <strong>de</strong>zesseis <strong>de</strong> setembro, o nosso coração, enterra<strong>do</strong> nas margens <strong>do</strong><br />

Inhanduí. Nunca mais lá choraríamos nossa terrinha. Fomos fugin<strong>do</strong> pelo campo a fora, sem<br />

saber para aon<strong>de</strong> ir e nem aon<strong>de</strong> chegar. Tu<strong>do</strong> se turvou naquele início <strong>de</strong> primavera tristonha.<br />

<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 56 -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!