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242<br />
Carlos Carvalho, Alberto Carvalho<br />
INTRODUÇÃO<br />
Des<strong>de</strong> há muito que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que os equívocos<br />
terminológicos e conceptuais são questões limitativas<br />
<strong>da</strong> correcta compreensão e análise crítica <strong>do</strong>s<br />
fenómenos. Pensamos mesmo que, se os equívocos e<br />
as incorrecções não forem esclareci<strong>do</strong>s, dificilmente<br />
nos po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r com clareza e, pior <strong>do</strong> que<br />
isso, dificilmente se po<strong>de</strong>rão conceber meto<strong>do</strong>logias<br />
<strong>de</strong> treino <strong>de</strong> efectiva eficácia prática. Os conceitos <strong>de</strong><br />
força explosiva e <strong>de</strong> potência muscular são, sem<br />
dúvi<strong>da</strong>, <strong>do</strong>is exemplos paradigmáticos <strong>da</strong> falta <strong>de</strong><br />
rigor, <strong>de</strong> consistência e <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação entre distintos<br />
tipos <strong>de</strong> força que vulgarmente encontramos na<br />
literatura <strong>da</strong> especiali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Assim, o objectivo <strong>de</strong>ste trabalho é procurar diferenciar<br />
a força explosiva <strong>da</strong> potência muscular. Apesar<br />
<strong>de</strong> ambas serem manifestações <strong>de</strong> força rápi<strong>da</strong>,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> factores bastante diferentes, têm características<br />
distintas e necessitam <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logias e<br />
méto<strong>do</strong>s específicos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no seu treino e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
FORÇA RÁPIDA<br />
Como é sabi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r por força máxima<br />
(Fmax) o valor mais eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> força que o sistema<br />
neuromuscular é capaz <strong>de</strong> produzir, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
<strong>do</strong> factor tempo (15). Logo que a força<br />
é condiciona<strong>da</strong> pelo factor tempo entramos no<br />
“reino” <strong>da</strong> força rápi<strong>da</strong> (Frap). A gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s<br />
activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> não tanto <strong>de</strong> altas<br />
expressões <strong>de</strong> força, mas muito mais <strong>de</strong> que essa<br />
força ou parte <strong>de</strong>la se produza com eleva<strong>da</strong> rapi<strong>de</strong>z.<br />
Isto é ver<strong>da</strong><strong>de</strong> não só nos lançamentos, saltos ou<br />
remates, mas em to<strong>da</strong>s as situações em que é<br />
necessário alterações rápi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> direcção e/ou aceleração,<br />
como acontece na gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s eventos<br />
<strong>de</strong>sportivos (p. ex.: no futebol, an<strong>de</strong>bol, voleibol,<br />
basquetebol, ginástica, etc.).<br />
Se, para além <strong>do</strong> registo <strong>da</strong> força produzi<strong>da</strong>, avaliarmos<br />
também o tempo <strong>do</strong> movimento, observamos<br />
uma correlação negativa entre Fmax e o tempo <strong>de</strong><br />
movimento. Esta correlação aumentará à medi<strong>da</strong><br />
que as cargas se aproximam <strong>do</strong> máximo individual<br />
(15) e, por outro la<strong>do</strong>, se a resistência a vencer for<br />
baixa, a influência <strong>da</strong> Fmax diminui gradualmente e<br />
a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> execução ten<strong>de</strong>rá a assumir maior<br />
pre<strong>do</strong>minância.<br />
Rev Port Cien Desp 6(2) 241–248<br />
Esta relação <strong>de</strong> força tempo (veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>) po<strong>de</strong> ser<br />
expressa através <strong>da</strong> curva força-tempo (C f-t), ou,<br />
então, esta relação que se manifesta entre a força e<br />
veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser representa<strong>da</strong> por uma curva<br />
(hiperbólica) que <strong>de</strong>nominamos por curva forçaveloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(C f-v). Ambas as curvas procuram<br />
expressar esta relação difícil, e aparentemente contraditória,<br />
<strong>de</strong> duas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mecânicas <strong>do</strong>s músculos,<br />
que, a nível <strong>do</strong> rendimento se procura maximizar,<br />
a saber: (1) melhorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
mais força em menos tempo e (2) conseguir<br />
que as estruturas musculares tenham a mais eleva<strong>da</strong><br />
produção <strong>de</strong> força perante um aumento <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> encurtamento muscular.<br />
Como po<strong>de</strong>mos observar na figura 1, qualquer modificação<br />
que se produz na C f-t reflecte-se na C f-v e<br />
vice-versa. As modificações positivas na C f-t (figura<br />
1a) produzem-se quan<strong>do</strong> a curva se <strong>de</strong>sloca para a<br />
esquer<strong>da</strong> e significam que: (i) para produzir a<br />
mesma força se tem menos tempo, ou que (ii) com o<br />
mesmo tempo se alcança mais força. Se os resulta<strong>do</strong>s<br />
são expressos através <strong>da</strong> C f-v as modificações<br />
positivas produzem-se quan<strong>do</strong> a curva se <strong>de</strong>sloca<br />
para a direita e o que se i<strong>de</strong>ntifica é que (i) a mesma<br />
resistência <strong>de</strong>sloca-se em maior veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou que<br />
(ii) à mesma veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sloca-se mais resistência<br />
(figura 1 b).<br />
Figura 1. As alterações produzi<strong>da</strong>s na C f-t<br />
são equivalentes às produzi<strong>da</strong>s na C f-v (1).<br />
No fun<strong>do</strong>, o problema <strong>da</strong> Frap é procurar harmonizar<br />
duas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s motoras que, em valores absolutos,<br />
se manifestam em oposição. Tal como se po<strong>de</strong> constatar<br />
pela análise <strong>da</strong> curva <strong>de</strong> Hill 1 (curva <strong>de</strong> forçaveloci<strong>da</strong><strong>de</strong>),<br />
quanto maior é a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acção<br />
muscular concêntrica, menor terá <strong>de</strong> ser a resistência<br />
a superar (no extremo, será sem carga, resistência =<br />
0), ou quanto maior a resistência a vencer, mais