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222<br />
J. Rodrigo Pauli, Luciana Souza, Gustavo Rogatto, Ricar<strong>do</strong> Gomes, Eliete Luciano<br />
sistematiza<strong>da</strong>, são muitos e estu<strong>do</strong>s recentes enfatizam<br />
a importância <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> exercícios em<br />
longo prazo no tratamento e prevenção <strong>da</strong>s anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
metabólicas comuns <strong>da</strong> síndrome metabólica e<br />
<strong>de</strong> suas complicações (55, 56).<br />
MÚSCULO ESQUELÉTICO E METABOLISMO<br />
O músculo esquelético representa a maior massa <strong>de</strong><br />
teci<strong>do</strong> periférico, sumarizan<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />
40% <strong>da</strong> massa corporal total, e exerce papel primordial<br />
sobre o balanço energético. É responsável por<br />
mais <strong>de</strong> 30% <strong>do</strong> dispêndio <strong>de</strong> energia, e é o teci<strong>do</strong><br />
primário na captação, disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e estoque <strong>de</strong><br />
glicose estimula<strong>da</strong> por insulina. Além disso, o músculo<br />
exerce seu efeito no metabolismo via modulação<br />
<strong>de</strong> lipídios circulantes e <strong>de</strong> seus estoques. O<br />
catabolismo lipídico suprime mais <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong> requerimento<br />
<strong>de</strong> energia para o músculo em repouso. No<br />
entanto, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> maior consumo <strong>de</strong> energia<br />
faz com que o exercício físico estimule a captação <strong>de</strong><br />
glicose, melhore a sensitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> à insulina após o<br />
esforço e promova a oxi<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s graxos <strong>da</strong><br />
circulação, proven<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa maneira ATP para a musculatura<br />
esquelética durante e após a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> contrátil<br />
<strong>do</strong>s músculos (57).<br />
Estas a<strong>da</strong>ptações, além <strong>de</strong> serem fun<strong>da</strong>mentais para<br />
o rendimento <strong>de</strong> um atleta, também são importantes<br />
em pessoas com anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s metabólicas, como<br />
evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> na obesi<strong>da</strong><strong>de</strong>, diabetes <strong>do</strong> tipo 2 e hipertensão<br />
e, em longo prazo, po<strong>de</strong>m diminuir a concentração<br />
<strong>de</strong> glicose sanguínea e melhorar o perfil lipídico,<br />
ten<strong>do</strong> assim, efeito preventivo e retar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas <strong>do</strong>enças.<br />
Nesse contexto, o músculo esquelético é um importante<br />
alvo terapêutico no controle <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença cardiovascular,<br />
uma vez que os efeitos favoráveis sobre o<br />
metabolismo proporciona<strong>do</strong>s pelo exercício físico<br />
aeróbio, que diretamente influenciam os fatores <strong>de</strong><br />
risco <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças cardiovasculares, são primariamente<br />
dirigi<strong>do</strong>s pelo músculo esquelético. Assim, esta<br />
revisão foca os efeitos <strong>do</strong> exercício físico regular sob<br />
os distúrbios metabólicos comumente presentes na<br />
síndrome metabólica, como a intolerância à glicose,<br />
resistência à insulina, obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> central, dislipi<strong>de</strong>mia<br />
e hipertensão, to<strong>do</strong>s bem <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong><br />
risco para <strong>do</strong>enças coronarianas, observa<strong>da</strong>s em<br />
situações <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s.<br />
Rev Port Cien Desp 6(2) 217–228<br />
EXERCÍCIO FÍSICO E RESISTÊNCIA À INSULINA<br />
O transporte <strong>de</strong> glicose para os miócitos é agu<strong>da</strong>mente<br />
regula<strong>do</strong> pela insulina e por fatores semelhantes<br />
à insulina através <strong>da</strong> ativação <strong>de</strong> uma série<br />
<strong>de</strong> proteínas intracelulares (58). Além disso, o transporte<br />
<strong>de</strong> glicose no músculo esquelético é também<br />
estimula<strong>do</strong> por mecanismos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> insulina,<br />
que são ativa<strong>do</strong>s pela contração muscular (59),<br />
hipóxia (60), óxi<strong>do</strong> nítrico (61) e bradicinina (62).<br />
Apesar <strong>de</strong> ain<strong>da</strong> obscuros os caminhos pelos quais<br />
estes fatores estimulam a translocação <strong>de</strong> GLUT-4,<br />
recentes evidências suportam o papel <strong>da</strong> ativação <strong>da</strong><br />
“5-a<strong>de</strong>nosine monophosphate-activated protein kinase”<br />
(AMP kinase), uma enzima ativa<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>créscimo<br />
<strong>de</strong> energia celular (63) e que discutiremos com<br />
mais <strong>de</strong>talhes à frente. Vejamos a seguir os mecanismos<br />
pelos quais o exercício físico promove uma<br />
melhora na sensitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> à insulina.<br />
A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> física regular promove uma melhora na<br />
resposta <strong>do</strong>s eventos pós-receptores <strong>da</strong> insulina, isto<br />
é, na fosforilação <strong>de</strong> proteínas que iniciam as ações<br />
<strong>do</strong> hormônio (64). Associa<strong>do</strong> a isto ocorre o aumento<br />
<strong>da</strong> síntese <strong>de</strong> transporta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> glicose e <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> enzimas liga<strong>da</strong>s ao seu metabolismo. To<strong>do</strong>s<br />
estes fenômenos proporcionam melhorias à tolerância<br />
à glicose (64). Além <strong>do</strong>s efeitos moleculares <strong>do</strong><br />
exercício, o aumento <strong>do</strong> fluxo sanguíneo po<strong>de</strong> acarretar<br />
maior disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> insulina para os teci<strong>do</strong>s<br />
periféricos, contribuin<strong>do</strong> para a melhora metabólica<br />
observa<strong>da</strong> durante o treinamento físico.<br />
Os exercícios físicos, principalmente os resisti<strong>do</strong>s<br />
que proporcionam a manutenção ou o aumento <strong>de</strong><br />
massa magra, po<strong>de</strong>m ser importantes na homeostase<br />
<strong>da</strong> glicose, uma vez que proporcionam um aumento<br />
<strong>do</strong> espaço <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao estoque <strong>de</strong>sta hexose (glicogênio).<br />
Já o aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> fibras <strong>de</strong> contração<br />
lenta (também conheci<strong>da</strong>s como fibras <strong>do</strong> tipo 1<br />
ou fibras vermelhas), em resposta ao treinamento<br />
aeróbio, favorece a oxi<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> glicose.<br />
Além disso, os níveis aumenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fatores semelhantes<br />
à insulina (IGFs) induzi<strong>da</strong> pelos exercícios<br />
também po<strong>de</strong>m atuar no transporte <strong>de</strong> glicose para<br />
os músculos em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> (65), contribuin<strong>do</strong> para o<br />
aumento <strong>da</strong> captação <strong>de</strong> glicose.<br />
Portanto, está bem estabeleci<strong>do</strong> que o exercício físico<br />
(agu<strong>do</strong> e crônico) melhora a captação <strong>de</strong> glicose<br />
estimula<strong>da</strong> pela insulina, tanto em humanos quanto