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mentavam baixas expectativas. Apesar <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong><br />

contribuir para o estabelecimento <strong>de</strong> um ambiente<br />

altamente classificatório, foi evi<strong>de</strong>nte que os professores<br />

procuraram estabelecer um clima positivo,<br />

transmitin<strong>do</strong> confiança aos alunos durante as aulas.<br />

Em geral, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

os alunos receberam muitos elogios. Os professores<br />

incentivaram mais os alunos que <strong>de</strong>monstravam<br />

maiores dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ten<strong>do</strong> mesmo, em algumas<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, valoriza<strong>do</strong> mais o esforço que propriamente<br />

o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho. Outra atitu<strong>de</strong><br />

manifesta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> valorizar o<br />

envolvimento <strong>do</strong> aluno nas tarefas, foi <strong>de</strong>stacar para a<br />

turma os movimentos correctos que alguns alunos<br />

‘menos habili<strong>do</strong>sos’ realizavam. O critério <strong>de</strong> êxito<br />

foi flexibiliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a transparecer para os alunos<br />

‘menos habili<strong>do</strong>sos’ o alcance <strong>do</strong>s objectivos propostos.<br />

Ao baixar o nível <strong>de</strong> exigência, as tarefas<br />

eram pouco atractivas para os alunos ‘mais habili<strong>do</strong>sos’,<br />

os quais reagiam com sarcasmo e <strong>de</strong>sinteresse<br />

face à ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> critério <strong>de</strong> êxito ao seu nível<br />

<strong>de</strong> competência. Em resposta, apesar <strong>de</strong> algumas<br />

vezes criticarem tal atitu<strong>de</strong>, os professores privilegiaram<br />

o estabelecimento <strong>de</strong> interacções positivas com<br />

estes alunos, relevan<strong>do</strong> a sua competência na realização<br />

<strong>da</strong>s tarefas através <strong>de</strong> incentivos e fornecimento<br />

<strong>de</strong> pistas visan<strong>do</strong> o progresso <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

A análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s permite a interpretação sob<br />

duas perspectivas. A primeira, relativa aos efeitos <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho e <strong>da</strong> comparação social sobre a competência<br />

percebi<strong>da</strong> pelos alunos, reflectin<strong>do</strong> no recurso<br />

ao parâmetro normo-social para ajuizar o próprio<br />

<strong>de</strong>sempenho em relação aos companheiros <strong>de</strong> classe.<br />

Coerente com a teoria, as impressões reti<strong>da</strong>s pelos<br />

professores os induzem a produzir contextos <strong>de</strong><br />

ensino e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem compatíveis<br />

com o que esperam <strong>do</strong>s alunos. Como afirma<br />

Palardy (18), a proposição <strong>de</strong> uma profecia é, também,<br />

um acto <strong>de</strong> criação <strong>da</strong>s condições para que ela<br />

se realize.<br />

Neste estu<strong>do</strong>, quase meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s alunos manifestaram<br />

percepções congruentes com as expectativas <strong>do</strong>s<br />

professores. Este resulta<strong>do</strong> é similar ao obti<strong>do</strong> no<br />

estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bibik (2), no qual a auto-percepção <strong>de</strong><br />

50% <strong>do</strong>s alunos correspon<strong>de</strong>u às expectativas <strong>do</strong><br />

professor. A correspondência entre as percepções<br />

<strong>do</strong>s alunos, as expectativas <strong>do</strong>s professores e a rela-<br />

Autopercepção <strong>do</strong> aluno em Educação Física<br />

ção <strong>de</strong> ambas com o <strong>de</strong>sempenho realiza<strong>do</strong> pelo<br />

aluno sugere uma dinâmica similar ao mo<strong>de</strong>lo referi<strong>do</strong><br />

por Martinek (13), ao abor<strong>da</strong>r o efeito pigmalião<br />

no ensino em educação física.<br />

O clima, o feedback, as informações e suporte forneci<strong>do</strong><br />

aos alunos aparecem como elementos que irradiam<br />

as expectativas <strong>do</strong>s professores aos alunos (24,<br />

13). Neste estu<strong>do</strong>, os factores que po<strong>de</strong>m ter contribuí<strong>do</strong><br />

para a manutenção <strong>de</strong> percepções congruentes<br />

pelos alunos <strong>de</strong> alta competência percebi<strong>da</strong> foram o<br />

clima estabeleci<strong>do</strong> pelos professores e o suporte a<br />

eles forneci<strong>do</strong>, mesmo que informal. Os alunos congruentes<br />

<strong>de</strong> baixa competência percebi<strong>da</strong>, apesar <strong>de</strong><br />

incentiva<strong>do</strong>s perante a turma, receberam feedback<br />

público sobre a sua prestação, facto que po<strong>de</strong> ter contribuí<strong>do</strong><br />

para perceberem o comportamento <strong>do</strong> professor<br />

como forma <strong>de</strong> incentivo à prática mas, face à<br />

exteriorização <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>ficiências e à assumpção <strong>de</strong><br />

critérios normo-sociais no juízo sobre a própria performance,<br />

quer em termos <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> gesto técnico<br />

quer em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho quantitativo<br />

(altura salta<strong>da</strong>), também po<strong>de</strong>rá ter contribuí<strong>do</strong> para<br />

a pon<strong>de</strong>ração sobre as capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais.<br />

Em geral, os professores justificaram a estratégia <strong>de</strong><br />

acção como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> manter indistintamente to<strong>do</strong>s<br />

os alunos motiva<strong>do</strong>s. Entretanto, outros estu<strong>do</strong>s<br />

(12, 19, 15) indicam que os alunos nem sempre<br />

interpretam as ocorrências <strong>de</strong> ensino consoante as<br />

intenções <strong>do</strong>s professores ou <strong>da</strong> mesma forma entre<br />

si. A frequência e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s interacções, suporte,<br />

felicitações, concessão <strong>de</strong> privilégios e severi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>s avaliações são interpreta<strong>da</strong>s pelos alunos como<br />

fontes <strong>de</strong> alta e baixa expectativa projecta<strong>da</strong>s pelos<br />

professores (7).<br />

Outro resulta<strong>do</strong> relevante a <strong>de</strong>stacar diz respeito aos<br />

alunos que relataram percepção <strong>de</strong> competência dissonante<br />

com o próprio <strong>de</strong>sempenho, i.e., alunos <strong>de</strong><br />

baixa competência percebi<strong>da</strong>. Apesar <strong>de</strong> realizarem<br />

rendimentos na média <strong>da</strong> turma ou mesmo acima <strong>da</strong><br />

média, mantiveram tal percepção. Por outro la<strong>do</strong>, os<br />

alunos <strong>de</strong> alta competência percebi<strong>da</strong> mantiveram<br />

alta a sua percepção, apesar <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho em<br />

níveis inferiores. Portanto, uma parcela consi<strong>de</strong>rável<br />

<strong>do</strong>s alunos manifestou percepções mais congruentes<br />

com as expectativas <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> que com os<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>sempenho. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que, a<br />

<strong>de</strong>speito <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho, as expectativas <strong>do</strong>centes e<br />

Rev Port Cien Desp 6(2) 194–204 201

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