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218<br />

J. Rodrigo Pauli, Luciana Souza, Gustavo Rogatto, Ricar<strong>do</strong> Gomes, Eliete Luciano<br />

INTRODUÇÃO<br />

O uso <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s (GCs) ocorre com freqüência<br />

na população, sen<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>s drogas mais prescritas<br />

e utiliza<strong>da</strong>s em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em várias condições<br />

clínicas (1). Constituem indicação absoluta e<br />

permanente nos pacientes com insuficiência adrenal,<br />

quan<strong>do</strong> utilizam <strong>do</strong>ses <strong>de</strong> reposição para restabelecer<br />

a homeostase <strong>do</strong> organismo. Na maioria <strong>do</strong>s<br />

casos, eles são usa<strong>do</strong>s em crise <strong>de</strong> asma brônquica,<br />

como antiflamatórios, sen<strong>do</strong> necessárias <strong>do</strong>ses<br />

suprafisiológicas, o que promove o aparecimento <strong>de</strong><br />

muitos efeitos adversos como, por exemplo, atrofia<br />

muscular, osteoporose, supressão <strong>do</strong> sistema imunológico<br />

e funcional <strong>do</strong> eixo hipotálamo-hipófise-adrenais<br />

(2, 3, 4).<br />

O excesso <strong>de</strong> GCs tem si<strong>do</strong> também associa<strong>do</strong> com<br />

a síndrome metabólica. Na síndrome <strong>de</strong> Cushing, o<br />

aumento na secreção <strong>de</strong> GCs <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um a<strong>de</strong>noma<br />

pituitário conduz a obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> central, hipertensão,<br />

hiperlipi<strong>de</strong>mia e intolerância à glicose, um grupo <strong>de</strong><br />

anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s com a síndrome metabólica<br />

(5). Além disso, a administração clínica <strong>de</strong>stes<br />

esterói<strong>de</strong>s no tratamento crônico e agu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>enças inflamatórias tem si<strong>do</strong> associa<strong>da</strong> com efeitos<br />

metabólicos adversos, tais como pressão sistólica<br />

eleva<strong>da</strong>, níveis aumenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> lipí<strong>de</strong>os circulantes<br />

e resistência à insulina, como observa<strong>do</strong> na síndrome<br />

metabólica (6).<br />

Na tentativa <strong>de</strong> minimizar estes efeitos colaterais realizam-se<br />

terapias locais, intervalos na utilização <strong>da</strong><br />

droga, suplementação com cálcio, vitamina D3, administram-se<br />

hormônio <strong>do</strong> crescimento e estrogênio em<br />

humanos (3) e, recentemente, tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> oligonucleotí<strong>de</strong>o<br />

antisense para o receptor <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong><br />

(GR) em animais (7), entre outras. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>s com mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> treinamento físico, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> prevenção <strong>da</strong> resistência à insulina, bem<br />

como <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns metabólicas, ou ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong> redução<br />

<strong>do</strong>s possíveis efeitos catabólicos resultantes <strong>da</strong><br />

administração <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong> são raros na literatura.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o objetivo <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong> foi<br />

realizar uma revisão bibliográfica para investigar a<br />

ação <strong>do</strong>s glicocorticói<strong>de</strong>s sobre o metabolismo e a<br />

sua relação com a síndrome metabólica e, ain<strong>da</strong>, verificar<br />

a maneira pela qual o exercício físico po<strong>de</strong> atuar<br />

na prevenção e tratamento <strong>da</strong>s anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s<br />

ao uso <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>.<br />

Rev Port Cien Desp 6(2) 217–228<br />

ASSOCIAÇÃO CLÍNICA ENTRE GLICOCORTICÓIDES<br />

E SÍNDROME METABÓLICA<br />

O conceito <strong>de</strong> síndrome metabólica tem existi<strong>do</strong> há<br />

pelo menos 80 anos (8). No entanto, nas últimas<br />

duas déca<strong>da</strong>s, o aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> pessoas com<br />

síndrome metabólica, distribuí<strong>da</strong>s pelo mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>,<br />

tem ocupa<strong>do</strong> espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no cenário científico.<br />

Este aumento está associa<strong>do</strong> com a epi<strong>de</strong>mia global<br />

<strong>de</strong> obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> e diabetes, e com eleva<strong>do</strong> risco <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>enças cardiovasculares associa<strong>da</strong>s à síndrome<br />

metabólica (9).<br />

A síndrome metabólica é também conheci<strong>da</strong> como<br />

síndrome X, síndrome <strong>da</strong> resistência à insulina,<br />

quarteto letal e síndrome plurimetabólica (10).<br />

Apesar <strong>da</strong>s diferentes <strong>de</strong>finições e critérios para classificá-la,<br />

entre os distúrbios metabólicos comumente<br />

presentes estão a intolerância à glicose, resistência à<br />

insulina, obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> central, dislipi<strong>de</strong>mia e hipertensão,<br />

to<strong>do</strong>s bem <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> risco para<br />

<strong>do</strong>enças coronarianas (10).<br />

Evidências clínicas têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> associação<br />

entre o metabolismo anormal <strong>de</strong> GC e a síndrome<br />

metabólica. Os níveis <strong>de</strong> cortisol plasmáticos aumenta<strong>do</strong>s,<br />

encontra<strong>do</strong>s com o envelhecimento, estão<br />

relaciona<strong>do</strong>s com uma ou mais características <strong>da</strong> síndrome<br />

metabólica (11). Verificou-se que, tanto a<br />

razão <strong>da</strong> secreção, como as liberações periféricas <strong>de</strong><br />

cortisol nesses pacientes foram positivamente correlaciona<strong>da</strong>s<br />

com a pressão sanguínea sistólica, glicose<br />

e insulina <strong>de</strong> jejum. Outros estu<strong>do</strong>s também reportaram<br />

correlação entre o aumento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

GCs e a redução <strong>da</strong> sensitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> periférica à insulina,<br />

níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> glicose plasmática e hipertensão<br />

(12, 13, 14).<br />

O padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> gordura central <strong>da</strong> síndrome<br />

metabólica assemelha-se muito ao que ocorre na<br />

síndrome <strong>de</strong> Cushing, ou em indivíduos que foram<br />

administra<strong>do</strong>s com glicocorticói<strong>de</strong> sintéticos, que<br />

apresentam ain<strong>da</strong> hipertensão arterial e intolerância<br />

à glicose. Evidências recentes não <strong>de</strong>ixam dúvi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

que há um novo e importante mecanismo envolvi<strong>do</strong><br />

no controle <strong>da</strong> ação <strong>do</strong>s glicocorticói<strong>de</strong>s, media<strong>da</strong><br />

principalmente pela regulação pré-receptor exerci<strong>da</strong><br />

pela 11-beta-hidroxiesterói<strong>de</strong>-<strong>de</strong>sidrogenase<br />

(11βHSD) (7, 15).<br />

Foi <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que animais transgênicos <strong>de</strong>ficientes<br />

<strong>da</strong> 11-β-HSD1 apresentam perfil metabólico favo-

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