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A<strong>de</strong>lino Silva, Vanessa Santhiago, Cláudio Gobatto<br />

INTRODUÇÃO<br />

No <strong>de</strong>sporto <strong>de</strong> alto nível o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um<br />

programa <strong>de</strong> treinamento físico tem como principal<br />

objetivo a maximização <strong>da</strong> performance. Contu<strong>do</strong>,<br />

para que ocorram a<strong>da</strong>ptações fisiológicas e neurológicas<br />

positivas nos músculos e em outros teci<strong>do</strong>s é<br />

necessário que o treinamento apresente uma periodização<br />

que permita um equilíbrio entre a distribuição<br />

<strong>da</strong>s cargas <strong>de</strong> treino e a recuperação <strong>do</strong> atleta.<br />

Durante e logo após uma sessão <strong>de</strong> treinamento<br />

ocorre uma fase catabólica, com diminuição <strong>da</strong> tolerância<br />

ao esforço, caracteriza<strong>da</strong> por mu<strong>da</strong>nças reversíveis<br />

<strong>de</strong> parâmetros bioquímicos, hormonais e imunológicos.<br />

Durante a recuperação, ocorre uma fase<br />

anabólica caracteriza<strong>da</strong> por alta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptativa<br />

e aumento <strong>da</strong>s reservas energéticas, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><br />

supercompensação [3].<br />

Em situações em que a periodização <strong>do</strong> treinamento<br />

não ocorre ou é mal planeja<strong>da</strong> resultan<strong>do</strong> em treinamento<br />

excessivo, os atletas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver um<br />

fenômeno <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> overtraining (OT) ou sobretreino.<br />

Embora muitos atletas e técnicos <strong>de</strong>sportivos <strong>de</strong>sconheçam<br />

este problema, alguns estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstraram<br />

que o OT afeta aproxima<strong>da</strong>mente 60% <strong>de</strong> corre<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> fun<strong>do</strong> e meio fun<strong>do</strong> durante a carreira atlética<br />

[62], além <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> joga<strong>do</strong>res profissionais <strong>de</strong><br />

futebol durante uma tempora<strong>da</strong> competitiva <strong>de</strong> 5<br />

meses [52] e 33% <strong>de</strong> joga<strong>do</strong>res profissionais <strong>de</strong> basquete<br />

durante um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong> 6<br />

semanas [87].<br />

Dessa maneira este trabalho é <strong>de</strong> suma importância,<br />

pois através <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> literatura aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

visa apresentar fatores inerentes ao OT, para que<br />

a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica alargue o conhecimento<br />

sobre este problema <strong>do</strong> treinamento e auxilie os profissionais<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>sporto e atletas a evitá-la.<br />

OVERTRAINING<br />

O OT po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como um distúrbio neuroendócrino,<br />

que ocorre no eixo hipotálamo-hipófise,<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio entre a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>do</strong> exercício<br />

e a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta <strong>do</strong> organismo [3].<br />

Diferença entre overtraining e overreaching<br />

No âmbito científico e prático é importante que<br />

esteja clara a distinção entre overtraining e overrea-<br />

Rev Port Cien Desp 6(2) 229–238<br />

ching (OR) para que tanto os pesquisa<strong>do</strong>res, quanto<br />

os treina<strong>do</strong>res e fisiologistas, possam i<strong>de</strong>ntificar os<br />

sintomas em seus atletas e tomar as providências<br />

necessárias. De acor<strong>do</strong> com Lehmann, Foster e Keul<br />

[48], o OR ocorre após vários dias <strong>de</strong> treinamento<br />

intenso e está associa<strong>do</strong> à fadiga muscular ou periférica,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como uma fase pré-overtraining<br />

[44]. A recuperação <strong>do</strong> atleta ocorre após<br />

alguns dias <strong>de</strong> afastamento <strong>do</strong>s treinamentos ou<br />

diminuição <strong>da</strong>s cargas <strong>de</strong> treino.<br />

Já o OT tem maior relação com a fadiga central e a<br />

recuperação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar semanas ou meses. O<br />

atleta que se encontra em OT, normalmente, apresenta<br />

redução <strong>de</strong> performance acompanha<strong>da</strong> por<br />

alterações fisiológicas, psicológicas e bioquímicas.<br />

Formas <strong>de</strong> overtraining<br />

Segun<strong>do</strong> Israel [36], o OT po<strong>de</strong> ser classifica<strong>do</strong> em<br />

duas categorias: a parassimpática e a simpática. A<br />

forma simpática ou clássica <strong>do</strong> OT é caracteriza<strong>da</strong><br />

pelo aumento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> sistema nervoso simpático<br />

em repouso. O sistema nervoso simpático<br />

provoca alterações básicas <strong>da</strong>s funções <strong>do</strong> organismo,<br />

facilitan<strong>do</strong> a resposta motora ao estresse agu<strong>do</strong><br />

ou à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> física. Ocorre com maior freqüência<br />

em equipes que utilizam pre<strong>do</strong>minantemente o<br />

metabolismo anaeróbio alático e lático para suprir as<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s musculares, além <strong>de</strong> ser influencia<strong>da</strong> pelo<br />

esta<strong>do</strong> emocional <strong>do</strong> atleta que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas<br />

<strong>de</strong> fatores estressantes relaciona<strong>do</strong>s à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

mas também aos fatores extra-treinamento.<br />

Já a forma parassimpática <strong>do</strong> OT é caracteriza<strong>da</strong> pela<br />

pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> tônus parassimpático no repouso,<br />

assim como durante o exercício, e é observa<strong>da</strong> com<br />

maior freqüência em atletas <strong>de</strong> endurance [3].<br />

Mo<strong>de</strong>los para estu<strong>da</strong>r o overtraining e overreaching<br />

De acor<strong>do</strong> com Mackinnon [56], <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los gerais<br />

são utiliza<strong>do</strong>s para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> OT. No primeiro, os<br />

atletas são avalia<strong>do</strong>s durante a tempora<strong>da</strong> competitiva<br />

e as respostas fisiológicas e psicológicas são compara<strong>da</strong>s<br />

para ca<strong>da</strong> atleta entre perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alta e<br />

baixa intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> treinamento, ou entre atletas<br />

que <strong>de</strong>monstraram sintomas <strong>de</strong> OT e os que não<br />

apresentaram tais sintomas. A vantagem <strong>de</strong>ste méto<strong>do</strong><br />

é que os atletas são avalia<strong>do</strong>s no seu ambiente<br />

natural, sem a manipulação <strong>do</strong> regime normal <strong>de</strong>

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