28.08.2013 Views

download PDF - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

download PDF - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

download PDF - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

208<br />

Janice Mazo, Adroal<strong>do</strong> Gaya<br />

PERMANÊNCIA DOS DIRIGENTES NOS CARGOS<br />

ADMINISTRATIVOS<br />

A permanência <strong>do</strong>s dirigentes e funcionários teutobrasileiros<br />

por longo tempo nos cargos foi evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong><br />

em várias associações. O cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />

Turnerbund foi ocupa<strong>do</strong> durante 30 anos por Jacob<br />

Aloys Frie<strong>de</strong>richs. Em algumas gestões revezou com<br />

outros dirigentes a presidência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, mesmo<br />

assim, continuou exercen<strong>do</strong> influência através <strong>de</strong><br />

suas idéias em busca <strong>da</strong> maior eugenia <strong>da</strong> raça brasileira.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s vários anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação aos<br />

i<strong>de</strong>ais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, Aloys Frie<strong>de</strong>richs recebeu o título<br />

<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte honorário em 1/12/1923 (9).<br />

Outros cargos, especialmente <strong>de</strong> vice-presi<strong>de</strong>nte e<br />

tesoureiro <strong>do</strong> Turnerbund, foram ocupa<strong>do</strong>s durante<br />

anos por teuto-brasileiros bem sucedi<strong>do</strong>s no comércio<br />

e indústria porto-alegrense. Quanto aos instrutores<br />

e funcionários, um exemplo foi a permanência <strong>do</strong><br />

mestre <strong>de</strong> ginástica Georg Black Sen durante 32 anos<br />

na Turnerbund (9). Do mesmo mo<strong>do</strong>, o instrutor John<br />

Poist administrou o Basenho e ministrou aulas <strong>de</strong><br />

natação para os associa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Turnerbund durante <strong>de</strong>z<br />

anos. Também foi longa a permanência <strong>do</strong> diretor <strong>do</strong><br />

Campo Desportivo São João <strong>da</strong> Turnerbund, que<br />

<strong>de</strong>sempenhou a função durante 30 anos.<br />

Ingresso nas associações <strong>de</strong>sportivas<br />

As exigências estabeleci<strong>da</strong>s para o ingresso nas associações<br />

teuto-brasileiras eram influencia<strong>da</strong>s pelos<br />

critérios <strong>de</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> alemã (35). Para associarse<br />

era necessário ser imigrante alemão ou teuto-brasileiro<br />

e pertencer à elite teuto-brasileira. As associações<br />

<strong>de</strong>sportivas eram reconheci<strong>da</strong>s enquanto espaços<br />

<strong>da</strong> elite, cuja finali<strong>da</strong><strong>de</strong> era tornar visível o lastro<br />

econômico, social e político <strong>do</strong> grupo, além <strong>da</strong><br />

matriz cultural. O entrevista<strong>do</strong> “E” referiu que freqüentava<br />

uma associação <strong>de</strong> remo, na qual a maioria<br />

<strong>do</strong>s sócios era teuto-brasileira. Já o entrevista<strong>do</strong> “G”,<br />

que participava <strong>de</strong>sta mesma associação, procurou<br />

negar esta evidência dizen<strong>do</strong>: “não, não tinha tantos<br />

alemães assim. Já tinha mais brasileiros, bastante<br />

brasileiros”. Porém, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> relato comentou<br />

que os atletas <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s <strong>da</strong> associação <strong>de</strong> remo<br />

“eram alemães ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes que vieram <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res<br />

e ficaram to<strong>do</strong>s lá, com sobrenome alemão”.<br />

Ao mesmo tempo em que confirmam a presença<br />

maciça <strong>de</strong> teuto-brasileiros, as falas excluem a con-<br />

Rev Port Cien Desp 6(2) 205–213<br />

tribuição <strong>da</strong>queles i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como brasileiros,<br />

conforme ilustra o <strong>de</strong>poimento <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> “B”:<br />

“não era <strong>do</strong> brasileiro o esporte, a não ser o futebol,<br />

que é outra conversa, mas, o brasileiro, o brasileiro<br />

(alterou a entonação <strong>da</strong> voz), ele não tinha interesse<br />

em freqüentar o clube porque ele não <strong>da</strong>va valor ao<br />

esporte”. Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> sobre quem eram os<br />

brasileiros ele esclareceu como sen<strong>do</strong> os portugueses<br />

e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Declarou que os jovens <strong>da</strong> elite<br />

luso-brasileira circulavam “nos hipódromos para<br />

assistir as provas <strong>de</strong> turfe, no entanto eram poucos<br />

que praticavam”. Os teuto-brasileiros produziram<br />

uma i<strong>de</strong>ntificação com as práticas <strong>de</strong>sportivas, como<br />

po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> no <strong>de</strong>poimento <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong><br />

“B”: “nos <strong>de</strong>sportos pre<strong>do</strong>minava a influência <strong>do</strong><br />

estrangeiro e não <strong>do</strong> francês, esse não tinha expressão;<br />

americano quase que nenhuma, então isso, foi o<br />

início”. O termo “estrangeiro” é emprega<strong>do</strong> pelo<br />

entrevista<strong>do</strong> para i<strong>de</strong>ntificar os teuto-brasileiros em<br />

relação aos “nacionais”, provavelmente os portugueses<br />

e <strong>de</strong>mais grupos culturais. Este <strong>de</strong>poimento<br />

remete para a relação <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> na construção <strong>da</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois pressupõe “os <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro”, os nacionais<br />

e “os <strong>de</strong> fora”, os estrangeiros.<br />

Pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> idioma alemão nas associações<br />

O alemão era o idioma oficial na re<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s estatutos,<br />

<strong>da</strong>s atas e <strong>de</strong>mais <strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong>s associações<br />

teuto-brasileiras (17, 26). As atas <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />

Turnerbund e <strong>do</strong> Ru<strong>de</strong>r Club foram redigi<strong>da</strong>s em alemão<br />

(21), assim como a ata <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> Grêmio<br />

Náutico União: “o União é um clube que foi cria<strong>do</strong><br />

por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> alemão e que até as atas eram<br />

feitas em alemão. Mas que isto não era exclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> União, era geral.” (entrevista<strong>do</strong> “A”). O idioma<br />

também era emprega<strong>do</strong> pelos instrutores nas aulas<br />

<strong>de</strong> ginástica e no treinamento <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sportos, além<br />

<strong>de</strong> ser fala<strong>do</strong> no cotidiano <strong>da</strong>s associações pelos<br />

sócios, conforme mostram os <strong>de</strong>poimentos. O entrevista<strong>do</strong><br />

“A” comentou que na SOGIPA “se falava<br />

muito mais o alemão <strong>do</strong> que o português”, pois<br />

havia um vínculo cultural <strong>de</strong>sta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com “os<br />

alemães <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção e até hoje mantém alguma<br />

coisa”. Damo (8, p. 46) afirmou que as associações<br />

cultuavam, “além <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong>sportivas, certos<br />

traços i<strong>de</strong>ntitários entre os quais a língua <strong>de</strong> origem<br />

<strong>de</strong> seus sócios-fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res”. Até mesmo nas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!