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vais contavam com a participação <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />
1.000 atletas prestigia<strong>do</strong>s pelo público com<br />
cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil pessoas. O entrevista<strong>do</strong> “D” lembrou<br />
<strong>do</strong>s festivais: “eram realiza<strong>do</strong>s nos campos <strong>de</strong><br />
futebol que ficava mina<strong>do</strong> <strong>de</strong> gente, era <strong>de</strong>sfile,<br />
então praticavam tu<strong>do</strong> que era tipo <strong>de</strong> esporte”. Na<br />
mesma perspectiva <strong>do</strong>s festivais <strong>de</strong> ginástica, mas<br />
reunin<strong>do</strong> um grupo menor <strong>de</strong> participantes, era realiza<strong>da</strong><br />
a Schützenfest (Festa <strong>do</strong>s Atira<strong>do</strong>res) pelas<br />
Schützenhalte (Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atira<strong>do</strong>res), que promoviam<br />
durante um dia o encontro <strong>do</strong>s seus associa<strong>do</strong>s<br />
para a disputa <strong>de</strong> provas <strong>de</strong> tiro, <strong>de</strong> <strong>da</strong>nças, entre<br />
outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais. As Festas <strong>do</strong>s Atira<strong>do</strong>res e<br />
<strong>do</strong>s ginastas eram comemorações anuais previstas<br />
nos estatutos <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s teuto-brasileiras.<br />
Outras competições <strong>de</strong>sportivas <strong>da</strong>vam maior visibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
aos teuto-brasileiros diante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
porto-alegrense. Em 03/06/1894, o Comitê <strong>de</strong><br />
Regatas realizou a primeira regata oficial, totalizan<strong>do</strong><br />
um percurso <strong>de</strong> 1.800 metros, que foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
uma “gran<strong>de</strong> novi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o povo pôrto-alegrense”<br />
(17, p. 157). Alguns anos <strong>de</strong>pois, em 1897, a Liga <strong>de</strong><br />
Natação, também promoveu a primeira competição<br />
<strong>de</strong> natação em longa distância. Neste mesmo ano, a<br />
Rodforvier Verein Blitz (Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Ciclística Blitz) realizou<br />
sua primeira corri<strong>da</strong> ciclística nas ruas <strong>de</strong> <strong>Porto</strong><br />
Alegre, pois ain<strong>da</strong> não tinha velódromo (22). Em<br />
1898, após a conclusão <strong>do</strong> velódromo, a Blitz promoveu<br />
a primeira corri<strong>da</strong> ciclística em pista oficial em<br />
<strong>Porto</strong> Alegre. Provavelmente foi esta competição que<br />
estimulou a fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> uma nova associação <strong>de</strong><br />
ciclistas, constituí<strong>da</strong> em sua maioria por teuto-brasileiros,<br />
chama<strong>da</strong> União Velocipédica, em 1899 (20).<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
As associações <strong>de</strong>sportivas, com base na pesquisa<br />
<strong>do</strong>cumental e nos <strong>de</strong>poimentos orais, se constituíram<br />
enquanto espaço <strong>de</strong> representação <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
cultural <strong>do</strong>s teuto-brasileiros em <strong>Porto</strong> Alegre na<br />
segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX. Foi possível constatar<br />
que os teuto-brasileiros fun<strong>da</strong>ram suas associações,<br />
não apenas para a prática <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas,<br />
mas também, para configurar mais um espaço<br />
<strong>de</strong> expressão <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong> pertencimento ao<br />
grupo. Ao mesmo tempo em que organizavam associações<br />
<strong>de</strong>sportivas para <strong>de</strong>marcar seus limites culturais,<br />
apropriavam-se <strong>da</strong>s práticas culturais <strong>de</strong>sportivas<br />
para a afirmação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
As associações <strong>de</strong>sportivas e suas representações culturais<br />
A partir <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s fontes <strong>do</strong>cumentais foram<br />
extraí<strong>da</strong>s as categorias que permitiram i<strong>de</strong>ntificar<br />
quais as representações que foram escolhi<strong>da</strong>s pelos<br />
teuto-brasileiros para a construção <strong>da</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A produção, a manutenção e a recomposição <strong>da</strong><br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> teuto-brasileira nas associações <strong>de</strong>sportivas<br />
foram observa<strong>da</strong>s através <strong>de</strong> diferentes formas<br />
<strong>de</strong> representações. Inicialmente, <strong>de</strong>staca-se o fato <strong>de</strong><br />
que não apenas os fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res <strong>da</strong>s associações <strong>de</strong>sportivas,<br />
mas também, os dirigentes e funcionários<br />
possuírem nomes e sobrenomes alemães. Salientase,<br />
que este grupo mantinha-se por longos anos à<br />
frente <strong>do</strong>s cargos administrativos. Com exceção <strong>do</strong>s<br />
funcionários, to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais pertenciam à elite<br />
sócio-econômica porto-alegrense.<br />
Outro meio <strong>de</strong> sustentar os traços culturais <strong>da</strong>s<br />
associações <strong>de</strong>sportivas era a exigência <strong>de</strong> critérios<br />
impostos pelos dirigentes para o ingresso <strong>de</strong> novos<br />
membros associa<strong>do</strong>s. Constatou-se com vistas nos<br />
estatutos, redigi<strong>do</strong>s em idioma alemão, que um <strong>do</strong>s<br />
pré-requisitos para tornar-se sócio era ser imigrante<br />
alemão ou seu <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte (teuto-brasileiro). Os<br />
teuto-brasileiros reforçavam sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> através<br />
<strong>do</strong> uso pre<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> idioma alemão no cotidiano<br />
<strong>da</strong>s associações. Alguns teuto-brasileiros até procuravam<br />
comunicar-se em língua portuguesa, mas<br />
mantinham costumes oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua matriz cultural.<br />
Desta forma, asseguravam sua estabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
sócio-cultural.<br />
Outra significativa representação <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
teuto-brasileira nas associações <strong>de</strong>sportivas foi a prática<br />
<strong>da</strong> ginástica. Homens, mulheres e crianças eram<br />
incentiva<strong>do</strong>s a participar <strong>da</strong>s sessões semanais, pois<br />
a ginástica representava muito mais que uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
físico-<strong>de</strong>sportiva; era um elemento <strong>da</strong> cultura<br />
<strong>de</strong>sportiva teuto-brasileira. Através <strong>da</strong> prática <strong>da</strong><br />
ginástica, buscava-se a promoção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, a formação<br />
moral e a preparação para o trabalho. Os <strong>de</strong>poimentos<br />
reafirmaram que a prática <strong>da</strong> ginástica fazia<br />
parte <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser teuto-brasileiro. A própria<br />
análise <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />
âmbito <strong>do</strong> associativismo <strong>de</strong>sportivo sugere que:<br />
“ser um teuto-brasileiro implicava em ser um <strong>de</strong>sportista;<br />
enquanto que ser brasileiro significava ser<br />
um não-<strong>de</strong>sportista”. Frequentemente, as associações<br />
recebiam a visita <strong>de</strong> instrutores <strong>de</strong> ginástica <strong>da</strong><br />
Alemanha para perpetuar esta cultura <strong>de</strong>sportiva.<br />
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