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220<br />

J. Rodrigo Pauli, Luciana Souza, Gustavo Rogatto, Ricar<strong>do</strong> Gomes, Eliete Luciano<br />

No músculo esquelético, os glicocorticói<strong>de</strong>s exercem<br />

efeitos catabólicos via aumento na proteólise (23),<br />

diminuição no transporte <strong>de</strong> aminoáci<strong>do</strong>s para o<br />

interior <strong>do</strong> músculo (24), inibição <strong>da</strong> síntese <strong>de</strong> proteínas<br />

(25) e indução <strong>da</strong> miostatina, um conheci<strong>do</strong><br />

fator regula<strong>do</strong>r negativo <strong>da</strong> massa muscular (26).<br />

Eleva<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> GC no músculo esquelético po<strong>de</strong><br />

inibir a via <strong>de</strong> sinalização <strong>da</strong> insulina por diversos<br />

mecanismos, incluin<strong>do</strong> inibição <strong>da</strong> translocação <strong>de</strong><br />

GLUT4 para a membrana celular (27) e inibição <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Lipoproteína Lipase (LPL) e, conseqüentemente,<br />

captação reduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> triglicéri<strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

circulação (28). Estas ações <strong>do</strong>s GCs na sinalização e<br />

regulação metabólica estão relaciona<strong>da</strong>s com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s nos teci<strong>do</strong>s<br />

sensíveis a insulina e com a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cortisol<br />

na forma ativa, que é converti<strong>do</strong> <strong>da</strong> cortisona<br />

pela enzima 11-β-HSD1 nas células <strong>do</strong>s músculos<br />

esqueléticos (20). Estu<strong>do</strong>s anteriores <strong>de</strong>tectaram<br />

aumento no RNAm <strong>do</strong>s GR em biópsia <strong>de</strong> músculo<br />

esquelético <strong>de</strong> diabéticos <strong>do</strong> tipo 2, com uma subseqüente<br />

diminuição na expressão <strong>de</strong> GR, correlaciona<strong>da</strong><br />

com melhora na sensitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> à insulina nestes<br />

pacientes após tratamento intensivo (29). Estes<br />

resulta<strong>do</strong>s sugerem que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> anormal <strong>do</strong>s GR<br />

no músculo esquelético po<strong>de</strong> ter um significativo<br />

efeito na resistência à insulina observa<strong>da</strong> no diabetes<br />

<strong>do</strong> tipo 2.<br />

Os GCs exercem alterações importantes também no<br />

metabolismo hepático. Estes esterói<strong>de</strong>s conduzem à<br />

elevação <strong>da</strong> glicemia, atuan<strong>do</strong> na captação, consumo<br />

periférico e produção <strong>de</strong> glicose (30). Estimulam a<br />

gliconeogênese hepática a partir <strong>da</strong> liberação <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s<br />

graxos e glicerol <strong>do</strong>s adipócitos e <strong>de</strong> aminoáci<strong>do</strong>s<br />

provenientes <strong>da</strong> inibição na síntese protéica<br />

periférica (31, 32). Especificamente, os GCs induzem<br />

a gliconeogênese hepática pela ativação <strong>do</strong>s<br />

receptores <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s (GR) <strong>de</strong>ssa via, que<br />

estimula a expressão <strong>da</strong> fosfoenolpiruvato carboxilase<br />

(PEPCK) e glicose-6-fosfatase (G6Pase), enzimas<br />

chaves <strong>da</strong> cascata <strong>de</strong> gliconeogênese (33-34). Isto<br />

resulta em aumento <strong>da</strong> produção hepática <strong>de</strong> glicose<br />

e hiperglicemia.<br />

Estes esterói<strong>de</strong>s interferem no metabolismo <strong>da</strong>s gorduras,<br />

favorecen<strong>do</strong> a lipólise com aumento <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s<br />

graxos no plasma, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> estímulo <strong>de</strong> liberação<br />

<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> adiposo, possivelmente por ação per-<br />

Rev Port Cien Desp 6(2) 217–228<br />

missiva com outros hormônios, como as catecolaminas<br />

e o glucagon (35). Além disso, ativam a lipase<br />

hormônio sensível, uma enzima chave na lipólise,<br />

inibi<strong>da</strong> pela insulina. No entanto, a secreção endógena<br />

ou administração <strong>de</strong> <strong>do</strong>ses excessivas <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s<br />

promovem aumento <strong>do</strong>s <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> gordura,<br />

principalmente na região ab<strong>do</strong>minal (36).<br />

Evidências acumula<strong>da</strong>s <strong>de</strong>monstram que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

enzimática <strong>da</strong> 11-β-HSD1 tem papel importante na<br />

patogênese <strong>da</strong> obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> visceral e <strong>da</strong> síndrome<br />

metabólica (37). Em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> em roe<strong>do</strong>res<br />

(38) a 11-β-HSD1 encontra-se diminuí<strong>da</strong> no<br />

fíga<strong>do</strong> e aumenta<strong>da</strong> no teci<strong>do</strong> adiposo mesentérico.<br />

Além <strong>do</strong> mais, a reduzi<strong>da</strong> sensitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> à insulina<br />

em teci<strong>do</strong>s periféricos está associa<strong>da</strong> aos efeitos<br />

antagonistas <strong>do</strong> GC na translocação <strong>do</strong>s transporta<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> glicose <strong>do</strong>s compartimentos intracelulares<br />

<strong>da</strong> membrana plasmática (39). A compreensão <strong>do</strong>s<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação <strong>do</strong>s glicocorticói<strong>de</strong>s sobre o<br />

metabolismo envolve uma série <strong>de</strong> eventos moleculares<br />

com a participação <strong>da</strong> insulina. Variações nos<br />

níveis e/ou graus <strong>de</strong> fosforilação <strong>do</strong> IR, IRS-1 e IRS-<br />

2 e na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> PI 3-quinase foram observa<strong>do</strong>s<br />

em animais submeti<strong>do</strong>s à administração exógena <strong>de</strong><br />

glicocorticói<strong>de</strong>s (40, 41). Similar mecanismo é responsável<br />

pela resistência à insulina no músculo<br />

esquelético (42), redução na captação <strong>de</strong> aminoáci<strong>do</strong>s<br />

pelos adipócitos estimula<strong>da</strong> pela insulina (43),<br />

além <strong>do</strong> que o aumento <strong>da</strong> lipólise ou oxi<strong>da</strong>ção <strong>de</strong><br />

gordura po<strong>de</strong> estar relaciona<strong>do</strong> à resistência à insulina<br />

periférica induzi<strong>da</strong> por GC (44).<br />

O uso <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> também alterar a<br />

funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> célula beta <strong>do</strong> pâncreas. Estu<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>monstraram que os GCs têm efeito na secreção <strong>de</strong><br />

insulina <strong>da</strong> célula beta em animais e alteram o pico<br />

<strong>de</strong>ste hormônio no perío<strong>do</strong> pós-prandial em humanos<br />

(45-46).<br />

Outros efeitos adicionais <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s<br />

estão implica<strong>do</strong>s na hipertensão, outra característica<br />

comum <strong>da</strong> síndrome metabólica. Os GCs têm<br />

ação agonista com receptores mineralocorticói<strong>de</strong>s<br />

(MR), e a sua ativação provoca retenção <strong>de</strong> sal e elevação<br />

<strong>da</strong> pressão sangüínea. A expressão <strong>de</strong> ambas,<br />

11-β-HSD1 e 11-β-HSD2, no rim sugere que a interconversão<br />

<strong>do</strong>s GCs inativo e ativo aconteça <strong>de</strong><br />

maneira equilibra<strong>da</strong>. Assim, a ativação <strong>de</strong> MR po<strong>de</strong><br />

ser controla<strong>da</strong> especificamente em ca<strong>da</strong> teci<strong>do</strong> (47).

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