Um olhar para as altas habilidades
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um <strong>olhar</strong> <strong>para</strong> aS altaS habilidadeS: ConStruindo CaminhoS<br />
32<br />
Dilema parecido vive o personagem do filme<br />
“Gênio Indomável”, do diretor Gus van Sant. Will<br />
Hunting, vivido por Matt Damon, é um matemático<br />
talentoso que trabalha como faxineiro de uma<br />
universidade de ponta, situação pela qual esconde<br />
su<strong>as</strong> capacidades extraordinári<strong>as</strong>. Quando sua habilidade<br />
é descoberta, é o desejo de todos que ele<br />
faça carreira como pesquisador. Ele, ao contrário,<br />
como diz em bilhete deixado <strong>para</strong> seu psicólogo,<br />
opta por “ir ver uma garota”, buscando a namorada<br />
com quem havia rompido e que havia mudado<br />
de cidade. Ele tinha p<strong>as</strong>sado a acreditar que su<strong>as</strong><br />
<strong>habilidades</strong> o conduziriam a uma vida bem-sucedida<br />
em qualquer lugar.<br />
Nos exemplos citados, o que percebemos são, justamente, padrões pessoais<br />
de sucesso, aliados à escolha por uma vida mais tranqüila. Sobre<br />
pesso<strong>as</strong> como ess<strong>as</strong>, diz Sternberg:<br />
Algum<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> escolhem concentrar-se em atividades extracurriculares,<br />
como esporte ou música, e não se preocupam muito<br />
com <strong>as</strong> not<strong>as</strong> na escola; outr<strong>as</strong> podem escolher ocupações que<br />
são pessoalmente significativ<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> que nunca vão gerar uma renda igual à<br />
que poderiam ter em atividades menos significativ<strong>as</strong>.<br />
(idem, p. 90).<br />
Outro <strong>as</strong>pecto interessante d<strong>as</strong> definições de inteligência e sucesso<br />
desse pesquisador é a necessária análise da relação entre o que a pessoa<br />
tem de “forç<strong>as</strong>” e de “fraquez<strong>as</strong>”. A inteligência seria, <strong>as</strong>sim, a habilidade<br />
de compensar <strong>as</strong> últim<strong>as</strong> pela capitalização d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong>. Essa constatação<br />
contraria a idéia contida n<strong>as</strong> definições tradicionais da inteligência, vista<br />
como um conjunto fixo de <strong>habilidades</strong> que são avaliad<strong>as</strong>. Além disso, se a<br />
inteligência criativa favorece o surgimento de bo<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong>, por exemplo, el<strong>as</strong><br />
apen<strong>as</strong> não garantem o sucesso, porque a pessoa depende d<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> dos<br />
outros, da sua capacidade de transmitir a idéia que teve, de convencer os<br />
demais, etc.<br />
E, finalizando, mais uma consideração valiosa quanto às alt<strong>as</strong> <strong>habilidades</strong><br />
diz que, em geral, a inteligência é pensada como modo de adaptação<br />
ao ambiente, quando, ao contrário, podemos considerá-la como a capacidade<br />
de “equilibrar <strong>as</strong> <strong>habilidades</strong> tanto <strong>para</strong> se adaptar, como <strong>para</strong> modificar<br />
ou escolher os ambientes” (Sternberg, idem, p. 91). Ser inteligente,<br />
<strong>as</strong>sim, seria poder se transformar considerando a situação, m<strong>as</strong> também<br />
mudar a situação, ou mesmo escolher estar em uma outra situação que<br />
combine melhor com outros <strong>as</strong>pectos, como valores ou desejos. Nesse<br />
ponto, Sternberg concorda com Landau (2002), que sempre afirmou, enfaticamente,<br />
que <strong>as</strong> alt<strong>as</strong> <strong>habilidades</strong> manifestam-se não só na capacidade