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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB FACULDADE DE ... - Unisc

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ausência do racismo, atribuindo as desigualdades raciais sofridas pelos afro-brasileiros à<br />

questão de classes social e econômica.<br />

Para os opositores das políticas de ação afirmativa 77 , a igualdade no Brasil deve<br />

continuar tendo um viés legalista e cego à realidade histórica, sociológica e antropológica.<br />

Sob a ótica liberal, o mercado e as oportunidades estão colocados de forma igualitária para<br />

todos e estas políticas viriam a constituir-se em privilégio e em importação alienígena ao<br />

direito nacional.<br />

Em duas universidades, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e<br />

agora a Universidade de Brasília (<strong>UnB</strong>), candidatos a vagas reservadas para negros<br />

terão de submeter fotografias para confirmar o seu status racial. O candidato para<br />

uma vaga na <strong>UnB</strong> será fotografado no ato da inscrição e seu pedido será analisado<br />

por uma comissão, formada por “membros de movimentos ligados à questão da<br />

igualdade racial e especialistas no tema”. Segundo a professora Dione Moura,<br />

relatora da Comissão de Implantação do Plano de Metas de Integração Social, Étnica<br />

e Racial da <strong>UnB</strong>, as fotos serão feitas simplesmente para homologar a inscrição:<br />

“Sabemos que haverá casos de irmãos em que um terá a inscrição homologada e<br />

outro não. A avaliação será feita por fenótipo, cor da pele e características gerais da<br />

raça negra, porque esses são os fatores que levam ao preconceito. Como se pode<br />

imaginar, essa medida está causando muita angústia entre aqueles que sempre<br />

duvidaram da propriedade da introdução de cotas raciais nas universidades<br />

brasileiras, e um certo embaraço entre os mais ativos mentores. Dois deles<br />

afirmaram recentemente o seu júbilo pela introdução de cotas, mas um<br />

distanciamento das fotografias, lembrando que o projeto original da <strong>UnB</strong> não incluía<br />

a fotografia do candidato negro e defendia o direito à auto-atribuição racial,<br />

seguindo a Convenção 169 da OIT. Há um sentimento generalizado que a nomeação<br />

de comissões para definir a “raça” dos cidadãos é um retrocesso com sinistros<br />

odores do apartheid da África do Sul, e dos mecanismos desenvolvidos pelos<br />

eugenistas de antanho no Brasil.<br />

(Peter Fry. lógica das cotas raciais, por O Globo, 14/04/2004)<br />

Para os defensores de cotas como espécie de ação afirmativa na educação superior, o<br />

sistema republicano, consolidado após a Abolição da Escravatura, aprofundou as<br />

desigualdades raciais no Brasil ao adotar uma neutralidade sobre o legado da escravidão afrobrasileira,<br />

ao desenvolver e cultuar a ideologia da “democracia racial” e do “homem cordial”<br />

nos trópicos em oposição ao racismo direto e legal existente nos Estados Unidos e na África<br />

do Sul. A República ocultou, por meio da neutralidade jurídica e da omissão do Estado, a<br />

necessidade de incluir na democracia o exercício da cidadania dos libertos no dia 13 de maio<br />

de 1888.<br />

77 Peter Fry – Lógica das Cotas Raciais, por Globo, 14/02/2004

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