mandioca . Cassava A volta à raiz A mandioca (também conhecida como aipim ou macaxeira), já presente no descobrimento do Brasil e durante toda a sua história, continua a mostrar números expressivos, mas não tem a valorização desejada pelos agentes do setor, que buscam maior espaço para a tradicional cultura. Enquanto a população brasileira vem crescendo, a produção da raiz tem permanecido estável nos últimos anos, o que se reflete em pesquisas sobre consumo, que decresceu de 2,27 quilos para 1,77 kg por habitante ao ano entre 2002 e 2008, conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/POF). O total produzido tem oscilado entre 22,0 milhões e 26,6 milhões de toneladas nas últimas >> Cadeia produtiva da mandioca busca revalorização do tradicional alimento na agricultura nacional três décadas. A área plan- 62
tada apresentou redução, mas foi compensada por aumento de produtividade, que em 2011 pode atingir o índice mais alto – 14,8 t por hectare. A Embrapa Mandioca e Fruticultura, sediada em Cruz das Almas (BA), dispõe de previsões nesse sentido feitas pelo IBGE em junho deste ano. Assim, a produção, que ocorre em todos os estados brasileiros, atingiria a 26,3 milhões de t, acréscimo de 8,2% em comparação à 2010, quando, pelas estimativas feitas, ficou em 24,3 milhões de t. Além de avanço na produtividade, também voltaria a ocorrer um leve crescimento de área, para 1,781 milhão de hectares. Como maiores produtores aparecem os estados do Pará, com 4,6 milhões de t, do Paraná (4,4 milhões de t) e da Bahia (3,6 milhões de t). Os três deverão ter aumentos de área, quesito no qual o primeiro lidera com 294 mil ha. Pará e Bahia deverão ter maior rendimento por hectare, item em que se destaca o Paraná. Em 2011, no entanto, registra pequena redução, de 23 para 22 t/ha, ao mesmo tempo em que amplia o cultivo, subindo de 172 mil para 202 mil ha. A recuperação verificada deve-se à melhoria de preços da mandioca em 2010, ano de produção menor e que se refletiu nos derivados: amido (fécula) e farinha. Calcula-se que, em função das dificuldades de oferta de matéria-prima, a fabricação de amido tenha sido entre 2% e 5% inferior à de 2009, período até o qual vinha crescendo e chegou a 583,85 mil t. O Paraná é o principal produtor, respondendo (23,8%), de acordo com números da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, vinculada à Universidade de São Paulo (Cepea/ Esalq/USP). Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), por sua vez, revelam menores exportações de fécula in natura, que não chegaram a 6 mil t, e incremento das importações, que passaram de 11 mil t. Por outro lado, houve bom resultado na venda externa de amidos modificados, que alcançaram os maiores números da década: 36,7 mil t, rendendo US$ 39,4 milhões. Na remuneração e no desempenho do setor, interfere e concorre diretamente o amido de milho, que também registrou preços elevados no período. O pesquisador Carlos Estêvão Cardoso, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, de Cruz das Almas (BA), comenta que o setor de fécula tem capacidade para duplicar ou elevar ainda mais a produção, o que não ocorre especialmente devido ao embate com o mesmo produto do milho. Na Bahia, onde integra a Câmara Setorial do Estado na Cadeia Produtiva de Mandioca, Cardoso comemora justamente a entrada nesse segmento industrial, com a ativação recente de fecularia no Recôncavo Sul (município de Laje), com capacidade para processar 200 t por dia, e outra em implantação no sudoeste (Vitória da Conquista). Abastecimento (Mapa), na qual enfatiza duas ações de interesse direto para a área. Inicialmente, a chamada Agenda Estratégica, que envolve vários segmentos e poderá melhorar, segundo ele, a disponibilidade de informações mais precisas e rápidas para tomadas de decisão, bem como as oportunidades de pesquisa e desenvolvimento da cadeia. Outra discussão considerada relevante para o setor, especialmente no Paraná, é direcionada à possibilidade de registro de produtos fitossanitários para raízes e tubérculos também para a mandioca. De modo geral, busca-se valorizála como alimento e energia. Na alimentação, entende Cardoso, pode ocupar espaços na gastronomia fina e diferenciada, incluindo pão de queijo, tapioca e beijus. Ressalta, de modo especial, que o amido feito da raiz pode ser consumido sem problemas por celíacos. Quanto à finalidade energética específica, observa que os debates estão se iniciando e há potencial, particularmente, para álcool fino. Dentro dos esforços para maior valorização do produto, foi criado pela Embrapa o Dia da Mandioca, lembrado em 18 de abril. No evento alusivo, realizado em 2011 em Cruz das Almas, destacou-se a mandioca como Raiz do Brasil – Símbolo maior da agricultura nacional. O pesquisador Joselito Mota palestrou sobre o tema, Inor Ag. Assmann por 71% do total, e o setor de papel e papelão, o maior consumidor >> ESTRA- TÉGICA O pesquisador da Embrapa Carlos Estêvão Cardoso participa também da Câmara Setorial da Mandioca e Derivados no Ministério da Agricultura, Pecuária e acalentando um sonho em vista da proximidade da Copa Mundial de Futebol no Brasil: “Pela importância social, econômica e cultural, esse produto versátil, exótico e orgânico poderá se tornar o maior símbolo nacional em 2014 no país do futebol”. 63