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História Geral

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intercâmbio cultural e dinamização de informações<br />

outrora restritas ao clero, estimulando o Renascimento<br />

Cultural.<br />

Do ponto de vista político, as Cruzadas foram<br />

determinantes no enfraquecimento da aristocracia<br />

feudal, especialmente pelo empobrecimento de parte<br />

dessa classe. Ademais, teve impacto significativo no<br />

progressivo fortalecimento do poder real, tendo alguns<br />

deles se destacado como lideranças das Cruzadas.<br />

Entretanto, do ponto de vista econômico, talvez tenha<br />

revelado sua maior contribuição. O prolongamento<br />

temporal das incursões dos cruzados ao Oriente<br />

desencadearia progressivamente a reabertura do Mar<br />

Mediterrâneo, garantindo uma dinâmica comercial<br />

ampliada. Destacaram-se especialmente as cidades<br />

italianas, cuja burguesia se tornaria a mais privilegiada<br />

da Baixa Idade Média, como grandes intermediários do<br />

comércio de especiarias.<br />

4. CRISE GERAL DO SÉCULO XIV<br />

O processo de expansão registrado entre os séculos XI e<br />

XIII sofreriam um grave revés no século XIV, marcado<br />

por uma situação de crise geral. A combinação de<br />

redução drástica de produção, situações contagiantes<br />

de fome, redução demográfica, expansão da Peste<br />

Negra, situação de conflito generalizado na Guerra dos<br />

Cem Anos e rebeliões camponesas mergulhariam a<br />

Europa numa crise sem precedentes.<br />

A produtividade agrícola esteve seriamente prejudicada<br />

pela ausência de novas terras a serem incorporadas ao<br />

circuito produtivo, combinado a uma série de fatores de<br />

instabilidade climática variados, como geadas ou<br />

estiagens prolongadas, que ao diminuírem a oferta de<br />

alimento geram carestia ou quadros de fome entre os<br />

mais pobres. A menor oferta de alimento não apenas<br />

iniciou a redução demográfica, como fragilizou os<br />

sobreviventes na vulnerabilidade à epidemia da Peste<br />

Negra, que a partir do Leste europeu expandiu-se pelo<br />

continente e responsabilizou-se pela dizimação de mais<br />

de um terço da população europeia.<br />

Drauzio Varella<br />

A PESTE NEGRA<br />

Foi a mais mortal das epidemias. Entre 1347 e 1351,<br />

a peste negra dizimou metade da população europeia.<br />

Embora haja desacordo, as estimativas são de 75 a<br />

200 milhões de mortes. Estudiosos mais conservadores<br />

estimam que a população mundial de 450 milhões teria<br />

caído para 350 a 370 milhões.<br />

A bactéria causadora da epidemia teve origem na<br />

China ou na Ásia Central, de onde viajou pela rota da<br />

seda, nos intestinos das pulgas que infestavam os ratos.<br />

Chegando ao Mediterrâneo, os ratos se encarregaram de<br />

levá-las para os navios, que disseminaram a doença pelos<br />

portos em que atracavam.<br />

Relatos históricos dão conta do sofrimento humano.<br />

O poeta Boccaccio, que viveu em Florença nessa época,<br />

fez a seguinte descrição:<br />

“Em homens e mulheres, ela se manifesta pela<br />

emergência de certos tumores nas virilhas e axilas,<br />

alguns dos quais chegam ao tamanho de uma maçã;<br />

outros, ao de um ovo… Dessas duas regiões do corpo<br />

esses tumores mortais logo começam a propagar-se e a<br />

espalhar-se em todas as direções; depois disso, a<br />

apresentação se modifica, em muitos casos manchas<br />

negras ou lívidas aparecem nos braços, nas coxas e<br />

outras partes, de início poucas e grandes, mais tarde<br />

pequenas e numerosas. Assim como os tumores, as<br />

manchas negras são sinais infalíveis de que a morte se<br />

aproxima daqueles nos quais se manifestam”.<br />

Faltou dizer que a febre atingia 41 graus, os vômitos<br />

eram sanguinolentos, e que alguns desenvolviam<br />

complicações pulmonares, enquanto outros se curavam<br />

espontaneamente. Cerca de 80% iam a óbito em uma<br />

semana, proporção que aumentava para 90% quando<br />

havia comprometimento pulmonar e beirava 100% nos<br />

casos de septicemia.<br />

As explicações para as epidemias de peste que<br />

já afligiam a Europa nos tempos de Justiniano, no século<br />

8, eram imaginativas: conjunção de três planetas que<br />

espalharia pestilência no ar, terremotos, mendigos,<br />

peregrinos, estrangeiros, envenenamento dos poços de<br />

água pelos judeus (sempre eles), suposições que<br />

justificavam massacres sangrentos.<br />

Foi apenas em 1894, quando um grupo de<br />

bacteriologistas visitou Hong Kong, que o agente<br />

etiológico, a Yersinia pestis, foi identificado por<br />

Alexandre Yersin.<br />

Curiosamente, mesmo antes dos antibióticos, os casos<br />

mais recentes de peste não provocavam mortalidade<br />

elevada. As bactérias daqueles tempos seriam mais<br />

virulentas ou as pessoas mais fracas e desnutridas?<br />

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