História Geral
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A situação demandava uma solução. Em 1812, a<br />
reunião das Cortes em Cádiz, na Espanha, para a<br />
elaboração de uma Constituição, dedicou-se a<br />
encaminhar as preocupações das províncias da Espanha e<br />
de muitas partes do Novo Mundo. O Parlamento<br />
espanhol tentava, assim, prover um meio pacífico aos<br />
autonomistas americanos para a obtenção da ordem<br />
local. Os extensos debates naquele congresso<br />
transformaram o mundo hispânico.<br />
A Constituição promulgada não foi apenas um<br />
documento espanhol, foi igualmente americano. Pode-se<br />
dizer que, sem a participação dos deputados do Novo<br />
Mundo, dificilmente a Carta de 1812 tomaria a forma<br />
que tomou. Foram abolidos as instituições senhoriais, a<br />
Inquisição, o tributo pago pelas comunidades indígenas e<br />
o trabalho forçado – como a mita na região andina.<br />
Também foi criado um estado unitário com leis iguais<br />
para todas as partes da monarquia, restringida a<br />
autoridade do rei e confiado às Cortes o poder de decisão<br />
final. O direito de voto conferido a todos os homens<br />
(com exceção dos de ascendência africana), sem<br />
exigência de renda ou grau de alfabetização, torna a<br />
Constituição de Cádiz superior às dos demais governos<br />
representativos de sua época – como Grã-Bretanha,<br />
Estados Unidos e França –, estendendo direitos políticos<br />
à vasta maioria da população adulta masculina.<br />
Mas os avanços representativos não foram suficientes<br />
para conter as guerras civis que desde 1810 se<br />
desenrolavam na América. Estavam em lados opostos<br />
aqueles que, insistindo na formação de juntas locais, se<br />
recusavam a aceitar o governo na Espanha, e aqueles que<br />
reconheciam a autoridade central da Regência e das<br />
Cortes. As divisões políticas entre os membros das elites<br />
mesclavam-se às antipatias regionais e tensões sociais.<br />
Em 1814 os conflitos se agravaram. Naquele ano,<br />
após a derrota de Napoleão, Fernando VII voltou ao<br />
trono, aboliu as Cortes e a Constituição e restaurou o<br />
absolutismo. Livres das restrições constitucionais, as<br />
autoridades régias no Novo Mundo perseguiram e<br />
sufocaram a maioria dos movimentos que buscavam<br />
autonomia. Somente a região mais isolada do Rio da<br />
Prata permaneceu fora do alcance da repressão<br />
deflagrada pela já enfraquecida monarquia espanhola.<br />
A repressão desencadeou reações decisivas entre os<br />
partidários da independência, ainda em minoria. Em<br />
1817, na Venezuela, os republicanos retomaram a luta<br />
iniciada por Simon Bolívar seis anos antes, quando era<br />
oficial do Exército revolucionário e foi declarada a<br />
independência. Em 1812, os espanhóis haviam retomado<br />
o poder e ele deixara o país. Retornou em 1819, com o<br />
apoio do independente Haiti, para retomar a revolução.<br />
Naquele ano, habitantes da Nova Granada (hoje<br />
Colômbia, Venezuela e Equador) e venezuelanos<br />
derrotaram os realistas em Boyacá, forçando o vice-rei e<br />
outros altos oficiais a deixar Bogotá.<br />
O ritmo e a intensidade das lutas variaram bastante.<br />
Nas regiões no norte da América do Sul, a militarização<br />
e a centralização política foram características marcantes.<br />
Convocado por Bolívar em fevereiro de 1819, o<br />
Congresso de Angostura (hoje chamada Ciudad Bolívar),<br />
na Venezuela, legitimou o seu poder. Em dezembro,<br />
criou-se a República da Colômbia – por vezes chamada<br />
de Grã Colômbia –, incorporando Venezuela, Nova<br />
Granada e Quito. Contrariamente ao espírito da<br />
Constituição de Cádiz, a nova Constituição colombiana<br />
criou um governo extremamente centralizado, com<br />
autoridade excessiva atribuída ao presidente Bolívar.<br />
No sul, o militar José de San Martín, depois de bemsucedida<br />
campanha nos Andes, obteve em fevereiro de<br />
1818 uma vitória decisiva sobre as forças espanholas na<br />
batalha de Chacabuco. No Rio da Prata (hoje Argentina)<br />
e na capitania geral do Chile, os autonomistas ganharam<br />
controle precocemente, depois de poucos conflitos<br />
armados no combate aos realistas. Depois de 1818, os<br />
contingentes militares deixaram essas regiões para<br />
assegurar a independência do Peru, ao norte, mesmo com<br />
as tropas realistas permanecendo no sul.<br />
A aprovação de outra Constituição em 1820 na<br />
Espanha provocou respostas diferentes nas quatro<br />
grandes regiões americanas (Nova Espanha, Prata, Nova<br />
Granada e Peru). Os povos da Nova Espanha (atual<br />
México) e da Guatemala receberam as notícias com<br />
entusiasmo, e nos meses seguintes realizaram eleições<br />
para diferentes ayuntamientos constitucionais,<br />
deputações provinciais e as Cortes. A instabilidade<br />
política da Espanha, que já durava cerca de doze anos,<br />
havia convencido uma parte dos novohispanos que era<br />
mais prudente estabelecer um governo autônomo no<br />
interior da monarquia. Quanto aos autonomistas, os<br />
membros da elite que haviam adquirido poder com os<br />
processos de independência, optaram pela instauração de<br />
uma monarquia constitucional.<br />
Dois cursos de ação foram seguidos. Os deputados da<br />
Nova Espanha junto às Cortes propuseram um projeto<br />
para a autonomia do Novo Mundo que criava três<br />
grandes reinos americanos governados por príncipes<br />
espanhóis e aliados à Península. Mas a maioria espanhola<br />
nas Cortes rejeitou a proposta, temerosa de dar aos<br />
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