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História Geral

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Este impacto fica claro na mais famosa obra do inglês<br />

Thomas Morus, Utopia (1516). Trata-se de um relato<br />

ficcional sobre uma ilha recém-descoberta, onde os<br />

habitantes viviam em uma república perfeita, não<br />

conheciam a ideia de propriedade privada, colocavam a<br />

felicidade pública acima da individual, todos<br />

trabalhavam e, portanto, não havia exploração... Enfim,<br />

uma anti-Inglaterra, localizada convenientemente na<br />

América. Se pudesse haver uma forma perfeita de<br />

organização social – em tempos de divisões profundas na<br />

Europa, assolada por conflitos políticos e religiosos,<br />

agravados por por transformações econômicas – isto<br />

seria possível no Novo Mundo.<br />

Se era aceitável a existência de uma formação política<br />

superior (mesmo que utópica) entre homens que não<br />

guardavam quaisquer relações com os do Velho Mundo,<br />

como rejeitar a humanidade dos americanos? O<br />

dominicano espanhol Bartolomeu de las Casas (1474-<br />

1566), bispo de Chiapas, no México, estava convencido<br />

da completa injustiça da escravização dos indígenas.<br />

Defensor de um modelo de colonização bem diverso<br />

daquele praticado pelos seus compatriotas, enfrentou<br />

políticos e teólogos, denunciou as atrocidades cometidas<br />

pelos espanhóis no Novo Mundo e morreu aos 92 anos<br />

como um autêntico humanista, na mais nobre acepção do<br />

termo.<br />

Um humanismo que entrou definitivamente na pauta dos<br />

filósofos europeus pela pena de Michel de Montaigne,<br />

cujos Ensaios (1580-1588) tomavam como certa a<br />

universalidade do homem, e via como construções<br />

artificiais as instituições e os costumes do seu tempo.<br />

Esta visão, a longo prazo, abalaria as estruturas políticas,<br />

religiosas e sociais da Europa. Dele a Rousseau (1712-<br />

1778), passando por todos os livre-pensadores franceses,<br />

os homens começaram a ser vistos como iguais em sua<br />

essência, embora variados em seus valores e modos de<br />

vida.<br />

Os marinheiros de Colombo não sabiam, mas naquela<br />

viagem acabaram descobrindo um elemento até então<br />

incogitado: o homem.<br />

Rodrigo Elias é professor das Faculdades Integradas Simonsen e<br />

pesquisador da Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional.<br />

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