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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Esaú e Jacó: estrutura exemplar <strong>de</strong> MachadoTalvez conviesse pôr aqui, <strong>de</strong> quando em quando, como nas publicaçõesdo jogo, um diagrama das posições belas ou difíceis, Não havendo tabuleiro,é um gran<strong>de</strong> auxílio este processo para acompanhar os lances, mas tambémpo<strong>de</strong> ser que tenhas visão bastante para reproduzir na memória as situaçõesdiversas. Creio que sim. Fora com diagramas! Tudo irá como se realmentevisses jogar a partida entre pessoa e pessoa, ou mais claramente, entreDeus e o Diabo” (cap. 13).Dispostos os partidos (branco/preto, Deus/Diabo, pessoa a pessoa), ojogo avança sem que haja uma opção clara por um dos contendores (afinal, umou outro po<strong>de</strong> ganhar a partida, e assim vai o mundo). Dentro <strong>de</strong> seu jogoconstante <strong>de</strong> “encobrir”, habilmente vai o narrador separando (ao mesmotempo em que aproxima) a narrativa <strong>de</strong> um tabuleiro invisível terminando pordispensar os “diagramas” dos avanços e recuos das peças.Mas é o próprio Machado que inclui o diagrama (veladamente) ao falar dojogo e ao dizer como moverá suas peças. É o comentário do jogo que ele mantéma todo instante e muita vez <strong>de</strong> modo explícito, como no capítulo transcrito.Em outros capítulos ele também se refere ao voltarete, ao gamão e a outrosjogos. Mas não é só nesse sentido que o jogo aqui nos interessa, mas o lúdicoque secunda isto tudo, quando se põe como comentador da própria partida.Assim, um capítulo envia a outro através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> composição que sequer auto-explicativo, como se estivesse reescrevendo constantemente a estóriae retomando a narrativa num processo <strong>de</strong> canto e contracanto. Ao proce<strong>de</strong>r assim,está tomando à narrativa os seus próprios referentes, centrando-se emseus próprios esteios, no interior daquilo mesmo que narra. Este processo <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> ser mero divertissement ou curiosida<strong>de</strong> estilística quando vinculado ao sistemalúdico <strong>de</strong> composição. Só no capítulo 99, por duas vezes, remete o leitora capítulos anteriores para reativar a partida e/ou estória. Só reativar o enunciado?Não, tornar mais clara a linha da enunciação, convertendo o comentárioda estória em algo tão relevante ou mais que a própria estória. Aí, efetivamente,já se po<strong>de</strong> dizer, glosando Marshall McLuhan, o meio é a mensagem.131

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