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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Narradores do ocaso da monarquiario”, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> volta ao “anonimato das notícias anódinas”. 5 A hipótese <strong>de</strong>Massa, que parte da interpretação quiçá muito literal <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>claração docronista, em texto <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1862, <strong>de</strong> que sentia “<strong>de</strong>sgosto pela política”,fez carreira na fortuna crítica <strong>de</strong> Machado, ajudando a fundamentar acrença <strong>de</strong> que houvera um jovem Machadinho, politicamente engajado e radical,escritor aprendiz, que só ao <strong>de</strong>sincumbir-se do fardo da militância permitiua liberação do impulso criativo necessário ao pleno <strong>de</strong>senvolvimento do gênioliterário <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis.Sem entrar no mérito da crença <strong>de</strong> que a dita “alta literatura” <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria do indiferentismoou absenteísmo político para acontecer, pois que a improcedência <strong>de</strong>tal mito e as origens históricas <strong>de</strong>le na literatura oci<strong>de</strong>ntal estão hoje bem i<strong>de</strong>ntificadaspela crítica 6 , há motivos pon<strong>de</strong>ráveis para lançar dúvidas sobre a hipótese <strong>de</strong>Massa. Em primeiro lugar, entre o alegado “<strong>de</strong>sgosto pela política” em 22 <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1862 e o último texto da série, em 5 <strong>de</strong> maio, Machado <strong>de</strong> Assis continuouno mesmo diapasão <strong>de</strong> ácida crítica política, que não teria cabimento permitircaso os editores do Diário o consi<strong>de</strong>rassem realmente em divergência com algumanova suposta orientação da folha. Assim, num momento <strong>de</strong> intensa movimentaçãopolítica, com o gabinete Caxias <strong>de</strong>certo lutando para sobreviver, o autor dos “Comentáriosda Semana” juntava-se à artilharia do Diário na campanha para <strong>de</strong>rrubar5 Massa, Jean-Michel, A Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, 1839-1870. Ensaio <strong>de</strong> Biografia Intelectual, Rio <strong>de</strong>Janeiro, Editora Civilização <strong>Brasileira</strong>, 1971, pp. 306-8.6 Ver, para o caso da literatura francesa, Bourdieu, Pierre, As Regras da Arte. Gênese e Estrutura do CampoLiterário, São Paulo, Companhia das <strong>Letras</strong>, 1996; Oehler, Dolf, Quadros Parisienses. Estética Antiburguesa,1830-1848, São Paulo, Companhia das <strong>Letras</strong>, 1997; Oehler, Dolf, O Velho Mundo Desce aos Infernos.Auto-Análise da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> Após o Trauma <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1848 em Paris, São Paulo, Companhia das <strong>Letras</strong>,1999; para o caso inglês, Thompson, E. P., Os Românticos. A Inglaterra na Era Revolucionária, São Paulo,Civilização <strong>Brasileira</strong>, 2002; Thompson, E. P., Witness Against the Beast. William Blake and the Moral Law,Nova York, The New Press, 1993. Sobre política e literatura no próprio Machado <strong>de</strong> Assis, ver,entre outros, Schwarz, Roberto, Ao Vencedor as Batatas: Forma Literária e Processo Social nos Inícios do RomanceBrasileiro, São Paulo, Duas Cida<strong>de</strong>s, 1981; Schwarz, Roberto, Um Mestre na Periferia do Capitalismo:Machado <strong>de</strong> Assis, São Paulo, Duas Cida<strong>de</strong>s, 1990; Gledson, John, Machado <strong>de</strong> Assis: Ficção e História, Rio<strong>de</strong> Janeiro, Paz e Terra, 1986; Gledson, John, Machado <strong>de</strong> Assis: Impostura e Realismo. Uma Reinterpretação <strong>de</strong>Dom Casmurro, São Paulo, Companhia das <strong>Letras</strong>, 1991; Chalhoub, Sidney, Machado <strong>de</strong> Assis, Historiador,São Paulo, Companhia das <strong>Letras</strong>, 2003.295

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