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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Machado <strong>de</strong> Assis: dulcíssimo poeta?codificador que encontrará as chaves do sentido oculto dos versos <strong>de</strong> duplasignificação.” 34Leal sugere um “jogo <strong>de</strong> dissimulação verbal”, que <strong>de</strong>finimos como ironiapoética machadiana, revestida <strong>de</strong> “um sentido oculto” e que, po<strong>de</strong>mos acrescentar,se escon<strong>de</strong> numa fragilida<strong>de</strong> aparente <strong>de</strong> rosa. Veríssimo também já haviamostrado no poeta uma “sincerida<strong>de</strong> contida”, uma ironia específica, quese oculta por trás da docilida<strong>de</strong> do poeta:“E o poeta, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> seu recato e timi<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>ixar-lhe-á, por isso mesmo,uma impressão <strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, <strong>de</strong> fina e alta aristocracia <strong>de</strong> sentimentos,não pelo rebuscado <strong>de</strong> complicações emocionais, mas pela sua sincerida<strong>de</strong>sempre contida, que, no receio da ironia alheia, corrige com suaprópria toda manifestação que lhe parece mais aparente e, portanto, à suasensibilida<strong>de</strong> aguda – grosseira e chocante.” 35Talvez o amigo <strong>de</strong> Machado tenha sido o único a procurar <strong>de</strong>finir essa doçurainexplicável do poeta, tão exaltada/discriminada em sua época e quaseimperceptível à nossa. “O aroma <strong>de</strong>licado e mo<strong>de</strong>sto” do poeta Machadinho,repetindo as palavras <strong>de</strong> Veríssimo citadas linhas atrás, tinha “a lhe embaçar oestro o seu espírito <strong>de</strong> análise, que já entrava a amadurecer, o seu nativo ceticismo,a sua ironia, o seu arisco pudor <strong>de</strong> exteriorizar-se.” 36 O “arisco pudor” casa-sebem com o “ar terno e selvagem”, que são “a força e o dulçor secreto” dopoeta Machado <strong>de</strong> Assis, além <strong>de</strong> revelar a essência do lirismo “doce-amaro”sugerido por “O plantonista”.Para encerrar, <strong>de</strong>ixemos o discurso machadiano revelar-se pela voz da poesia.Em Oci<strong>de</strong>ntais, Machado escreve o “Soneto <strong>de</strong> Natal”, on<strong>de</strong> fala <strong>de</strong> um recordar<strong>de</strong> “sensações antigas” e da luta do poeta para transmitir suas emoções34 I<strong>de</strong>m. p. 78.35 VERÍSSIMO. Op. cit. p. 253.36 I<strong>de</strong>m. p. 247.211

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