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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Machado <strong>de</strong> Assis e o teatroda<strong>de</strong> ou rasgarão os seus pergaminhos ou cairão abraçadas com eles,como em sudários”. 4Isso que po<strong>de</strong> parecer uma posição um tanto conservadora para os nossosdias – a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um teatro com feição utilitária, comprometido com os valoreséticos da burguesia –, na época era o que havia <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno em termosestéticos, por um lado, e em termos políticos, por outro. Em termos estéticos,porque o realismo teatral instaurara um novo modo <strong>de</strong> escrever peçase <strong>de</strong> propor a ação dramática no palco. Sem os excessos do melodrama ou dodrama romântico, a naturalida<strong>de</strong> dos diálogos e do trabalho do intérpretecolocava a cena brasileira em outro patamar. A farsa <strong>de</strong> costumes <strong>de</strong> MartinsPena ou Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo, com seus recursos do baixo-cômico eridicularização das camadas populares, era substituída pela alta comédia, entendidacomo uma fotografia das classes superiores da socieda<strong>de</strong>, retocadapelo pincel moralizador. “Daguerreótipo moral” era como Alencar <strong>de</strong>finiasuas peças i<strong>de</strong>ntificadas com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Alexandre Dumas Filho. Em termospolíticos, o mo<strong>de</strong>rno se impunha porque o que se aspirava era a uma revoluçãonos costumes a partir da prescrição dos valores burgueses. Num paísem formação, o mo<strong>de</strong>lo da socieda<strong>de</strong> francesa que se via nas comédias realistasera o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>sejável para a nossa burguesia emergente, já aberta ao liberalismo,mas em conflito com a própria realida<strong>de</strong> econômica do país, assentadana escravidão. 5Machado, liberal convicto nessa fase da sua vida, não se cansou <strong>de</strong> elogiar aspeças que con<strong>de</strong>navam a escravidão ou que apresentavam “tendências liberais”– como os dramas O Escravo Fiel, <strong>de</strong> Carlos Antônio Cor<strong>de</strong>iro, e Pedro,<strong>de</strong>Men<strong>de</strong>sLeal Jr., que consi<strong>de</strong>rou fracas do ponto <strong>de</strong> vista literário. Entre os aspectospositivos que via no drama Luís, <strong>de</strong> Ernesto Cibrão, estava o “sentimento4 I<strong>de</strong>m, pp. 17-18.5 Tal contradição, como se sabe, mereceu análises argutas <strong>de</strong> Roberto Schwarz, em seus estudos sobreMachado <strong>de</strong> Assis, especialmente nos livros Ao Vencedor as Batatas (São Paulo, Duas Cida<strong>de</strong>s, 1977) eUm Mestre na Periferia do Capitalismo: Machado <strong>de</strong> Assis (São Paulo, Duas Cida<strong>de</strong>s, 1990).157

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