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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Benjamin Abdala Juniorrecitam versos no teatro, fazem conferências e conduzem um marido oucoisa que o valha. Falam bonito no palco, mas intimamente, com as cortinascerradas, dizem:– Me auxilia, meu bem.Nunca me disseram isso, mas disseram ao Nogueira. Imagino. Aparecemnas cida<strong>de</strong>s do interior, sorrindo, ven<strong>de</strong>ndo folhetos, discursos, etc. Provavelmenteempestaram as capitais. Horríveis.” 13Madalena tenta resistir à opressão, e seu suicídio não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma forma<strong>de</strong> preservar sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Até à altura da história que prece<strong>de</strong> o suicídio<strong>de</strong> sua mulher, Paulo Honório não aceita a diferença dos outros. Como Madalenase opõe à perspectiva do fazen<strong>de</strong>iro, ele não consegue, <strong>de</strong> forma efetiva,impor-lhe os valores quantitativos, como fizera com outras personagens. Sãoexemplos, nesse sentido, <strong>de</strong> um lado, o acordo estabelecido com o esperto einescrupuloso advogado João Nogueira, que lhe custava quatro contos e oitocentosmil-réis por ano; ou, do outro, sua disposição <strong>de</strong> pagar a afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vidaà velha Margarida, que o criara e que lhe “custa <strong>de</strong>z mil-réis por semana,quantia suficiente para compensar o bocado que me <strong>de</strong>u”. 14No fundo, o suicídio <strong>de</strong> Madalena <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia, na economia da narrativa, alatência <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo Honório e contribui para revelar o problemáticoescritor embutido nessa persona. Não é uma fruta <strong>de</strong>ntro da casca, esperandoum momento <strong>de</strong> emergir, como registra o narrador <strong>de</strong> Dom Casmurro. Ao contráriodo fazen<strong>de</strong>iro com quem se casou, a professora primária procurava viver autenticamente,sem se <strong>de</strong>ixar alienar. Seu casamento, visto ter-se firmado sob aforma <strong>de</strong> um contrato, po<strong>de</strong> ser entendido como um pacto <strong>de</strong> alienação. Há nessegesto um pressuposto implícito <strong>de</strong> perda consensual da liberda<strong>de</strong> feminina.Se forem relacionadas essas observações com as atuais discussões sobre sexoe etnia, é curiosa a observação <strong>de</strong> Paulo Honório, num <strong>de</strong> seus acessos <strong>de</strong> ciú-13 P. 87.14 Pp. 12-13.282

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