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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Narradores do ocaso da monarquiada<strong>de</strong>, como resposta a um provável clamor dos leitores para saber quem estavapor trás <strong>de</strong> cada narrador-personagem. Enfim, Décio <strong>de</strong>ixava tudo às claras:cada autor participante do grupo inventava o seu narrador ficcional (ou mais<strong>de</strong> um <strong>de</strong>les), que se movia então segundo preferências e tiques retóricos próprios,num esforço coletivo <strong>de</strong> seus autores reais para, ao mesmo tempo, <strong>de</strong>senharindividualida<strong>de</strong>s imaginárias e colocá-las em interação na série, dando aesta um perfil, fazendo com que funcionasse como uma espécie <strong>de</strong> fórum propiciadordo <strong>de</strong>bate sobre as questões públicas do momento.Machado <strong>de</strong> Assis produziu nada menos do que 125 textos para “Balas <strong>de</strong>Estalo”, no período <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883 a março <strong>de</strong> 1886, tornando realmenteformidável a tarefa <strong>de</strong> coligir e redigir notas para todo esse material. Lélio, ouLélio dos Anzóis Carapuça, 14 o apelido do narrador, <strong>de</strong>ve ter sido inspiradoem personagem da peça <strong>de</strong> Molière, intitulada L’Étourdi (O Estouvado), pois queestava na or<strong>de</strong>m do dia <strong>de</strong>bochar do ministro da Fazenda e chefe do gabinete<strong>de</strong> ministros, Lafayette Rodrigues Pereira, que havia citado O Tartufo, outrapeça do dramaturgo, em discurso no parlamento. Por um lado, a alusão à atualida<strong>de</strong>política presente no pseudônimo ajudava Machado a inserir <strong>de</strong> pronto asua personagem na série em andamento; por outro lado, ao recorrer a Molière,retomava uma prática <strong>de</strong> alusão literária que vinha caracterizando suas crônicas<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1860, pois já por várias vezes utilizara personagens teatraispara satirizar as atitu<strong>de</strong>s exageradas ou <strong>de</strong>scabidas dos homens públicos, a retóricavazia <strong>de</strong>les, a mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas querelas. 15O Lélio “estouvado” <strong>de</strong> Molière é cômico, impulsivo, um tanto quantoatrapalhado nas idéias e nas ações. O Lélio <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis não está tão14 Lélio <strong>de</strong>clara seu sobrenome na crônica <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1885, na qual escreve seu testamento.Segundo Daniela Callipo, este sobrenome cômico e popular já havia sido usado em 1862 pelopseudônimo “Dr. Semana” na Semana Illustrada, coinci<strong>de</strong>ntemente outra personagem <strong>de</strong> uma sériecoletiva <strong>de</strong> crônicas. Ver Callipo, Daniela Mantarro, “As recriações <strong>de</strong> Lélio: a presença francesa nascrônicas machadianas. Gazeta <strong>de</strong> Notícias – “Balas <strong>de</strong> estalo”, julho <strong>de</strong> 1883 a março <strong>de</strong> 1886”,dissertação <strong>de</strong> mestrado em <strong>Letras</strong>, USP, 1998, p. 10.15 Granja, Lúcia, Machado <strong>de</strong> Assis: Escritor em Formação (à Roda dos Jornais), Campinas, Mercado <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>,2000.305

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