13.07.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Machado <strong>de</strong> Assis: dulcíssimo poeta?crito anteriormente. O “dulcíssimo poeta” e a “irresolução <strong>de</strong> ânimo” são imagensretomadas em Romero para menosprezar a obra e o autor.“Po<strong>de</strong> ser gracioso, não duvido; porém é acanhado e algum tanto piegase pulha. Creio não ser <strong>de</strong>masiado grosseiro afirmar que esta águia não temenvergadura, este condor não possui o largo vôo solitário das montanhas,este Machado <strong>de</strong> Assis é um doce poeta <strong>de</strong> salão, pacato e meigo, se quiserem;porém gago e in<strong>de</strong>ciso (grifo nosso).” 17O crítico também se apropria do discurso machadiano para marcar certostraços <strong>de</strong> caráter, que consi<strong>de</strong>rava negativos no poeta. Assim, a expressão“meias tintas” empregada por Machado <strong>de</strong> Assis na crônica do primeiro númerodo Futuro, em 1862, foi retomada por Sílvio Romero com a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacarno escritor uma falta <strong>de</strong> imaginação e <strong>de</strong> um estilo vigoroso; neste caso, o“doce” assume a conotação <strong>de</strong> fraco e inerme. Na crônica do Futuro temos:“Tirei hoje do fundo da gaveta, on<strong>de</strong> jazia, a minha pena <strong>de</strong> cronista. Acoitadinha estava com um ar triste, e pareceu-me vê-la articular, por entre osbicos, uma tímida exploração.(...) O pugilato das idéias é muito pior que odas ruas; tu és franzina [a pena], retrai-te na luta e fecha-te no círculo dosteus <strong>de</strong>veres, quando couber a tua vez <strong>de</strong> escrever crônicas. Sê entusiastapara o gênio, cordial para o talento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa para a nulida<strong>de</strong>, justiceirasempre, tudo com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitosda pintura.” 18Machado <strong>de</strong> Assis usou a expressão para caracterizar sua forma <strong>de</strong> escrever,como já dissemos, um tanto encoberta, sem exagerar no estilo, <strong>de</strong>ixando apenasentrever os seus contornos. No meio jornalístico, no entanto, a expressão17 I<strong>de</strong>m. p 40.18 Apud: MASSA, Jean-Michel. A Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis. Trad. <strong>de</strong> Marco Aurélio Matos. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Civilização <strong>Brasileira</strong>, 1971.p. 352199

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!