13.07.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

J. Mattoso Câmara Jr.Tal espírito é o <strong>de</strong> uma linguagem escrita que quer aproximar-se da fala eser antes <strong>de</strong> tudo coloquial.Firmemo-lo nitidamente como um dado interpretativo para muitos aspectosestilísticos da obra machadiana.Assim, por exemplo, a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições, tão freqüentes na literaturanovelística da época.A exclusão da paisagem nos romances e contos <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assissempre intrigou os seus críticos, e duas explicações foram aventadas a esterespeito.Uma partiu do preconceito que atribui ao escritor secura <strong>de</strong> alma e falta<strong>de</strong> predicados estéticos para po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r e sentir a natureza, comofaziam então José <strong>de</strong> Alencar no Brasil e Eça <strong>de</strong> Queirós em Portugal. Esquece,porém, duas circunstâncias que a invalidam. A primeira, fundamental, éque esse modo <strong>de</strong> interpretar a alma machadiana é inteiramente gratuito;nela há a vibração <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro poeta, que se externa liricamente emmuitos versos, em outros se concentra na contemplação emocionada da vida,e, na própria prosa, se extravasa numa linguagem <strong>de</strong> dolorosos ressaibos, quenão são menos intensos por virem envolvidos na cápsula do humorismo.Acresce que na sua obra lírica não faltam passos <strong>de</strong>scritivos da mais franca ecolorida nota paisagística:Lá, como quando volta a primavera em flor,Tudo sorri <strong>de</strong> luz, tudo sorri <strong>de</strong> amor;Ao influxo celeste e doce da beleza,Pulsa, canta, irradia e vive a natureza;Mais lânguida e mais bela, a tar<strong>de</strong> pensativaDesce do monte ao vale; e a viração lascivaVai <strong>de</strong>spertar à noite a melodia estranha222

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!