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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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O amor masculino em A Mão e a Luva O amor realista <strong>de</strong> LuísLuís é o porta-voz da séria filosofia da <strong>de</strong>sromantização. Diz a Estêvão:“Dás-me uma lição <strong>de</strong> amor, que eu te pagarei com uma filosofia.” Essa fala secoaduna com a “inculcação social e apostólica” que Machado enxergou noRealismo, ao criticar a tese <strong>de</strong> O Primo Basílio. Afinal, filosofar para o Outronão <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um apostolado. Luís brinca com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morrer do amigo.Assim <strong>de</strong>fine o amor: “[...] uma carta, mais ou menos longa, escrita em papelvelino, corte-dourado, muito cheiroso e catita; carta <strong>de</strong> parabéns quando se lê,carta <strong>de</strong> pêsames quando se acabou <strong>de</strong> ler.” 17 Diz também que, se Guiomarnão tinha amado Estêvão antes, não o amaria agora, em sua recaída, e que nãonasceram um para o outro. Repete-se o argumento fundador da <strong>de</strong>sarmoniaexplicitado em Ressurreição. Luís propõe saber se Estêvão é amado e, caso não oseja, pergunta se <strong>de</strong>sistiria da moça.Ora, o veículo por excelência da <strong>de</strong>claração amorosa nas práticas sociais doséculo XIX é a carta. Ao Luís criador da metáfora do amor como carta <strong>de</strong> parabénsno início e pêsames no fim aplica-se este comentário <strong>de</strong> Jurandir Costa,pouco importa se se referindo ou não ao Realismo epocal: “Os realistas, ao subestimaras paixões do amor, acabam por reduzir a emoção amorosa a seu aspectoracional e minimizam o valor dos sentimentos e sensações na prática social dalinguagem.” 18 Luís representa o racional, o econômico não sugerido nem adivinhado,o realista, enfim: o logos da tese machadiana.Ele também disputa o coração <strong>de</strong> Guiomar e, já em sua primeira <strong>de</strong>claração,assoma o <strong>de</strong>sconcerto romântico: ela é oral e direta: “A senhora tem uma almagran<strong>de</strong> e nobre e eu a admiro”. É mais que um cumprimento e menos que uma<strong>de</strong>claração, não comovida, mas firme e profundamente convicta, avaliará onarrador. Mais adiante Luís adota uma postura diferente do sentimentalismo<strong>de</strong> Estêvão e da elegância <strong>de</strong> Jorge, através <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>claração simples: “Eu aamo.” Acrescenta que a <strong>de</strong>claração foi breve e apressada, mas não o será a consagração,e pe<strong>de</strong> tempo para que ela o julgue digno (do seu amor).17 ASSIS, Machado <strong>de</strong>. A Mão e a Luva. Op. cit., p. 20.18 COSTA, Jurandir Freire. Sem Frau<strong>de</strong> nem Favor: Estudos sobre o Amor Romântico. Op. cit., p. 175.269

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