Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
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118 <strong>Práticas</strong> <strong>Corporais</strong> Experiências em Educação Física para uma formação humana<br />
sobre ‘o que é dança para você’, inicialmente respondeu: “É o corpo na música.<br />
Acho que não existe dança sem música, né? Pelo menos eu nunca vi. É claro<br />
que dá para dançar sem música. Pode acontecer na aula também, mas dança sempre<br />
tem música, pelo menos acho que sim. O movimento ten<strong>do</strong> significa<strong>do</strong>, né?”<br />
Na entrevista realizada no final <strong>do</strong> projeto parece ter modifica<strong>do</strong> e, de uma<br />
certa forma, amplia<strong>do</strong> seu entendimento, pois respondeu que “é o corpo em<br />
movimento, e poden<strong>do</strong> estar estático em alguns momentos, mas seu corpo vai estar<br />
expressan<strong>do</strong> algo. É arte”.<br />
Isso evidencia a necessidade de abertura 41 e da disponibilidade às respostas<br />
inesperadas que surgem <strong>do</strong> diálogo entre movimento corporal e música, que<br />
certamente aconteceram durante as aulas. Segun<strong>do</strong> Elenor Kunz (2004, p.38),<br />
ouvir música, perceber ritmos e expressar-se livre e espontaneamente através<br />
de movimentos correspondentes formam um importante diálogo. Um diálogo<br />
que liberta a pessoa para expressar-se com espontaneidade, para novas vivências<br />
e experiências consigo mesma e com os outros, colaboran<strong>do</strong>, assim, decisivamente<br />
para o processo de auto-conhecimento.<br />
Para este autor, a espontaneidade é entendida como a possibilidade de<br />
realizar movimentos desatrela<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s padrões já existentes.<br />
Estes diálogos de movimento com a música que se manifestaram nas<br />
vivências, configuraram, pouco a pouco, visível amadurecimento/aprofundamento<br />
nas relações estabelecidas entre a música e o movimento corporal na<br />
dança. Perguntamo-nos se, no contexto contemporâneo, uma dança não deveria<br />
possibilitar a expressão <strong>do</strong>s ritmos diferencia<strong>do</strong>s pelos seus participantes 42 .<br />
Mas o entendimento deles deveria estar acompanha<strong>do</strong>, ou melhor, está sujeito<br />
aos limites <strong>do</strong>s ritmos que configuram a maioria das relações na atualidade.<br />
Muitas vezes, supervalorizamos um ritmo que é fruto das relações<br />
societais e submetemo-nos a esta construção/invenção. O ritmo frenético das<br />
41 Pensamos nessa abertura como a possibilidade de “realização <strong>do</strong>s instintos de vida”, que dão vida à arte e à<br />
relação com o outro, conforme apontam Theo<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>rno (1970) e Herbert Marcuse (s.d.; 1977). Para esses<br />
autores, a arte pode rejeitar o principio de realidade “naquela forma (realidade) que contém o protesto contra o<br />
existente […] é um espaço de vivência da interioridade humana e não naquele senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> individualismo liberal,<br />
mas ela quer aprazer-se a si mesma, no senti<strong>do</strong> da emergência das singularidades (as ações, pensamentos, sentimentos<br />
de cada um), que configuram sempre o outro possível e no qual está a disponibilidade humana para a<br />
transformação” (SARAIVA-KUNZ, 2003, p.69).<br />
42 Para facilitação da leitura, optamos pela utilização da forma no plural masculina, como de uso corrente na nossa<br />
Língua, para a maior parte das expressões, que se repetem ao longo <strong>do</strong> texto. Em outros casos, especialmente<br />
no singular, usaremos, também, ambas as declinações de gênero.