Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
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Capoeira e os passos da vida 39<br />
setores básicos da existência humana, provoca fragmentação e alienação.<br />
Se Marx considerava o trabalho como o motor <strong>do</strong> desenvolvimento humano,<br />
atividade intrinsecamente criativa em sua origem, e que possibilitava<br />
ao homem tornar-se homem, por que ele se transformou num cúmplice dócil<br />
<strong>do</strong> capital? Marx, mesmo, assegurava que essa alienação, esse estranhamento<br />
derivava da divisão social <strong>do</strong> trabalho. Ou seja, alguns homens passaram a<br />
impor aos outros as condições em que deveriam trabalhar, resultan<strong>do</strong> na degradação<br />
das mais diversas esferas da atividade humana, por força de uma<br />
desmesurada busca de produtividade.<br />
Entretanto, esse apelo à produtividade decorrente <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de produção<br />
capitalista estimula a competição entre pessoas e grupos particulares, privilegian<strong>do</strong><br />
o melhor produto e não aquele que sabe produzir as condições essenciais<br />
e necessárias para uma vida digna. Com isso, vem contribuin<strong>do</strong> para<br />
a degradação da natureza e a desagregação da humanidade, acarretan<strong>do</strong> graves<br />
danos à dimensão comunitária da vida, geran<strong>do</strong>, como subproduto, o<br />
estresse, <strong>do</strong>ença que pode até matar, e a culpa geralmente é dirigida à vítima<br />
e não ao modelo de sociedade em que ela está inclusa.<br />
Assim, uma discussão rigorosa a respeito <strong>do</strong> lúdico implica em situá-lo<br />
dentro <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de produção capitalista. Deve-se ter claro que uma mudança<br />
de perspectiva exige como ponto de partida e de chegada a transformação desta<br />
ordem social. Entretanto, a maioria das reflexões não questiona os nexos e as<br />
razões históricas que delineiam e determinam a ética e a lógica <strong>do</strong> sistema capitalista<br />
e termina explican<strong>do</strong> a realidade social superficialmente, pela aparência<br />
e pelo utilitarismo <strong>do</strong>s fenômenos e objetos produzi<strong>do</strong>s na dinâmica cultural.<br />
Não dá para experienciar o lúdico quan<strong>do</strong> não se tem educação, saúde e<br />
lazer dignos, que sejam capazes de manter a humanidade <strong>do</strong>s humanos. Sen<strong>do</strong><br />
assim, é necessário redimensionar o alcance <strong>do</strong> lúdico para além da produção,<br />
diversão e <strong>do</strong> entretenimento. Ele faz parte <strong>do</strong> desenvolvimento humano, portanto,<br />
não pode ser diluí<strong>do</strong> como uma panacéia utilitarista. O lúdico tem sua<br />
especificidade e requer o seu espaço na vida <strong>do</strong>s sujeitos. Nesse senti<strong>do</strong>, é importante<br />
compreendê-lo como algo que tem sua própria razão de ser e contém,<br />
em si mesmo, o seu objetivo. Ele é, simultaneamente, produzi<strong>do</strong>, distribuí<strong>do</strong> e<br />
consumi<strong>do</strong>. Pode-se afirmar que com e através <strong>do</strong> lúdico é possível exercitar a<br />
humanidade, seja no ócio, no jogo, ou no lazer. O lúdico é vida cheia de vida.<br />
Até bem pouco tempo, essas discussões sobre o lúdico não seduziam o