Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As práticas corporais em foco: a análise da experiência em questão 201<br />
Os princípios <strong>do</strong> jogo redimensionaram boa parte <strong>do</strong> trabalho com as<br />
práticas corporais, no senti<strong>do</strong> de re-significação destas manifestações culturais.<br />
Nossa compreensão, para isso, parte <strong>do</strong> conceito tradicional de jogo como<br />
atividade que se executa por si mesma, sem uma preocupação pela finalidade<br />
ou pelo resulta<strong>do</strong> que produz. Como atividade essencialmente humana, ao<br />
ser fim e meio em si mesmo, o jogo mobiliza sensações, induz a criatividade,<br />
produz prazer e constitui-se como uma experiência estética ímpar na produção<br />
da condição de humanidade.<br />
Este processo foi especialmente interessante com os participantes que<br />
há muito já saíram da infância. A experiência de brincar, além de possibilitar<br />
encarar a tristeza e o cansaço <strong>do</strong> dia, permitiu outras reflexões. Pudemos nos<br />
questionar sobre o que é ser sério e refletir em que medida isto não representa<br />
acomodar-se frente ao que está instituí<strong>do</strong>. Brincan<strong>do</strong>, pudemos relembrar<br />
momentos da infância e da juventude esqueci<strong>do</strong>s num canto da memória, nos<br />
confrontan<strong>do</strong> com alguma perda da sensibilidade e da imaginação que tem<br />
acompanha<strong>do</strong> a seriedade da adultez. Permitiu-nos observar que mesmo entre<br />
as práticas corporais feitas como lazer há uma seriedade que acompanha<br />
as ações que carecem de senti<strong>do</strong>, mesmo aquelas carregadas de justificativas<br />
da objetividade cientifica.<br />
Consideran<strong>do</strong> estas questões, foi possível tensionar com o crescimento<br />
das finalidades que migraram <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho para o lazer, como uma<br />
de suas dimensões. A necessidade de exercitar-se para obter saúde, para afastar-se<br />
das drogas e da violência, para aumentar o nível de aprendizagem escolar,<br />
para diminuir o estresse, faz das práticas corporais panacéia para to<strong>do</strong>s os<br />
males. Dentre todas as práticas, o esporte parece ter se torna<strong>do</strong> a grande salvação<br />
social, especialmente no discurso oficial. Mais <strong>do</strong> que isso, estas finalidades<br />
foram toman<strong>do</strong> lugar de sua condição de gratuidade, de seu caráter<br />
eminentemente inútil, substituin<strong>do</strong>-o por um objetivo pragmático que <strong>do</strong>mina<br />
outras esferas da vida.<br />
Nossa intenção, diferentemente disso, foi considerar os princípios <strong>do</strong><br />
jogo, em sua condição de atividade improdutiva, como prioritários para a dimensão<br />
<strong>do</strong> lazer. Queremos apostar que estes princípios possam ser inspira<strong>do</strong>res<br />
para a vida, tal como na tese de Herbert Marcuse (1985), onde o próprio<br />
trabalho deve tornar-se lúdico, subordinan<strong>do</strong>-se ao desenvolvimento das<br />
potencialidades humanas e da Natureza.