Práticas Corporais - Volume 3 - Ministério do Esporte
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Cuida(<strong>do</strong>) corpo: experimentações acerca <strong>do</strong> “cuidar de si” 97<br />
No mo<strong>do</strong>-de-ser-cuida<strong>do</strong> ocorrem resistências e emergem perplexidades. Mas<br />
elas são superadas pela paciência perseverante. No lugar da agressividade, há<br />
a convivência amorosa, em vez da <strong>do</strong>minação, há a companhia afetuosa, ao<br />
la<strong>do</strong> e junto com o outro (idem, p.96).<br />
Assim, "o cuida<strong>do</strong> serve de crítica à nossa civilização agonizante e também<br />
de princípio inspira<strong>do</strong>r de um novo paradigma de conviviabilidade"<br />
(idem, p.13).<br />
A idéia de cuida<strong>do</strong> traz em si uma conexão com o to<strong>do</strong>. Nessa perspectiva,<br />
o "cuidar de si" não traduz uma atitude individualista e narcisista,<br />
pelo contrário, o cuida<strong>do</strong> consigo implica, simultaneamente, um cuida<strong>do</strong> com<br />
o outro e com o ambiente. Assim, cuidar <strong>do</strong> outro representa a compreensão<br />
de que nossa humanidade depende <strong>do</strong> outro. E, no mun<strong>do</strong> atual, onde o tato<br />
e os contatos se estabelecem sem nenhum tato, é urgente colocar tal categoria<br />
no centro <strong>do</strong> debate e no interior de nossas ações cotidianas. Pois, sem cuida<strong>do</strong>,<br />
poderemos nos afastar de nossa condição humana. Incorporar esse entendimento<br />
representa considerar nosso corpo enquanto espaço sagra<strong>do</strong>, posto<br />
que habita o próprio ser.<br />
Conquistar essa condição requer uma intervenção transforma<strong>do</strong>ra na<br />
esfera educativa. Trata-se de desenvolver a sensibilidade para a percepção,<br />
compreensão e conhecimento de todas as dimensões que envolvem a condição<br />
humana, situan<strong>do</strong> o ser humano (com sua humanidade comum e sua<br />
diversidade cultural) no universo, e não separá-lo dele; trata-se de valorizar<br />
outras circunstâncias, que não aquelas que nos aprisionam; trata-se, ainda, de<br />
(re)aprender a cuidar <strong>do</strong> ser.<br />
Lidar com esse entendimento, necessariamente nos conduz à esfera <strong>do</strong><br />
amor, pois cuidamos daquilo que aprendemos a conhecer e a amar. Segun<strong>do</strong><br />
Humberto Maturana (1998), o amor é a emoção que permite que haja interações<br />
no conviver. O amor faz parte da vida, <strong>do</strong> viver de nós humanos, ele é<br />
condição necessária para o desenvolvimento integral <strong>do</strong> ser humano, bem<br />
como das possibilidades de continuidade da vida. Em outro momento, completa:<br />
o amor é a emoção fundamental que torna possível a história de hominização,<br />
ele “constitui o <strong>do</strong>mínio das condutas em que se dá a operacionalidade<br />
da aceitação <strong>do</strong> outro como legítimo outro na convivência, é esse mo<strong>do</strong><br />
de convivência que conotamos quan<strong>do</strong> falamos <strong>do</strong> social” (idem, p.23).