percursos pedestres no parque natural do vale do guadiana

Ao encontro do Vale do Guadiana
dificuldade de obtenção de alguns produtos básicos, como a farinha, o arroz e algumas
leguminosas, e também de outros que mais não eram do que o contributo para
alimentar pequenos vícios como o tabaco e o café, fizeram com que homens e mulheres
se envolvessem nesta actividade arriscada. Viviam-se tempos de crise em ambos os
lados da fronteira e qualquer dinheiro que se conseguisse era um importante
complemento para a escassa economia doméstica. Mas para a concretização desta
árdua tarefa era necessário ultrapassar uma série de barreiras e perigos, e toda a
destreza e determinação constituíam requisitos fundamentais para o sucesso. O Rio
Guadiana e a Ribeira de Chança (em Espanha) eram algumas dessas barreiras, de
ordem natural, mas cuja travessia era facilitada pela tranquilidade das suas águas. Não
longe deste local ocorria um dos mais utilizados circuitos, que ligava estes dois povos.
Com início em Corte Gafo de Baixo, o percurso transpunha o Guadiana perto da Brava,
seguia por várias povoações dos arredores e alcançava o seu destino em Valverde del
Camino (Espanha), após 3 a 4 dias de uma viagem inesquecível.
� Habitats a explorar
As encostas declivosas do Vale do Guadiana, e também de alguns dos seus principais
afluentes, apresentam características que possibilitam a existência de ambientes
multifacetados, e que encerram enormes valores, tanto do ponto de vista da geologia e
geomorfologia, como da riqueza biológica que acolhem. As suas águas são ricas em
espécies dulciaquícolas, algumas das quais confinadas apenas à bacia do Guadiana, mas
quase todas em perigo de extinção. A vegetação ripícola associada aos cursos de água
favorece o aparecimento de espécies de aves próprias destes habitats, como o
Rouxinol-do-mato. Para além disso, o coberto vegetal presente nas margens reduz a
entrada na água dos sedimentos transportados pela escorrência das chuvas ao longo
das encostas, impedindo a destruição dos locais utilizados para as posturas de muitos
peixes, essencialmente os migradores. Os afloramentos rochosos sob a forma de
escarpas, com as suas numerosas cavidades e saliências, servem de refúgio para a
nidificação de várias aves de rapina, onde se destacam algumas das mais ameaçadas de
Portugal e mesmo da Europa, com a Águia de Bonelli e o Bufo-real, injustamente
perseguidas por quem não compreende o importante papel que têm no controle de
predadores, pois ao alimentarem-se de pequenos mamíferos e répteis, especialmente os
mais fracos, são excelentes aliados no combate às doenças por vezes transmitidas por
esses animais.
AS encostas, densamente cobertas por matagais, permitem a coexistência de espécies
diversas de forma equilibrada. Neste habitat vivem mamíferos como o Texugo e
apresenta potencialidades para a ocorrência do tão emblemático Lince-Ibérico. Também
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