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Fazer download PDF - Fundação Cultural do Estado da Bahia

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ADELICE SOUZAO começo <strong>da</strong> tradição <strong>da</strong> festa onde matam faz tanto tempo que nem nóslembramos ao certo – se é que houve realmente um início – pois achamos quetu<strong>do</strong> <strong>da</strong>ta de tão antigamente, que é anterior até à nossa própria existência.Assim, a festa onde matam seria tão remota que talvez existisse antesmesmo <strong>da</strong>s mulheres azuis existirem e não poderem frequentá-las. Nós pressentimosque se existiu um dia a festa onde matam e não existiam ain<strong>da</strong> asmulheres azuis, a festa não fazia senti<strong>do</strong>, pois tu<strong>do</strong> o que existe precisa <strong>do</strong>seu oposto, complemento que se manifesta através de limites, de proibições,de regras inexoráveis. Desta forma, imaginamos que somos nós que legitimamosa existência <strong>da</strong> festa onde matam, pois para matar, eles necessitam<strong>da</strong>s mulheres azuis. Ou não. Também não podemos tirar conclusões nossasporque conclusões de mulheres azuis sobre festas onde matam não valemcoisa alguma. Ain<strong>da</strong> que tirar conclusões seja o que nos resta, a nós, que nãofrequentamos a festa.Nunca nos disseram o que fazem por lá, quem é que realmente morre,como se morre e porque morre. Eles matam: só sabemos disso. E nem temoscerteza, ao certo, se realmente matam, pois nunca vimos nem ouvimosna<strong>da</strong>. Perguntamos, em outras épocas – e na nossa época também continuamosa perguntar – porque é que se chama festa o que eles fazem. Eles nãorespondem nunca às nossas perguntas: não nos ofendem, nem sorriem denós, entretanto não respondem. Festa não seria uma reunião alegre para umdivertimento? Não parecem que se divertem os que entram na festa ondematam. Festa não seria uma soleni<strong>da</strong>de? Não parecem solenes os que saem<strong>da</strong> festa onde matam. Não há pompas, não há formali<strong>da</strong>des dita<strong>da</strong>s por leisou costumes além <strong>da</strong>quela que já sabemos: a <strong>da</strong>s mulheres azuis não poderemparticipar <strong>da</strong> festa. Festa não seria uma confraternização? Não parecemcelebrar juntos uma recor<strong>da</strong>ção, um ato lembra<strong>do</strong> ou trazer à memória algumacontecimento, eles entram e saem <strong>da</strong> festa como se estivessem vazios delembranças ou de comprometimentos: to<strong>do</strong>s eles se enfastiam por estaremna festa onde matam. Festa também não poderia ser uma comemoração deum dia santo? Não parecem que cultivam amor a nenhum santo mata<strong>do</strong>r.Conhecemos eles, são nossos vizinhos, nossos filhos e nossos homens: nãoensinamos o culto aos santos maus. Mas festa é, acreditamos nós, um ato decomemoração com o outro. Sem o outro não haveria a festa e se eles nuncacomemoram, por que chamam de festa aquilo que fazem? E quem foi que,um dia, nomeou aquele evento de festa onde matam? Mais perguntas paranós que nunca teremos respostas. Mas cabe a nós continuar perguntan<strong>do</strong>. Emais e mais e sempre. O que seríamos de nós se nunca perguntássemos? Asperguntas foram cria<strong>da</strong>s para serem feitas: não somos nós que vamos contrariaras leis <strong>da</strong>s perguntas, mesmo que to<strong>do</strong>s os outros contrariem as leis<strong>da</strong>s respostas, deixan<strong>do</strong>-nos ignorantes nos assuntos que dizem respeito aoentendimento <strong>da</strong> festa onde matam.18

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