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Fazer download PDF - Fundação Cultural do Estado da Bahia

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de borboleta errante procuran<strong>do</strong> pouso em flores baldias. Que isso, apesar debonito, é torto e não ameniza <strong>do</strong>r nenhuma.Na<strong>da</strong> de inventar fugas, reticências ou abstrações. Se pudesse estar olhosnos olhos com ele, comentar qualquer bobagem – não <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, <strong>da</strong> <strong>do</strong>r agora não–, cercar-se de coisas leves, comentários sobre a primavera, sobre café expressocom creme, sobre a temperatura certa <strong>do</strong> vinho tinto, sobre fumar ou não fumarcigarros mentola<strong>do</strong>s, sobre as condições <strong>do</strong> tempo em Salva<strong>do</strong>r. Algo meio folhade amen<strong>do</strong>eira ao vento: leve em suas reentrâncias avermelha<strong>da</strong>s, inútil em suafunção original. Que amigos, amigos ver<strong>da</strong>deiros, ela leu em algum lugar e ain<strong>da</strong>se lembra, precisam apenas de proximi<strong>da</strong>de, não de conteú<strong>do</strong> ou confissões.Precisam é estalar a língua no ar, chegarem a um palmo <strong>do</strong> coração <strong>do</strong> outro,mas não adentrarem, permanecerem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora, feito guardiões que contamhistórias pra enganar o amanhecer.Uma conversa apoio para o corpo, uma conversa pilastra, coluna grega praescorar a <strong>do</strong>r. Escore esta hemorragia, queri<strong>do</strong>. Faça em segre<strong>do</strong> uma simpatiapro corpo se endireitar de novo, pra <strong>do</strong>r ficar comportadinha. Não tão agu<strong>da</strong>.Boazinha na vitrine, como dizia Baudelaire, redizia Ana C., rediremos agora, porque não?, boazinha e anestesia<strong>da</strong>, por favor.É preciso um passo, depois outro. Dentro <strong>do</strong> inferno, sobra monóxi<strong>do</strong> decarbono. De dentro <strong>do</strong> inferno, deve se sair de fininho, mas com precisão.Novamente, o renascer. Cante uma canção antiga: te furamos com espinho,você era rosa e não sangrou; te furamos com agulha, teu corpo era novelo e sebifurcou; te furamos com a mão de Deus, você era deusa e graciosamente desviou.Tão simples pedir aju<strong>da</strong> a ele.Tão impossível obter.Um demônio toca piano.Ou seria clarineta?Um demônio <strong>da</strong>nça longe.Ou seria dentro?Enquanto tenta localizá-lo na mente, falar de tu<strong>do</strong>, menos <strong>da</strong> violência, comele e tão somente com ele, sente o mun<strong>do</strong>, o tempo escurecer. Tropeça na fraqueza:tonteira e despreparo pra arrumar os acontecimentos. O canal <strong>da</strong> mentese fecha. A imagem dele some.Desgraça.Desaparece aquela voz serena, aquela calmaria de lençóis de cetim que éestar aninha<strong>da</strong> a ele.Miséria.Como chegar perto, como aspirar de novo detrás <strong>da</strong> orelha dele aquele cheiroque só naquele cantinho <strong>da</strong> orelha dele tem?Alisar os cabelos dele, encostar levemente os lábios, dizer eu fui violenta<strong>da</strong>,meu amor.Assim sairia <strong>do</strong> inferno, assim estaria de volta à vi<strong>da</strong>.ÁLLEX LEILLA31

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