12.07.2015 Views

Fazer download PDF - Fundação Cultural do Estado da Bahia

Fazer download PDF - Fundação Cultural do Estado da Bahia

Fazer download PDF - Fundação Cultural do Estado da Bahia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

lências. Eu fiava meus desejos. Meu menino fosse assim, de sua iguala, quan<strong>do</strong>que crescesse. Um homem demais apessoa<strong>do</strong>, de passo a passo semeava umasfrases, frutifican<strong>do</strong> a conversa. De mais a menos chegava, por força, ao cerne desuas in<strong>da</strong>gações:– Como o senhor sabe se a enfermi<strong>da</strong>de é agu<strong>da</strong> ou grave?– Nhô, o quê? – disse Manu.– Como sabe se a <strong>do</strong>ença é passageira ou é demora<strong>da</strong>?– Ah, deixe... Por quê?– É que estou assim, meio quebranta<strong>do</strong>, com uns bocejos.Ah, então... Manu pegou as mãos <strong>do</strong> homem, esticou uma e outra, estalouos de<strong>do</strong>s de um por um, irregulares. Perquiriu bem nos olhos. Daí pediu que euaviasse água <strong>do</strong> pote, no caneco, eu trouxe. Pois colocou no meio <strong>da</strong> sala, pôs amão espalma<strong>da</strong> sobre, <strong>da</strong>í fechou os olhos, to<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>. Devia de estar rezan<strong>do</strong>uma reza curta. Eu, já ciente <strong>da</strong>s práticas, logo lhe trouxe uma baga de brasa acesa,colhi<strong>da</strong> <strong>do</strong> fogo com o pega<strong>do</strong>r de arame. Manu me tomou <strong>da</strong> mão, agoraaproximou a brasa <strong>da</strong> água, curvou o homem sobre a coisa. Levou a brasa até abeirinha d’água, ali soltou, num borbulhar nervoso. O vapor subiu se espalhan<strong>do</strong>,uns bafejos no rosto <strong>do</strong> consulente. Nhô Guimarães suspirou, estava por simuito satisfeito nessa aprendizagem. Manu esperou a fervura, com pouco, seacalmar. E leu os dizeres <strong>do</strong> vapor, revelan<strong>do</strong> a resposta:– O senhor fique tranqüilo, isso é um na<strong>da</strong> passageiro, sem truz de ofensa.Tome um chá de artemísia, eu mesmo lhe arrumo as folhas, quan<strong>do</strong> for hora dearribar.– Mas como saber?Nhô Guimarães insistiu, Manu respondeu:– Ah, o senhor faz a intenção de saber o caso, lá dentro de si, no querer firme,com força. Daí, pergunta à água, nas borbulhas, no ar. Ela responde.– O que diz?Nhô estava curioso. Manu completou:– Se a brasa afun<strong>da</strong>, o caso é grave; até de preparar os choros. Se a brasabóia, é um trisco de na<strong>da</strong>, coisa sem importância.– Ah! – isso Nhô se admiran<strong>do</strong>. Esse ah, ele fazia uns mais, depois seguiaquieto ou falante, entrava noutros causos, sempre curioso. Nhô Guimarães coisavatu<strong>do</strong> tim-tim no caderno, viaja<strong>do</strong>, sisu<strong>do</strong>, a fala mais mansa que o chuvisco<strong>da</strong>s tardes. Eu aprendia esse gosto de ser como ele, em minhas vontades. Tinhagraça! Nhô Guimarães naquelas tempora<strong>da</strong>s, agora só lembranças. Quanto foio tempo? E eu sei?! Me arrisco. Janeiros passaram, caíram chuvas, capins cresceram,rios encheram e secaram. A gente no trote de plantar, colher e criar, nossojeito de existir. Ele se foi de vez para ci<strong>da</strong>des de vastos comércios e gentes boase más. Até no estrangeiro. Ficou um raro. Levou consigo o mo<strong>do</strong> desses causosque sabia ouvir e inventar. Deu-se que pegou fama, por segun<strong>da</strong>s históriasque escrevia, com sua voz refina<strong>da</strong>. Ele contava essas coisas-sem-importânciaALEILTON FONSECA27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!