Het verhaal van twee steden - files.slau.nl
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assim que no escritório o livro abrem.<br />
Sentam-se à mesa como se num templo.<br />
O italiano sai-lhes escrito à árabe.<br />
Em algarismos, cinzas flutuando,<br />
a fala oracular ergue colunas.<br />
Desce um silêncio, aquece a sala inteira.<br />
Salinos metais sopram matraqueando.<br />
Máquinas de escrever sonham desvairos.<br />
Se lerdes, desconfiai do que aí está:<br />
«Ó mãe, nunca vestirás o vison<br />
pra que tanto tostão foi recontado,<br />
e nunca mais irei nos meus feriados<br />
ao hospital com um ramo de flores,<br />
as rosas irão já pró cemitério...»<br />
Assim se lê, e o triste olhar de Awater<br />
imobiliza-se na comoção.<br />
Que horas são isto? Pesa-lhe a cabeça.<br />
Na escri<strong>van</strong>inha dorme o telefone.<br />
Alguém recolhe as chávenas de chá.<br />
Faz tiquetaque o relógio. Cinco e meia.<br />
O verde dos candeeiros extinguiu-se.<br />
Hoje, ao dar água às flores na janela,<br />
nasceu dentro de mim a decisão:<br />
ir apanhar Awater ao escritório.<br />
Perdido o meu irmão, nunca mais tive<br />
um companheiro de minhas viagens.<br />
Em quem procura amigo é natural<br />
querer saber se o outro nos assenta.<br />
Pois vou seguir Awater esta tarde,<br />
ver onde, assim se diz, param as modas,<br />
e, tudo ponderado, apresentar-me.<br />
Cá estou então junto aos degraus. Corado.<br />
São cinco e meia. O tempo que não escoa.<br />
A rua está pejada de peões.<br />
Em cada sombra acende-se uma luz,<br />
fazendo, errante, recortes em fumo.<br />
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