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Obras selecionadas de lutero, os primordios, escritos de

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Há mais ainda. Se retornarem totalmente ao rigor literal, afirmando que<br />

foi dito só a Pedro: "Tu és Pedro, a ti darei as chaves", etc., como resistire-<br />

iii<strong>os</strong> a<strong>os</strong> hereges se, apoiad<strong>os</strong> em n<strong>os</strong>sa insistência rigor<strong>os</strong>a nas palavras, n<strong>os</strong><br />

rissediarem, dizendo: "Que seja. Isso foi dito só a Pedro e, portanto, não ao<br />

hiicessor. Assim, as chaves vieram a Igreja com Pedro e com ele se foram. E<br />

agora, on<strong>de</strong> está a Igreja?" Pois não po<strong>de</strong> dizer respeito a muit<strong>os</strong> o que foi<br />

dito a um só, como, por exemplo, a palavra: "Quando eras mais moço, tu te<br />

cingias a ti mesmo", etc. [Jo 21.191, o que, nesta forma, foi dito só a Pedro,<br />

dc sorte que se cumpre com Pedro e com ele acaba, não se referindo a ne-<br />

iihum sucessor seu.<br />

Se, contudo, é dito a<strong>os</strong> sucessores e a alguma Igreja, já não há qualquer<br />

razão para se po<strong>de</strong>r negar que tenha sido dito a tod<strong>os</strong>, até mesmo para se ad-<br />

iiiitir que tenha sido dito necessariamente mais a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> apóstol<strong>os</strong> que esta-<br />

vam presentes do que a<strong>os</strong> sucessores <strong>de</strong>sse um Pedro, que ainda não existiam.<br />

Se foi dito a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> apóstol<strong>os</strong>, então <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r que tenha sido dito<br />

ti<strong>os</strong> sucessores <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> apóstol<strong>os</strong>, e não <strong>de</strong> um só.<br />

Responda-me, porém, quem pu<strong>de</strong>r: <strong>de</strong> quem há <strong>de</strong> se crer que tem as<br />

chaves também na Igreja Romana? É a própria Igreja que as tem ou o papa?<br />

Alenta para o que digo: quando é eleito o papa, já traz consigo as chaves oii<br />

iião? Se as traz, já era papa antes <strong>de</strong> ser eleito. Se não as traz, <strong>de</strong> quem as re-<br />

cebe? De um anjo do céu, por acaso? Não é da Igreja que as recebe? Da mes-<br />

iiia forma, quando morre o papa, para quem <strong>de</strong>ixa as chaves? Leva-as consi-<br />

go? Se não as leva, para quem as <strong>de</strong>ixa senão para a Igreja da qual as rece-<br />

hcu? Que, pois, po<strong>de</strong> ser dito contra essa experiência evi<strong>de</strong>ntissima, a melhor<br />

iiitérprete do Evangelho, <strong>de</strong> que as chaves não foram dadas nem a Pedro nem<br />

ti seu sucessor, mas tão-somente a Igreja, da qual o sacerdote as recebe como<br />

iiiinistro, para uso? On<strong>de</strong> está agora a opinião <strong>de</strong> que foi dito só a Pedro: "A<br />

ti darei as chaves"? Sim, on<strong>de</strong> está agora a afirmação <strong>de</strong> que as chaves foram<br />

clridas só a Igreja Romana? E necessário que as chaves estejam em qualquer<br />

Igicja, como disse acima.<br />

Ainda quero dizer uma coisa mais e usar o argumento do apóstolo Paulo<br />

c111 Rm 4, on<strong>de</strong> prova, a partir das circunstâncias do tempo e do fato, que<br />

Ahraão não foi justificado a partir da circuncisão, mas da fé. Para isso, Pau-<br />

lo iião usa nenhum outro argumento senão este: Abraão foi justo junto a<br />

I)ciis pela fé, antes da circuncisão. Se este seu argumento vale, como, aliás,<br />

v;ilc necessariamente, também é forç<strong>os</strong>o que valha o que agora passo a apre-<br />

hciitar da seguinte maneira: quando Pedro recebeu as chaves <strong>de</strong> Cristo - se<br />

iiisistes em afirmar que as recebeu só para sua pessoa -, ele ainda não era<br />

Iiispo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma (sim, a rigor, jamais foi bispo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> alguma, e<br />

iiiii apóstolo, instituidor <strong>de</strong> bisp<strong>os</strong>, maior que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> bisp<strong>os</strong>), mas um entre<br />

<strong>os</strong> :ip<strong>os</strong>tol<strong>os</strong>. Por isso, as chaves não lhe foram dadas com base no que, p<strong>os</strong>-<br />

icriormente, ele veio a ser, ou naquilo que mudou nele, seja em relação ao lu-<br />

gar oii ao oficio (assim como não se atribuiu a justiça a Abraão <strong>de</strong> acordo<br />

coiii n que quer que ele tenha se tornado após a fé), mas porque foi simples-<br />

iiieiiie iim apóstolo e, em especial, tinha a revelação do Pai. Por isso esse ver-<br />

slciilo <strong>de</strong> forma alguma se refere ao pontífice romano, mesmo que tivesse si-<br />

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do dito só a Pedro; quanto men<strong>os</strong> se refere a ele agora que provam<strong>os</strong> que não<br />

foi dito só a pessoa <strong>de</strong> Pedro!<br />

Acrescento ainda outro argumento semelhante, usado por Paulo em Rm<br />

4 e G13, quando diz: assim como a Abraão a justiça foi atribuída pela fé, da<br />

mesma forma ela será atribuída também a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que crêem. Por isso, tam-<br />

bém a estes serão dadas as chaves, assim como a Pedro, que tem a revelação<br />

do Pai e confessa a Cristo. Desta maneira, é necessário que as chaves sejam<br />

dadas a toda pessoa que, <strong>de</strong> modo semelhante, confessa e tem a revelação. E<br />

isso não po<strong>de</strong> ser aplicado a ninguém a não ser a Igreja, isto é, a comunhão<br />

d<strong>os</strong> sant<strong>os</strong>, visto que nenhum crente particular po<strong>de</strong> ter essa confissão <strong>de</strong> for-<br />

ma constante, certa e perseverante. Nem mesmo Pedro perseverou nela, por-<br />

que errou, não só em ocasião qualquer, mas logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter recebido as<br />

chaves. Mesmo assim, as chaves não lhe foram tiradas, porque não as rece-<br />

beu em seu próprio nome, mas em nome da Igreja. Se essas provas não são<br />

conclu<strong>de</strong>ntes, também não o são <strong>os</strong> argument<strong>os</strong> do apóstolo Paulo que cita-<br />

m<strong>os</strong>.<br />

Entretanto, para <strong>de</strong>rrubar totalmente a opinião contrária, vam<strong>os</strong> lá: se<br />

as palavras: "A ti darei as chaves", etc. se referem a Pedro e seu sucessor, ne-<br />

cessariamente <strong>de</strong>ve referir-se a eles também o que prece<strong>de</strong> e o que se segue, e<br />

ainda o que com isso se relaciona. Pois, no que diz respeito às sagradas pala-<br />

vras do Evangelho, não se <strong>de</strong>vem admitir aqueles que, em favor <strong>de</strong> sua inter-<br />

pretação arbitrária, torcem e puxam uma parte para cá, outra para lá. De<br />

acordo com o testemunho <strong>de</strong> Hiláriou, a compreensão <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>preendida<br />

da sucessão do sentido e das palavras, bem como das circunstâncias. Tendo<br />

em vista que Cristo não quis entregar as chaves antes que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> discípul<strong>os</strong><br />

f<strong>os</strong>sem inquirid<strong>os</strong> a respeito <strong>de</strong> sua confissão, e também não antes que tivesse<br />

recebido e aprovado a resp<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> Pedro, que falava a partir da revelação do<br />

Pai, claro está que só tem as chaves quem é como Pedro era naquela ocasião.<br />

Dai se segue o absurdo d<strong>os</strong> absurd<strong>os</strong>: um papa ou bispo mau não seria papa<br />

nem bispo porque não tem a fé, que é a condição para ser receptor das cha-<br />

ves. Depois se segue ainda, contra o texto e contra a opinião <strong>de</strong>les, que Pedro<br />

não recebeu as chaves nem ficou com elas. Pois Cristo diz que as portas do<br />

inferno não prevaleceriam nem contra a Igreja nem contra a fé que Pedro ti-<br />

nha naquela hora. Contra Pedro, porém, prevaleceu inclusive a empregada<br />

porteira>'. Se, pois, a opinião <strong>de</strong>les tivesse consistência, seguir-se-ia com fér-<br />

rea necessida<strong>de</strong> que ou <strong>os</strong> pontífices roman<strong>os</strong> e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais teriam que<br />

ser sant<strong>os</strong> e ter a revelação do Pai, e não ser carne e sangue, ou então não se-<br />

riam pontifices nem teriam as chaves. Não vejo o que se po<strong>de</strong>ria argumentar<br />

contra isso, visto que o texto tão claro ai está: as chaves são dadas somente a<br />

24 Bispo <strong>de</strong> Poitiers (ca. 315.367). conhecido como "Atanásio do Oci<strong>de</strong>nte", tornou-se bispo,<br />

em 350, em sua cida<strong>de</strong> natal. Destacou-se n<strong>os</strong> <strong>de</strong>bates antiarianas do Oci<strong>de</strong>nte. Entre suas<br />

priiicipais obras encontram<strong>os</strong> camentiri<strong>os</strong> ao Evangelho <strong>de</strong> Mateus e a<strong>os</strong> Salm<strong>os</strong>, além <strong>de</strong><br />

escrit<strong>os</strong> antiarian<strong>os</strong>. Lutero refere-se a seu comentário <strong>de</strong> Mateus.<br />

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