11.04.2013 Views

Obras selecionadas de lutero, os primordios, escritos de

Obras selecionadas de lutero, os primordios, escritos de

Obras selecionadas de lutero, os primordios, escritos de

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

concupiscência d<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> e vive <strong>de</strong> maneira justa neste mundo. Por isso, to-<br />

das as mortificações que a pessoa compungida se impõe - sejam elas vigílias,<br />

trabalh<strong>os</strong>, privações, estud<strong>os</strong>, orações, evitar o sexo e <strong>os</strong> prazeres - perten-<br />

cem a penitência interior como seus frut<strong>os</strong>, na medida em que promovem o<br />

espírito.<br />

2. Assim agiu o Senhor mesmo, e com ele tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus sant<strong>os</strong>. Assim,<br />

finalmente, ele or<strong>de</strong>nou: "Que a v<strong>os</strong>sa luz brilhe diante d<strong>os</strong> seres human<strong>os</strong>,<br />

para que vejam v<strong>os</strong>sas hoas obras." [Mt 5.16.1 Pois sem dúvida as boas obras<br />

são, exteriormente, frut<strong>os</strong> da penitência e do Espírito, já que o Espírito não<br />

faz nenhum som senão o da rola, isto é, o gemido do coração, a raiz das hoas<br />

obras.<br />

Contra essas minhas três teses certa pessoa, indignada e andando por ai<br />

sob a pele <strong>de</strong> um leão,', afirmou a<strong>os</strong> berr<strong>os</strong> que é um erro negar que a palavra<br />

"penitência" <strong>de</strong>va ser entendida como dizendo respeito também ao Sacra-<br />

mento da Penitência. Em primeiro lugar, não é meu propósito refutar todas<br />

as suas prop<strong>os</strong>ições, escritas <strong>de</strong> maneira tão estúpida e ignorante, que me é<br />

imp<strong>os</strong>sível crer que tenham sido compreendidas tanto por aquele sob cujo<br />

nome são publicadas3s quanto por aquele que as forjou'q, o que se evi<strong>de</strong>ncia<br />

com facilida<strong>de</strong> também a qualquer pessoa mediocremente inteligente e versa-<br />

da nas Escrituras. No entanto, para <strong>de</strong>monstrar também a eles sua própria ig-<br />

norância (se é que pu<strong>de</strong>rem captá-lo), vou elucidar essa primeira tese. Admi-<br />

to que sob o termo "penitência" se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r mesmo a penitência <strong>de</strong> Ju-<br />

das, mesmo uma penitência <strong>de</strong> Deus, mesmo uma penitência imaginária, e,<br />

como c<strong>os</strong>tumam dizer <strong>os</strong> lógic<strong>os</strong>, uma penitência tomada primeiramente se-<br />

gundo sua matéria e, em segundo lugar, conforme sua intenção, e, por isso,<br />

também o sacramento, isto é, a satisfação. Ou quem nega que até hoje alguns<br />

teólog<strong>os</strong> - e não pouc<strong>os</strong> -se permitiram corromper quase toda a Escritura<br />

com suas audazes distinções e anfibologias recentemente inventadas, a tal<br />

ponto que, em lugar <strong>de</strong> Paulo e Cristo, lem<strong>os</strong> colchas <strong>de</strong> retalh<strong>os</strong> <strong>de</strong> Paulo e<br />

<strong>de</strong> Cristo? Eu falei do significado autêntico e próprio do termo, do significa-<br />

do que Cristo quis dar a ele, ou que pelo men<strong>os</strong> João Batista quis. Este não ti-<br />

nha autorida<strong>de</strong> para instituir um sacramento; mesmo assim, veio pregando o<br />

batismo <strong>de</strong> penitência, dizendo: "Fazei penitência." [Mt 3.2.1 Esta palavra<br />

foi repetida por Cristo", e, assim, creio que é suficientemente compreensivel<br />

que ele não falou do sacramento. Contudo, [suponham<strong>os</strong>] que o sonho <strong>de</strong>les<br />

seja verda<strong>de</strong>iro e vejam<strong>os</strong> o que daí se segue.<br />

Cristo é, sem dúvida, um legislador divino, e sua doutrina, direito divi-<br />

no, isto é, um direito que nenhum po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> mudar ou do qual po<strong>de</strong> dispen-<br />

37 Lutera refere-se às teses <strong>de</strong> Conrado Wimpina, apresentadas em <strong>de</strong>bate pública na conven-<br />

$20 d<strong>os</strong> dominican<strong>os</strong>, em Frankfurt/O<strong>de</strong>r, em janeiro <strong>de</strong> 1518, p<strong>os</strong>teriormente publicadas<br />

sob o nome <strong>de</strong> João Tetzel.<br />

38 Joâo Tetzel.<br />

39 Conrado Wimpina.<br />

40 Cf. Mt 4.17.<br />

sar. Mas se a penitência ensinada por Cristo nessa passagem4' significa a Pe-<br />

nitência sacramental, isto é, a satisfação, e se a esta o papa po<strong>de</strong> mudar e, <strong>de</strong><br />

fato, muda conforme seu arbítrio, então ou o papa tem em seu po<strong>de</strong>r o direi-<br />

to divino, ou ele é o mais ímpio adversário <strong>de</strong> seu Deus, anulando o manda-<br />

mento <strong>de</strong> Deus. Se ousam afirmar isto aqueles que se gloriam <strong>de</strong> <strong>de</strong>bater para<br />

o louvor <strong>de</strong> Deus, e para a <strong>de</strong>fesa da fé católica, e para a honra da santa Sé<br />

Ap<strong>os</strong>tólica, e para a revelação da verda<strong>de</strong>, e para a supressão d<strong>os</strong> err<strong>os</strong>; por<br />

fim, se é assim que honram a Igreja e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a fé <strong>os</strong> que querem ser vist<strong>os</strong><br />

como inquisidores da <strong>de</strong>pravação herética (um título medonho, do qual se<br />

gabam enormemente - quase que eu disse "inutilmente"42) - o que, per-<br />

gunto, sobra para <strong>os</strong> mais louc<strong>os</strong> hereges, com que também eles p<strong>os</strong>sam blas-<br />

femar e incriminar o papa e a Sé Ap<strong>os</strong>tólica? A tais pessoas eu não chamaria<br />

publicamente <strong>de</strong> inquisidores, mas <strong>de</strong> enxertadores43 da <strong>de</strong>pravação herética.<br />

De tal espécie e tão pru<strong>de</strong>ntemente prop<strong>os</strong>tas são quase todas as teses que<br />

aquele sobremodo magnífico e inocente papel -não voluntariamente sujeito<br />

a vaida<strong>de</strong>u - difun<strong>de</strong> por toda parte. Se eu quisesse refutar todas, seria pre-<br />

ciso um gran<strong>de</strong> volume, e quase todo o ca<strong>os</strong> do livro IV das Sentenças45, jun-<br />

tamente com <strong>os</strong> que sobre ele escreveram, teria que ser revolvido. Mas tu, lei-<br />

tor, sê livre e franco, para po<strong>de</strong>res apren<strong>de</strong>r todas a partir <strong>de</strong>ssa uma [tese].<br />

Tese 4<br />

Por conseqüência, apenuperduru enquanto persiste o ódio <strong>de</strong> si mesmo<br />

(isto é a verda<strong>de</strong>ira penitência interior), ou seja, até a entrada no reino d<strong>os</strong><br />

céus.<br />

Afirmo e <strong>de</strong>monstro também esta tese:<br />

1. Ela se segue como consequência segura, qual corolário, do que foi di-<br />

to. Pois se toda a vida é uma penitência e uma cruz <strong>de</strong> Cristo, não só nas afli-<br />

ções voluntárias, mas também nas tentações por parte do diabo, do mundo e<br />

da carne, sim, também nas perseguições e n<strong>os</strong> sofriment<strong>os</strong>, como se evi<strong>de</strong>ncia<br />

a partir do que foi dito, <strong>de</strong> toda a Escritura, do exemplo do próprio santo d<strong>os</strong><br />

sant<strong>os</strong> e <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mártires, é certo que essa cruz dura até a morte e, assim,<br />

até a entrada no reino.<br />

2. Isso é evi<strong>de</strong>nte também em outr<strong>os</strong> sant<strong>os</strong>. Santo Ag<strong>os</strong>tinho4 fez com<br />

que lhe f<strong>os</strong>sem copiad<strong>os</strong> <strong>os</strong> sete salm<strong>os</strong> penitenciais e <strong>os</strong> orava e meditava<br />

41 Sc. Mt 4.17.<br />

42 Trata-se <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> palavras: immoniler/enormcmente - inonifer/inutilmente.<br />

43 Outro jogo <strong>de</strong> palavras: inquisiiores - insitores.<br />

44 Cf. Rm 8.20.<br />

45 De Pedro Lombardo (ci. p. 31, nota 2 e p. 81, nota 83).<br />

46 354-430, o mais importante pai da Igreja oci<strong>de</strong>ntal, nasceu em Tagaste, na Numidia, can-<br />

verteu-se em 387, falecendo como bispo <strong>de</strong> Hipona. Lutero não só ocupou-se com sua teo-<br />

logia, mas também com sua vida. Cf. Migne PL 32.63.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!