Download gratuito - Rafael Arrais @ web
Download gratuito - Rafael Arrais @ web
Download gratuito - Rafael Arrais @ web
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Placebo-Nocebo<br />
23.06.09<br />
Hipócrates, pai da medicina, dedicou sua vida ao estudo de formas racionais para<br />
o tratamento de doenças. Era avesso à superstição e as práticas de "barganha"<br />
com os deuses em busca de curas milagrosas. Dizia que "tudo acontece conforme<br />
a natureza", a cura "está ligada ao tempo e às vezes também às circunstâncias", e<br />
por isso mesmo nenhum médico poderia prometer cura, e sim tratamento: "Tuas<br />
forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas doenças".<br />
A medicina moderna, no entanto, parece ter a tendência a analisar o corpo como<br />
uma máquina. Fascinados pelos avanços da tecnologia, talvez tais médicos<br />
pensem que a maquinaria avançada possa fazer todo diagnóstico e tratamento<br />
quase que no "piloto automático", e que eles devem tão somente estar muito bem<br />
informados acerca das últimas descobertas das ciências médicas... Acupuntura?<br />
Homeopatia? Medicina-alternativa? Relação amorosa entre médico e paciente?<br />
Tudo isso se resume a pseudociências que não tem quase nenhum efeito no<br />
tratamento como um todo. Os poucos que admitem algum efeito, o colocam na<br />
conta do fenômeno placebo-nocebo.<br />
Em qualquer tratamento farmacológico, os efeitos terapêuticos relacionam-se a<br />
dois tipos de fatores: específicos (dose, duração, via de administração,<br />
farmacodinâmica, farmacocinética, interações medicamentosas, etc.) e não<br />
específicos (história e evolução natural da doença, regressão à média, aspectos<br />
sócio-ambientais, variabilidade inter e intra-individual, desejo de melhora,<br />
expectativas e crenças no tratamento, relação médico-paciente, características<br />
não-farmacológicas do medicamento, etc). O fenômeno placebo-nocebo faz parte<br />
destes últimos.<br />
Etimologicamente, o termo placebo se origina do latim placeo, placere, que<br />
significa agradar, enquanto o termo nocebo se origina do latim nocere, que<br />
significa infligir dano. De forma generalizada, entende-se efeito ou resposta<br />
placebo como a melhoria dos sintomas e/ou funções fisiológicas do organismo em<br />
resposta a fatores supostamente inespecíficos e aparentemente inertes (sugestão<br />
verbal ou visual, comprimidos inertes, injeção de soro fisiológico, cirurgia fictícia,<br />
etc.), sendo atribuível, comumente, ao simbolismo que o tratamento exerce na<br />
expectativa positiva do paciente.<br />
Para muitos céticos, basta taxar toda melhora ou cura efetiva conseguida através<br />
de tratamentos da medicina-alternativa como efeito placebo (como é mais<br />
conhecido o fenômeno) para se livrarem, como que num piscar de olhos, do<br />
problema de ter de explicar tais fenômenos fora do âmbito científico tradicional.<br />
Ora, mas não basta apenas classificá-los como placebo, é preciso compreender o<br />
que exatamente é o fenômeno em si. Do contrário, ficará parecendo, para quem<br />
tem a compreensão um pouco mais profunda, que os céticos estão apenas<br />
112