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No documentário "The mindscape of Alan Moore", o célebre escritor e magista<br />
inglês resumiu de forma contundente o que é magia (e não é necessário chamá-la<br />
de outro nome senão o original): "Magia é a arte (a arte original), a ciência de se<br />
manipular símbolos, palavras ou imagens para se alcançar estados alterados de<br />
consciência". Aí está resumido todo o real significado de magia. Não se trata de<br />
rituais que pretendem criar efeitos sobrenaturais na natureza, mas da cuidadosa<br />
manipulação da simbologia compreendida pela cognição humana no intuito de<br />
incitar na consciência um estado alterado, onde se pode compreender a realidade<br />
de uma forma mais direta, talvez se pudesse dizer: menos racional e mais<br />
espiritual ou sentimental. [1]<br />
A maioria dos alquimistas nunca pretendeu um dia realmente transformar,<br />
literalmente, chumbo em ouro. Porém, mentalmente e metaforicamente, essa é a<br />
mesma transformação que um budista talvez procure em suas meditações<br />
transcendentais, ou um católico fervoroso procure em sua comunhão com Deus,<br />
ou mesmo um xamã ou pajé em sua relação direta com a natureza e seus<br />
espíritos - transformar chumbo em ouro é transformar uma mente fechada em<br />
aberta, uma consciência restrita em abrangente, um conhecimento limitado em<br />
virtualmente infinito. Nesse e em muitos outros sentidos, a magia sempre foi o<br />
mecanismo pelo qual se realizou o religare, a re-ligação a Deus, ou simplesmente<br />
a religião.<br />
Entretanto, obviamente nem toda magia é boa, assim como nem todo pensamento<br />
ou estado de consciência é construtivo. Da mesma forma que pensamentos<br />
sombrios brotam nas mentes presas em sentimentos de culpa, ódio e vingança, a<br />
forma pela qual tais pensamentos são guiados através de manipulações da<br />
simbologia mágica é igualmente sombria, ou o que muitos conhecem<br />
popularmente como magia negra. Mas aqui, novamente, não é a cor que importa:<br />
é a intenção.<br />
Magia é essencialmente vontade. Não há como realizar boa magia sem ter o<br />
controle e a compreensão da própria vontade. A vontade, no entanto, nem sempre<br />
é construtiva ou visa a evolução espiritual dos seres. Por isso também se diz que<br />
o amor é a lei, o amor sob a vontade... Que isso seja levado sempre em conta a<br />
todo aspirante a magista.<br />
***<br />
[1] O termo "racional" se refere à razão destituída de qualquer espiritualidade, como é<br />
compreendida no meio acadêmico moderno. Acostumamos a interpretar esse termo como<br />
uma analogia a racionalidade e inteligência do ser humano, porém em sua origem, no<br />
logos grego, ele significava algo a mais (retirado da Wikipedia): "significava inicialmente a<br />
palavra escrita ou falada - o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito<br />
passou a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico<br />
traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um<br />
princípio cósmico da Ordem e da Beleza". Essa interpretação do logos como "uma razão<br />
conectada ao Cosmos" atinge seu ápice na filosofia estóica. Nesse sentido de logos, a<br />
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