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Pedras no caminho<br />
28.05.09<br />
"Crer para compreender e compreender para crer" - pode-se dizer que esse era<br />
mesmo o lema de Sto. Agostinho. Há muitos que irão discordar, dizer ser algo<br />
impossível, mas fato é que a fé racional, ou fé raciocinada, é não somente algo<br />
possível e plausível, como o grande objetivo de todo sábio - a harmonia do<br />
caminho entre aquilo que já compreendemos e aquilo que nos falta compreender,<br />
entre o que já sabemos e nos falta saber, entre nossa doce convicção e o amargo<br />
desconhecido.<br />
Dirão os que discordam, enfurecidos em si próprios: "mas e qual homem<br />
conseguiu tal objetivo?" - Nenhum! Nenhum conseguiu e talvez nenhum consiga,<br />
pelo menos no estágio em que é conhecido por "homem". Mas da mesma forma a<br />
bactéria não se tornou peixe, e depois réptil, e depois mamífero, e depois homem,<br />
da noite para o dia. O caminho! É isso o que importa... Importa chegar para depois<br />
partir, e partir com o horizonte em nossa mente. Importa amar a possibilidade de<br />
caminhar sempre à frente, até o infinito, ao invés de resmungar e dizer "que todos<br />
os que pensam em tais mistérios são tolos". Ora, os maiores tolos são exatamente<br />
aqueles que crêem que mistérios não existem, que são falsos de antemão. Como<br />
se o seu próprio pensamento fosse o mero agitar aleatório de partículas no<br />
cérebro, como se as leis naturais tenham permanecido simétricas e precisas por<br />
bilhões de anos apenas porque "é assim que as coisas são".<br />
Entretanto, é preciso controlar a imaginação, e não permitir que gere por si mesma<br />
as imagens mentais, que explique o mundo sem interagir com o mundo. Não é<br />
somente meditando no topo da colina que o sábio se fez sábio, mas sim<br />
conhecendo a si próprio, a seus próprios pensamentos, para que ao lidar com o<br />
mundo não fosse contaminado pelo dogma alheio. O dogma é como um rio<br />
represado: enquanto não arrebentarmos a represa ele pode permanecer estático,<br />
satisfeito em sua própria ignorância, acomodado na mais falsa das suposições - a<br />
de que já descobriu todas as verdades do mundo... Ora, e o dogma existe tanto<br />
para o crente quanto para o descrente. A paralisia do pensamento não é<br />
exclusividade daqueles que crêem sem raciocinar, pois há também aqueles que<br />
descrêem sem raciocinar - e igualmente, ambos estão paralisados.<br />
Mas o sábio atira a pedra e ela rompe as represas: não é o sábio quem muda o<br />
ignorante, mas o ignorante que muda a si próprio, entusiasmado pela doce leveza<br />
da sabedoria quando essa lhe aparece sem os diversos véus e as diversas<br />
máscaras em que as doutrinas dogmáticas lhe disfarçaram! E mesmo o próprio<br />
sábio percebe o perigo de cair nas viagens intermináveis da imaginação que gera<br />
a si mesma, alheia ao mundo; ou da negação a priori do pseudo-cético que, por<br />
medo do que lhe é desconhecido, prefere negar a tudo que lhe incomode as<br />
idéias. Por isso também o sábio segue a natureza: quando está aprendendo a<br />
nadar, permanece no raso da praia, e ainda não se arrisca no oceano profundo; e<br />
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