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egião onde Ardi foi encontrada comprovaram que, em sua época, a mais de 4<br />
milhões de anos, aquela região da Etiópia era cercada por densas florestas! Isso<br />
significa que a ciência precisa arranjar uma nova e arrojada explicação para o<br />
motivo dos humanos arcaicos teremos evoluído para a bipedalidade e os caninos<br />
menores, ainda milhares de anos antes de desenvolverem a cognição peculiar da<br />
mente do homo sapiens.<br />
Uma das hipóteses que mais me agradaram foi a descrita no documentário da<br />
Discovery Channel. Segundo essa teoria, o bipedalismo e a redução dos dentes<br />
caninos foi acompanhada das primeiras convenções sociais entre os caçadorescoletores.<br />
As fêmeas passaram a preferir machos menos agressivos, e passaram<br />
também a trocar sexo por comida, além de se comprometerem por mais tempo<br />
com a "educação" dos filhos. Isso favoreceu nos machos, e conseqüentemente<br />
em toda a espécie, o bipedalismo: assim poderiam se deslocar por distâncias<br />
maiores, e carregar oferendas (pequenos pedaços de comida, sejam frutos ou<br />
carne de animais abatidos) por sexo. A redução dos caninos talvez indicasse que<br />
os machos não precisavam mais competir agressivamente pelas fêmeas, e que a<br />
troca de carinho (sim, talvez pudéssemos usar esta palavra) era mais<br />
reconfortante e necessária, então, do que as lutas sangrentas pelo direito de<br />
copular com as fêmeas.<br />
Será que isso faz sentido? Será que nossas convenções sociais, nossa<br />
organização em famílias de indivíduos, têm uma origem ancestral, bem mais<br />
antiga até do que nossa cognição avançada?<br />
Hoje se sabe que o altruísmo é uma forma de evolução da espécie. Grupos de<br />
indivíduos capazes de colaborar entre si têm maiores chances de sobrevivência<br />
do que indivíduos solitários que caçam sozinhos. Sim, eles têm maior reserva de<br />
alimento, mas muito menos proteção contra outros predadores, e contra a própria<br />
solidão da vida selvagem... Caso possamos fazer uma associação entre o<br />
altruísmo e o que o homem moderno chama de amor, talvez o estudo científico da<br />
evolução humana nos traga lições muito mais profundas do que a mera<br />
compreensão do mecanismo pelo qual nossos corpos evoluíram. Talvez<br />
compreendamos que não foram apenas dentes que deixaram de ser pontiagudos,<br />
ou mãos que passaram a ser capazes de produzir ferramentas especializadas,<br />
mas antes a evolução social que potencializou nossas chances de sobrevivência,<br />
e nos tornou a espécie dominante deste planeta.<br />
Talvez, as oferendas ancestrais de humanos arcaicos em troca de sexo, dando<br />
origem aos rudimentos do que hoje chamamos de família, tenha sido o momentochave<br />
que possibilitou toda a evolução seguinte. Afinal, a partir do momento que<br />
deixamos de rastejar junto ao solo, buscando comida e sobrevivência, e passamos<br />
a andar eretos, e a enxergar as estrelas no céu, e os olhos e a face de nossos<br />
semelhantes, possivelmente tenhamos passado a desenvolver o rudimento da<br />
consciência de nós mesmos, e do que afinal viemos fazer nesta terra.<br />
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