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"escolha" de serem altruístas ou heróis. Da mesma forma, terroristas e assassinos<br />
também não teriam "culpa" alguma por seus atos: a "culpa" fica por conta das<br />
interações de partículas em seus cérebros.<br />
Nesse sentido, o determinismo materialista não seria muito distante do<br />
determinismo divino. Não importa se são reações químicas iniciadas pelo baile de<br />
partículas cerebrais, ou se é a "mão de deus" em ação: em ambos os casos tudo o<br />
que realizamos, pensamos e sentimos não é fruto de nossa vontade ou escolha,<br />
mas fruto de um determinismo onipresente em todo o espaço-tempo. Nesse<br />
sentido, a mera discussão filosófica sobre o assunto (ou qualquer outro assunto)<br />
se torna obsoleta de antemão, pois não somos nós que escolhemos discutir, e sim<br />
as partículas ou a "mão de deus"... Não sou eu quem está digitando este texto e<br />
nem você que o está lendo, somos meros fantoches do determinismo! E, não sei<br />
quanto a você, mas pelo bem da filosofia (e de tudo o mais) acho mais saudável<br />
considerarmos outras hipóteses... Até mesmo porque o materialismo é apenas<br />
uma teoria não comprovada, e como já devemos ter percebido a essa altura, o<br />
conhecimento do homem acerca do processo de consciência ainda está<br />
engatinhando.<br />
Uma outra teoria para o problema foi postulada pelo anestesista Stuart Hameroff e<br />
pelo matemático Roger Penrose, e se chama teoria dos processos quânticos. Ela<br />
se baseia no princípio de que no mundo microscópico das partículas isoladas, o<br />
princípio da incerteza e a mecânica quântica fazem com que diversas "escolhas"<br />
estejam super-impostas, e não podemos saber em dado momento, com<br />
antecedência, qual delas será tomada - mais ou menos como se qualquer escolha<br />
fosse tão aleatória quanto os processos quânticos no nível subatômico. Eles<br />
propõem que a consciência nasce de estruturas minúsculas semelhantes a tubos,<br />
feitas de proteínas, que existem em todas as células do corpo, incluindo as do<br />
cérebro. Segundo a chamada teoria da Redução Objetiva Orquestrada (Orch OR,<br />
em inglês) - que deriva da primeira - a qualquer momento podem ocorrer vários<br />
estados quânticos e possibilidade nas células cerebrais, e quando uma decisão é<br />
tomada, ela é o resultado do colapso de um estado, que então alcança a<br />
consciência. Em suma, segundo Hameroff e Pensore, pensamentos e escolhas<br />
não são pré-determinadas, muito embora nosso controle sobre elas continue um<br />
tanto precário. Não diríamos, usando o exemplo do primeiro parágrafo, que Carlos<br />
"escolheu" salvar a criança porque era altruísta, mas sim porque de alguma forma,<br />
sua "tendência para o altruísmo" afetou os estados quânticos de suas células<br />
cerebrais, tornando a "possibilidade da escolha altruísta" maior, embora fosse<br />
ainda apenas uma probabilidade. Morre o determinismo, nasce o semi-aleatório,<br />
mas não saímos muito do lugar...<br />
Sir John Eccles, neurologista vencedor do prêmio Nobel de medicina de 1963, foi<br />
talvez o mais ilustre cientista a argumentar em favor da separação entre a mente,<br />
a consciência (no caso, um processo da mente) e o cérebro. Ele dizia:<br />
"Nós, como pessoas que experienciam, não aceitamos tudo o que nos é fornecido<br />
por nosso instrumento, a máquina neuronal de nosso sistema sensorial e o<br />
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