Até hoje não se sabe onde está a consciência, nem do que é formada. Como falei com maiores detalhes em outros artigos, percebemos a atividade elétrica no cérebro, o baile eletromagnético do pensamento, como quem observa a eletricidade passando pelos fios em postes nas ruas (os "fios que falam", segundo o Chefe Seattle), mas não fazemos a menor idéia, dentro da ciência, da origem do pensamento, da "usina elétrica" dos fios do cérebro... Enquanto não soubermos onde está a consciência, ou o que exatamente a inicia, não teremos condições de afirmar o que, em nós, que faz as escolhas, que tecla as teclas do cérebro, que opera a máquina. O sistema homem-máquina torna possível que o cérebro envie "sinais neurais" que podem ser decodificados para comandar ferramentas e máquinas. No ano 2000, uma equipe coordenada pelo brasileiro Miguel Nicolelis, então na Universidade de Duke, implantou eletrodos no córtex cerebral de uma fêmea de macaco-da-noite, chamada Belle: um computador decodificou a atividade neural da macaquinha e usou os sinais para mover o braço de um robô. Esse tipo de experiência é um grande feito científico, pois tais pesquisas podem resultar em melhorias extraordinárias na qualidade de vida de pessoas paralisadas ou amputadas... Mas não significa que devemos nos deixar cegar pelo brilho reluzente do avanço científico. Nenhum braço robótico jamais se moverá porque quer, mas sim porque decodificou e computou informação neural, porque foi comandado a se mover. Da mesma forma, resta saber se é o cérebro quem nos comanda, se tudo o que somos se resume a reações de partículas no cérebro, ou se ele mesmo é ainda mera ferramenta, uma grandiosa máquina que nossa mente comanda todos os dias de nossa vida. Quem poderá dizer? Talvez a computação quântica rompa a barreira do "0" e "1", e permita que os computadores computem informações de modo tão avassalador que sua imitação do ser humano vença finalmente o teste de Turing. Mas ainda assim, será mera imitação. Nem mesmo Turing se iludiu ao ponto de imaginar que um dia uma máquina de computar seria o mesmo que uma máquina de interpretar, ou em outras palavras, que uma máquina fosse capaz de tomar decisões morais. E foram talvez por questões de "falsa moralidade" que um dos maiores matemáticos do século passado tenha se suicidado. Como homossexual declarado, no início dos anos 50 foi humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores, julgado por "vícios impróprios" e condenado a terapias à base de estrogênio, um hormônio feminino o que, de fato, equivalia à castração química e que teve o humilhante efeito secundário de lhe fazer crescer seios. Deprimido, em 7 de Junho de 1954, com apenas 41 anos, faleceu após ter comido uma maçã envenenada. Uma máquina não se sentiria humilhada, não se preocuparia com questões subjetivas de sexualidade, mas igualmente não seria capaz de alcançar a genialidade de Alan Turing, o homem ao qual devemos a invenção teórica que mais auxilia a evolução tecnológica da humanidade - o computador nasceu da mente de Turing. É pena que sua genialidade não tenha sido capaz de vencer a ignorância e o preconceito do ser humano. 26
*** Os três primeiros parágrafos deste artigo são quase que transcrições diretas de trechos do artigo "Pensamento eletrônico", de Yvonne Ralley, professora-assistente do departamento de filosofia da Faculdade Felican, em Lodi, Nova Jersey, e publicado na edição especial "Desevendando o cérebro" da Scientific American Brasil (editora Duetto, #19, Maio 2009). 27
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