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Manual de nós mesmos<br />
20.04.09 (da série Reflexões sobre a consciência)<br />
Os adeptos da meditação budista usam técnicas de "observação" da mente<br />
desenvolvidas há mais de 2.500 anos pelo filósofo indiano Siddharta Gautama,<br />
mais conhecido como Buda. O objetivo dessas técnicas é dobrar a mente sobre si<br />
mesma e observá-la em ação. De acordo com os budistas, tal introspecção pode<br />
oferecer visões sobre a natureza da mente, da realidade e do mistério da<br />
consciência. Tais declarações tradicionalmente não seduzem os cientistas e a<br />
insistência deles por provas objetivas. Contudo, monges budistas bastante<br />
treinados vêm se encontrando com cientistas para investigar a natureza da<br />
consciência.<br />
Segundo o budismo e outras vertentes da sabedoria oriental, nossa mente está<br />
tão absorta pelo passado e suas memórias, e o futuro e suas expectativas, que<br />
raramente conseguimos viver o momento presente: o que, ironicamente, é o único<br />
momento que nós temos para viver... Uma das formas de compreendermos como<br />
"viver no presente" envolve a compreensão correta de que tudo no mundo é o<br />
resultado de uma grande confluência de causas e condições, e todas as coisas do<br />
mundo desaparecem quando estas causas e condições deixam de existir - o<br />
chover, o soprar dos ventos, o vicejar das plantas, o amadurecer e fenecer das<br />
folhas são fenômenos relacionados às causas e condições; uma criança nasce,<br />
tendo por condições os pais; seu corpo é nutrido de alimentos, sua mente educase<br />
com os ensinamentos e experiências - Assim, o corpo e a mente se relacionam<br />
às condições e variam quando elas se alteram. Assim como uma rede é<br />
confeccionada com uma série de nós, tudo neste mundo possui também uma<br />
série de vínculos. Ação gera reação: se alguém pensar que a malha de uma rede<br />
é coisa independente ou isolada, estará equivocado.<br />
Quando "esvaziamos" a mente de suas memórias recorrentes do passado<br />
(incluindo as frustrações), assim como de seus desejos e expectativas ante o<br />
futuro (incluindo os medos), podemos então dobrar a mente sobre si mesma e, de<br />
certa forma, visualizarmos em primeira mão um pouco do que somos realmente: o<br />
"eu profundo" que opera nos bastidores do "teatro mental", que organiza a<br />
inconsciência e que realmente faz as escolhas que meio segundo depois chegam<br />
a nossa consciência (e que acreditamos que decidimos de forma inteiramente<br />
consciente). Há muitos no ocidente que não compreendem as vantagens de se<br />
"perder tanto tempo" parado, meditando, "pensando em nada", quando afinal há<br />
tantos problemas e desafios a serem resolvidos no mundo... Um budista diria que<br />
há "ação na inação": da mesma forma que um adolescente pode estar ao mesmo<br />
tempo vendo TV, ouvindo música e conversando com amigos em inúmeros<br />
países, sem no entanto estar realmente focado em alguma coisa mais profunda<br />
(como, por exemplo, o sentido de sua vida ser bombardeada por tantas<br />
informações irrelevantes ou, talvez, o sentido de se ter o desejo de operar<br />
exatamente como outros adolescentes em novelas e comerciais de TV), um<br />
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