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existe, mas crer que essa matéria se resume aquela matéria já detectada, do tipo<br />
que interage com a luz (fótons) - assim como crer que todos os mecanismos por<br />
detrás da formação e funcionamento dessa matéria já foram desvendados pela<br />
ciência (por exemplo: classificar de absurda por antemão uma teoria que afirme<br />
que "a alma" pode ser formada de "matéria desconhecida"). Se Bohr houvesse se<br />
limitado pelo que "já se sabia" sobre a matéria, teria sido materialista, teria<br />
ignorado o I Ching possivelmente, e seria um completo desconhecido na história<br />
da ciência.<br />
Porém, não foi através do I Ching que Bohr compôs suas equações. O I Ching, a<br />
exemplo do que falamos sobre o ceticismo em si anteriormente, foi uma<br />
ferramenta e não um meio em si próprio: nesse caso, a espiritualidade e<br />
imaginação de Bohr o auxiliaram em suas descobertas científicas - porém, o que<br />
ele alcançou dentro da ciência, foi somente através do método científico. O<br />
problema está, obviamente, em se misturar os conceitos e os métodos.<br />
Ultimamente a física quântica tem sido vítima dessa confusão. São livros,<br />
documentários e outras mídias que afirmam que "somente a consciência causa o<br />
colapso de onda, então a realidade física só existe porque a observamos", e que<br />
não param por aí, dizem mais adiante que "se podemos causar o colapso de onda,<br />
podemos moldar nossa própria realidade". Em suma, uma extrapolação não<br />
apenas da ciência, mas também de diversas noções espiritualistas, extrapolação<br />
esta que afirma que em última instância "as coisas a nossa volta ocorrem porque<br />
pensamos nelas, ou as desejamos."<br />
Segundo a teoria da Redução Objetiva Orquestrada, dos cientistas Stuart<br />
Hammeroff e Roger Penrose, a consciência é fruto de processos quânticos no<br />
cérebro, e nossas decisões nada mais são do que "colapsos de onda de estados<br />
cerebrais" - essa teoria de que pensamentos e decisões podem ser explicados<br />
pela Mecânica Quântica é não apenas de uma lógica elegante, como também<br />
resolve o problema da ausência de livre-arbítrio nas teorias que afirmam que<br />
absolutamente tudo, mesmo nossas decisões morais e sentimentos, são fruto de<br />
reações químicas do cérebro, que são por si mesmas já determinadas.<br />
Muitos cientistas e espiritualistas viram essa teoria como uma forma de ligação<br />
entre o que diz a ciência e o que diz a espiritualidade. Amit Goswami é um físico<br />
polêmico que, à partir dessa teoria, chegou a inúmeras conclusões das quais<br />
infelizmente uma análise cética nos traz muitos poucos resultados, ou mesmo<br />
nenhum, que possam ser considerados à luz da ciência. Mas pelo menos<br />
Goswami partiu de uma teoria científica, infelizmente não precisamos nem de<br />
muito ceticismo para perceber que muitas outras teorias pseudo-científicas acerca<br />
da Mecânica Quântica e da consciência não passam de uma espécie de<br />
mistificação da espiritualidade, também sem nada de realmente científico.<br />
Analisemos a teoria mais comum em muitos desses livros, que diz que "querendo<br />
muito podemos modificar a realidade a nossa volta": imaginemos duas ruas<br />
transversais, um cruzamento com um sinal para cada uma, e um motorista em<br />
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