Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras
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Cem anos <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>: Uma apresentação<br />
<strong>de</strong>sses autores e sempre queriam mais. No caso <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>, esse público<br />
fiel e entusiasta avidamente o manteve durante muito tempo como nosso<br />
mais popular romancista, procurando seguir seus últimos lançamentos, suas<br />
empolgantes histórias <strong>de</strong> personagens fascinantes em situações que dava gosto<br />
acompanhar.<br />
Para alguns estudiosos (como o francês Pierre Rivas), numa época em que<br />
as vanguardas do Mo<strong>de</strong>rnismo paulista enfrentavam obstáculos para fluir em<br />
seus caminhos para o público, foi justamente essa popularida<strong>de</strong> fácil <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong><br />
<strong>Amado</strong> a responsável por um primeiro movimento <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> quase ressentida<br />
para com o escritor. Esse ressentimento meio invejoso se somaria aos<br />
equívocos gerados pelas escolhas político-partidárias do autor baiano : num<br />
primeiro momento, quando foi membro do Partido Comunista, era visto com<br />
<strong>de</strong>sconfiança pelos setores conservadores; em seguida, ao se afastar do partido<br />
nos anos 1950, por passar a ser consi<strong>de</strong>rado quase um traidor e apóstata por<br />
vários <strong>de</strong> seus antigos companheiros.<br />
Nem sempre, porém, vinham expressas com clareza essas razões para o<br />
negativismo com que alguns setores encaravam sua obra. Talvez em alguns<br />
casos nem mesmo fossem conscientes. Em outros, podiam ser mascaradas<br />
com facilida<strong>de</strong> por argumentos aparentemente mais objetivos. Entre esses,<br />
alguns dos mais fortes se alinharam no terreno da linguagem. Sem dúvida, a<br />
obra <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> se afastava dos padrões bem-falantes da gramática portuguesa<br />
e <strong>de</strong>safiavam os mo<strong>de</strong>los da língua castiça. (E aqui vale a pena lembrar<br />
que etimologicamente o adjetivo castiço tem a ver com casta, uma classe social<br />
fechada, a que se pertence por nascença e da qual não se consegue sair. Não<br />
é <strong>de</strong> admirar que a linguagem do romancista baiano rejeitasse qualquer uso<br />
cultural consagrado nesse campo.)<br />
Usando termos populares, construções gramaticais do falar cotidiano, empregando<br />
palavrões, dando foros literário a um léxico africano ou híbrido,<br />
<strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> realizou na prática e em larga escala os i<strong>de</strong>ais que o Mo<strong>de</strong>rnismo<br />
brasileiro tanto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra, no sentido <strong>de</strong> valorizar uma linguagem nacional.<br />
Mas essa ruptura com os mol<strong>de</strong>s beletristas não se fez sem encontrar resistências<br />
<strong>de</strong>ntro da universida<strong>de</strong> e nos setores mais diretamente ligados a uma<br />
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