15.04.2013 Views

Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Gilberto Freyre em contexto: algumas reflexões<br />

Freyre se <strong>de</strong>screvia como um anti-anti-comunista e, em certo momento, chegou<br />

mesmo a louvar a “Rússia Soviética” pelas homenagens que o país prestava<br />

a brasileiros <strong>de</strong> “excepcional talento, inteligência ou arte”, como o gran<strong>de</strong><br />

“pensador” Luiz Carlos Prestes e o excepcional escritor <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>. Isso é<br />

bem diferente, argumentava ele, do que prestar homenagem a “qualquer subintelectual<br />

ou subcomunista que possa sair do Brasil, tendo como sua única<br />

virtu<strong>de</strong> a ortodoxia <strong>de</strong> um sectário”. 12<br />

Já nos anos 1930, Freyre elogiava escritores como <strong>Amado</strong>, que ofereciam<br />

“testemunhos da vida danificada e dolorosa” da população oprimida. Freyre<br />

chegaria mesmo a afirmar, uma década mais tar<strong>de</strong>, que um “intelectual<br />

puro”, indiferente aos “conflitos <strong>de</strong> seu tempo e <strong>de</strong> seu povo”, para ele “não<br />

valia um caracol”. E os intelectuais da Bahia, que seguiam uma longa e honrosa<br />

tradição <strong>de</strong> combate do lado dos oprimidos, tinham em <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong><br />

um <strong>de</strong> seus mais <strong>de</strong>stacados representantes, disse Freyre. 13 Ele era como um<br />

facho <strong>de</strong> luz em luta por “um Brasil melhor e o mundo livre da opressão”.<br />

A bem da verda<strong>de</strong>, Freyre afirma que tanto <strong>Amado</strong> como José Lins do Rêgo<br />

eram gran<strong>de</strong>s por não se ocuparem em escrever ficção pura. “Suas obras, suas<br />

melhores obras são híbridas. Elas trazem a impureza em seu sangue”. 14<br />

Por seu turno, <strong>Amado</strong> não era avaro em palavras <strong>de</strong> louvor pelas conquistas<br />

<strong>de</strong> Freyre. O escritor baiano afirma ter testemunhado o irromper <strong>de</strong> uma<br />

“revolução” quando da publicação do primeiro livro <strong>de</strong> Freyre, Casa Gran<strong>de</strong><br />

& Senzala. Embora nunca tenha sido “um dos cortesãos <strong>de</strong> Freyre” 15 – como<br />

muitos foram –, <strong>Amado</strong> admitiu que o primeiro livro <strong>de</strong> Freyre, como uma<br />

“avalancha”, “uma explosão”, “o clarão <strong>de</strong> um raio”, transformara “a literatura”<br />

e “a vida cultural” do Brasil. 16<br />

O próprio <strong>Amado</strong> foi uma das pessoas sobre as quais o trabalho <strong>de</strong> Freyre<br />

teve impacto. Como resultado, as críticas feitas a Freyre pela sua alegada visão<br />

12 G. Freyre, “Um escritor brasileiro na Rússia”, 1952.<br />

13 G. Freyre, Bahia e baianos, pp. 41-43.<br />

14 Gilberto Freyre, Dois livros, 1944.<br />

15 J. <strong>Amado</strong>, 1992, p. 45.<br />

16 J. <strong>Amado</strong>, 1962.<br />

161

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!