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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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<strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> e a invenção do Brasil<br />

Não há romancista brasileiro com personagens tão populares e conhecidos<br />

quanto os <strong>de</strong>le. Nenhum outro é responsável, por exemplo, por toda uma<br />

geração, ou algumas gerações, <strong>de</strong> meninas chamadas Gabriela. A observação<br />

<strong>de</strong> que isso se dá por causa das inúmeras adaptações <strong>de</strong> suas histórias para<br />

o cinema ou televisão meramente o confirma e reforça, uma coisa alimenta<br />

outra – muitos outros autores que são e foram adaptados sem as mesmas consequências.<br />

Ao nos i<strong>de</strong>ntificarmos com o mundo <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>, ao vermos<br />

nós mesmos e nossos vizinhos em seus personagens, nós sabemos mais <strong>de</strong> nós<br />

mesmos, nós coletivamente nos inventamos – e ele tem sua parte nisso.<br />

Como seria <strong>de</strong> esperar, <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> não só foi um dos gran<strong>de</strong>s inventores<br />

do Brasil para os brasileiros, mas também para os que nos viam <strong>de</strong> fora. E aí<br />

cabe ressaltar mais uma vez o papel <strong>de</strong>sempenhado por ele, como, historicamente,<br />

o mais visível, notado, lido e comentado, entre todos os escritores <strong>de</strong><br />

nossa língua, que hoje tem no Brasil a sua maior e mais conhecida plataforma,<br />

a partir da qual, seguramente, sua importância se firmará, em termos bem<br />

mais amplos dos que ainda vigoram hoje.<br />

No panorama geral da lusofonia, há que ser também celebrado o papel dos<br />

inventores, sendo <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> um dos principais. Como se sabe, no tempo em<br />

que, ele mesmo governado por uma ditadura, Portugal mantinha sob mão <strong>de</strong><br />

ferro suas duas principais colônias na África, Angola e Moçambique, a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão era inexistente e livros eram rotineiramente proibidos, banidos<br />

ou <strong>de</strong>struídos. Contudo, a língua do colonizador não funcionava apenas em seu<br />

benefício. Servia <strong>de</strong> língua comum para os movimentos <strong>de</strong> libertação, aglutinava<br />

interesses que, <strong>de</strong> outra forma, podiam não aproximar-se, construía pontes.<br />

As colônias lusófonas da África não tinham para on<strong>de</strong> olhar senão para o<br />

Brasil, já <strong>de</strong> muito libertado do domínio português, mas falando maciçamente<br />

a mesma língua. Não era somente a língua do colonizador, era a língua <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> mestiços, negros e brancos, <strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> pertencer somente<br />

ao colonizador, agora era <strong>de</strong> todos, num país vastíssimo e hospitaleiro,<br />

on<strong>de</strong> nem o clima era estranho. Falar essa língua não era mais curvar-se ante<br />

o colonizador, era apropriar-se soberanamente <strong>de</strong> um instrumento, passar a<br />

ver-se também como seu dono.<br />

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